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Bromance: quando a amizade entre eles parece outra coisa

Não tem nada a ver com o recente filme de Aluísio Abranches. Bromance é aquela amizade entre dois homens muito chegados, popularmente chamados de brothers, que muitas vezes pode ser confundida com um romance.

Ainda que vários momentos lembrem um casamento ou namoro homossexual, o sexo não existe entre esses dois caras e o que se vê é muito mais uma relação fraternal do que qualquer outra coisa.

No cinema, depois de Eu Te Amo, Cara!, o termo vem se popularizando e hoje é usado para definir tanto relações como a do filme de John Hamburg estrelado por Paul Rudd e Jason Segel, como aquelas em que dois amigos tão chegados quanto resolvem usar o preconceito e o comentário geral para tirar proveito da situação, como no título australiano Estranha Amizade.

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Mas os bromances são mais antigos do que isso. Em 1968 chegava aos cinemas a adaptação de uma bem sucedida peça da Broadway sobre dois amigos que são obrigados a conviver sob o mesmo teto. Um Estranho Casal, escrito por Neil Simon e adaptado por ele, contava a história do divertido “casal” Oscar e Felix, vividos por Walter Matthau e Jack Lemmon, respectivamente.

Um Estranho Casal

Quando Felix é mandado embora de casa pela esposa e tenta, sem sucesso, acabar com sua vida, os amigos do pôquer resolvem fazer alguma coisa por ele. Como Oscar é o mais chegado e mora sozinho, resolve convidar o desiludido para morar com ele.

Como acontece com qualquer casal que resolva morar junto, as diferenças entre os dois não param de crescer. O que só incomodava um pouquinho, se torna intragável e o que parecia bom no início, vira um grande problema, mas não deixa de ser engraçado para aqueles que vêem tudo do lado de fora da relação.

Sem dúvida, são os diálogos os pontos mais altos do filme. Neil Simon, com seu texto ágil, sabe como trabalhar o humor sem ser cansativo e nem repetitivo. Junto com o texto vêm as atuações. Lemmon e Matthau desenvolvem seus exagerados personagens com tanta naturalidade que fica difícil não acreditar no que vemos e mais, não se identificar com os dois e torcer para que tudo se acerte.

Além do trabalho individual, a química entre os dois atores, aqui em seu segundo trabalho juntos, também é impressionante e funciona tão bem que a parceria voltou a se repetir outras vezes nas telonas.

Com a dupla de atores e um texto afinado, o possível incômodo causado pela “cara de peça filmada” praticamente desaparece e todas as atenções ficam mesmo voltadas para o desenvolvimento da divertida relação entre Felix e Oscar, suas mudanças naturais e as muitas cobranças de ambas as partes.

Mesmo que seja um filme da década de 60, o assunto não enfraquece com o tempo e promete divertir espectadores de várias idades.

(The Odd Couple, EUA, 1968)
Comédia
Direção: Gene Saks
Elenco: Jack Lemmon, Walter Matthau, John Fiedler, Herb Edelman, David Sheiner, Monica Evans, Carole Shelley
Roteiro: Neil Simon
Duração: 105 min.
Minha nota: 8/10

Um Grande Momento

“Eu tenho que conviver com a Mary Poppins todos os dias”.

 

Estranha Amizade

Enquanto alguns amigos, como Felix e Oscar, passam por situações que lembram muito um casamento homossexual, outros inventam que aquilo que vivem é realmente um casamento para obter algumas vantagens pessoais.

Ralph e Vince são moradores de uma pequena cidade da Austrália, onde todos se conhecem e acabam fingindo que tem um relacionamento gay para conseguir um benefício do governo e assim pagar menos imposto de renda.

Ainda que não tenham nenhum trejeito, os dois se esforçam para convencer as autoridades e acabam procurando ajuda do afeminado cabelereiro do lugar, além de fazer uma pesquisa de campo pelas boites de Sidney.

Só por ter o antigo Crocodilo Dundee na pele de um dos “maridos”, o filme desperta curiosidade. O bom roteiro consegue resistir a quase todas as fáceis piadas preconceituosas e também ajuda bastante.

Claro que algumas passagens são forçadas e outras gratuitas, mas a trama se desenvolve de maneira tão eficiente, tão interessante, que fica difícil resistir. Muito vem da ingenuidade de situações, como quando os amigos bombeiros começam a desconfiar da proximidade dos dois camaradas ou quando os dois protagonistas divagam sobre a vida gay que teriam. Hoje em dia é tudo tão escrachado e apelativo que sutilezas assim fazem a diferença.

Mesmo com seus defeitos, no final das contas, o programa vale a pena. E as boas risadas vêm acompanhadas de uma mensagem bonitinha sobre amizade e tolerância.

(Strange Bedfellows, AUS, 2004)
Comédia
Direção: Dean Murphy
Elenco: Michael Caton, Paul Hogan, Alan Cassell, Paula Duncan, Roy Billin, Michael Carman, Pete Postlethwaite
Roteiro: Stewart Faichney, Dean Murphy
Duração: 100 min.
Minha nota: 7/10

Um Grande Momento

Burt Reynolds.

Eu os Declaro Marido e… Larry

Misturando as mudanças do dia-a-dia de Um Estranho Casal e a conveniência (e outros detalhes) de Estranha Amizade a uma quantidade significativa de grosseria e humor fácil chegamos a Eu os Declaro Marido e… Larry.

Depois da morte da esposa, o bombeiro Larry precisa regularizar sua situação junto ao fundo de pensões para que seus filhos estejam protegidos caso alguma desgraça aconteça. Para não perder tempo com toda a burocracia, ele é aconselhado a se casar com alguém que conheça muito. O escolhido é o seu melhor amigo, o também bombeiro e mulherengo Larry.

Como era de se esperar, investigadores são enviados para checar se a história do casamento é verídica e o novo casal tem que transmitir muita intimidade.

Com Adam Sandler encabeçando o elenco e seu antigo bromance, o sempre péssimo Rob Schneider, em uma ponta não poderia ser muito diferente. Nem mesmo a presença de Kevin James consegue amenizar as coisas.

Uma ou duas piadas se salvam e garantem alguma diversão, mas é preciso paciência para suportar toda grosseria, preconceito, machismo e os inúmeros “trocadalhos do carilho” que permeiam o roteiro.

A trilha sonora, ponto alto de quase todos os filmes com Sandler, é cheia de clássicos gays e é deliciosa.

Daqueles filmes para se ver quando não há outra opção e sem pensar muito.

(I Now Pronounce You Chuck & Larry, EUA, 2007)
Comédia
Direção: Dennis Dugan
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Jessica Biel, Dan Aykroyd, Ving Rhames, Steve Buscemi
Roteiro: Barry Fanaro, Alexander Payne, Jim Taylor, Lew Gallo
Duração: 115 min.
Minha nota: 5/10

Um Grande Momento

A discussão em cima do telhado.

Submarino

O Dia da Transa

Diferente dos filmes anteriores ninguém em O Dia da Transa quer forjar um casamento gay. No fundo, os dois amigos querem se auto-conhecer, mas não entendem muito bem isso. Sem os elementos já destacados, o bromance dos dois aparece mais bem delineado na trama e mais próximo ao real também.

Ben é casado e vive sua vida de maneira bem quadrada e convencional. Andrew é porra louca, vive entre gente que já experimentou de tudo na vida e se sente um pouco peixe fora d’água. Depois de um tempo sem se ver, os dois se reencontram e em uma festa, depois de alguns vinhos e baseados decidem inovar a arte pornô e se propõe a fazer o primeiro filme gay entre dois caras héteros.

A falta de sentido da história é um dos atratativos do longa que brinca o tempo todo com a expectativa daqueles que o assistem. Olhares, gestos e frases são trabalhados para manter o suspense até os momentos finais.

Com boas atuações de Mark Duplass, Joshua Leonard e Alycia Delmore o filme flui fácil e ganha um charme adicional com o visual experimental/indie adotado, mas acaba se enrolando em si mesmo ao prolongar demais o que já estava esgotado.

Muito mais um filme sobre duas pessoas que têm a sorte de ter uma amizade tão entregue do que sobre o relacionamento dos dois.

A mensagem é interessante e a experiência também, pena que não consegue terminar como começou.

(Humpday, EUA, 2009)
Comédia
Direção: Lynn Shelton
Elenco: Mark Duplass, Joshua Leonard, Alycia Delmore
Roteiro: Lynn Shelton
Duração: 94 min.
Minha nota: 6/10

Um Grande Momento

“BEN! BEN!”

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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