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Carropasajero

Devagar quase parando

(Carropasajero , COL, ALE, 2024)
Nota  
  • Gênero: Drama, Experimental
  • Direção: César Alejandro Jaimes, Juan Pablo Polanco
  • Roteiro: Maria Eugenia Fince, Remedios Fince, Josefa Fince, María Canela Reyes, Laura Nogal, Juan Pablo Polanco, Cesar Alejandro Jaimes
  • Elenco: Maria Eugenia Fince, Josefa Fince, Luis Alberto Fince, Isabel Fince
  • Duração: 100 minutos

Durante uns bons 20 minutos da projeção de Carropasajero, o espectador segue atento ao experimento aventado por César Alejandro Jaimes e Juan Pablo Polanco. Ainda que sua obsessão pela obra de Pedro Costa (Cavalo Dinheiro e Vitalina Varela, principalmente) seja evidente e não exista qualquer problema em admirar um cineasta, estamos diante de uma dupla de diretores que parece saber muito bem para que lado apontar, mas não tão bem em como fazê-lo com dignidade. Quando cito um trabalho digno, falo sobre desvencilhar-se de uma pecha negativa que seguiria essa homenagem extremada, e também de construir uma linguagem que comunique sua obra com um ideal narrativo, ainda que hermético. O que é apresentado aqui não passa de uma atmosfera vazia, onde a inspiração não alcança um mérito próprio.

O que é capturado de sua esparsa narrativa é o campo da imaginação que precisa ser acionado quando uma família vítima de um massacre político é confrontada com uma volta ao começo. No ambiente-título, uma espécie de boleia tão abstrata quanto fantasmagórica serve de palco para um ambiente de lamúrias contínuas em uma apresentação que nunca estremece seu tom. Estamos diante de um conjunto de vozes que perdeu tudo (ou quase) ao sobreviver, mantendo-se firme no propósito de representar metaforicamente os eventos narrados de maneira pesarosa. Em determinado ponto, importa menos se estamos diante de um roteiro fluido e de compreensão acessível, e mais na maneira como o material estético de Carropasajero é despejado na tela. 

Com 100 minutos, não vem ao caso se o filme tem ritmo ágil ou modorrento. O que mais chama a atenção é a situação em que a produção se encontra, em uma repetição sem fim, onde nada é acrescido dentro do quadro original. Se estivéssemos diante de um título em curta-metragem de 25 minutos, Carropasajero teria outra recepção, porque estaria condensado todas as imagens que o filme já tivesse produzido até então. Do jeito que ficou, o que se segue aqui é, ao que parece, o mesmo bloco de imagens que se repete de forma incansável, assim como o texto equivalente. Segue por um rumo de redundância, que a seguir passa a ser visto de uma maneira cansada, onde nada em cena justifica a repetição. 

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A despeito da inacreditável fotografia de Angello Faccini, Carropasajero é um exercício tão taciturno e repetitivo, que em determinado momento poderíamos supor que tratava-se de uma armadilha tragicômica – para o espectador. Tudo que foi gasto na confecção das luzes e das cores de um projeto para lá de arriscado, não foi no trabalho de montagem dos diretores, que é rememorado a cada novo campo de discussão. As mesmas imagens são reprojetadas, e/ou reinterpretadas, com o intuito de provocar mais atrito no papel do jornalista, mas também de proporcionar o mais profundo tédio, por todos os envolvidos. 

Uma produção mais exigente, menos aglutinadora do público, não é algo que esteja automaticamente na ponta de lança do cinema. Se ele é feito, isso não significa que suas qualidades são infindáveis, e uma proteção prévia já se acende sobre ele. O exemplo mais claro dessa dinâmica é justamente Carropasajero e suas intenções escalafobéticas, que parecem viver num ambiente de paródia do que exatamentedo que é projetado. Mas mesmo as comédias com o menor número de concessões precisam se desvencilhar do personagem que assume para si. Aqui, a dupla de diretores acredita veementemente estar projetando-se para um futuro exemplar; a única pena é você tentar reproduzir o que não se sabe. 

Um grande momento

Os primeiros 5 minutos

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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