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…E o Vento Levou

(Gone with the Wind, EUA, 1939)

Drama
Direção: Victor Fleming
Elenco: Vivien Leigh, Clark Gable, Leslie Howard, Olivia de Havilland, Hattie McDaniel, Barbara O’Neil, Thomas Mitchell, Evelyn Keyes, Ann Rutherford, Alicia Rhett
Roteiro: Sidney Howard, Margaret Mitchell (romance)
Duração: 234 min.
Nota: 10 ★★★★★★★★★★

Até aqueles que nunca assistiram a este filme são capazes de reconhecê-lo imediatamente apenas ao ouvir ‘Tara’s Theme’, uma das suas trilhas instrumentais que se tornou tão popular quanto a própria obra. Produzido na milionária era de ouro de Hollywood, …E o Vento Levou marcou a história do cinema e até hoje conquista e emociona a audiência.

Adaptado do romance de mesmo nome da autora Margaret Mitchell e com direção finalizada por Victor Fleming (O Mágico de Oz), depois de passar pela mão de outros quatro diretores, entre eles George Cukor (A Costela de Adão), o longa tornou-se um dos maiores sucessos mundiais pois, apesar de ter como pano de fundo a Guerra Civil Americana, permanece atual por tratar de temas universais.

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Reconhecido como um dos maiores romances já produzidos, conta a história da mimada Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) e sua conturbada relação através dos anos com o aventureiro Rhett Butler (Clark Gable). Ela é uma jovem filha de imigrantes irlandeses que prosperaram através das riquezas geradas pela terra onde vivem, chamada de Tara. Mais preocupada com eventos e fofocas da sociedade da época, Scarlett passa seus dias recebendo cortejos dos rapazes e usando toda sua beleza para ser paparicada. Mas não por Ashley (Leslie Howard), jovem filho do dono de outra propriedade, que decide casar-se com a frágil e bondosa Melanie Hamilton, uma mulher de temperamento e personalidade contrários ao da intempestiva Scarlett. Apesar do grande número de personagens existentes na história, é a ligação entre Scarlett, Rhett, Ashley e Melanie o elemento principal no desenvolvimento da trama, que tem duração de quase quatro horas.

Após o noivado de Ashley e Melanie, inicia-se a Guerra de Secessão e a realidade em que o Estado da Georgia vivia jamais voltou a ser o que era. Ashley é a representação do bom-mocismo e dos valores morais e parte para a guerra assim como milhares de outros jovens ingênuos. Já Rhett é a personificação do malandro, sabe fazer dinheiro com as oportunidades que aparecem e prefere pensar em si próprio do que na nação. Após tornar-se viúva logo após seu primeiro matrimônio, Scarlett passa a viver na casa de Melanie fazendo companhia para ela enquanto Ashley continua em combate. Desta aproximação, nasce uma grande amizade entre as duas, apesar de toda a diferença entre elas.

Como apenas de sonhos não se vence uma guerra, o estado da Georgia é paulatinamente destruído pelos yankees e, se antes vivia na prosperidade, agora passa a viver em ruínas. A luta agora é para se reerguer. A mocinha da trama volta à terra natal e encontra sua família destruída e tudo devastado. Começa então a reviravolta da história, numa das cenas mais famosas do cinema, Deus é testemunha de que Scarlett O’Hara fará qualquer coisa para jamais passar fome novamente.

Se na primeira metade da obra somos surpreendidos pela grandiosidade da produção através dos seus figurinos, cenários, locações e a representação minuciosa dos costumes da sociedade daquela época, a partir deste ponto a história toma fôlego e fica mais dinâmica com as entradas definitivas de Ashley e Rhett.

A convivência entre Scarlett e Rhett só evidencia as semelhanças entre as suas personalidades. Estas similaridades ao mesmo tempo os atraem e os separam. O gênio forte de ambos tempera a relação.

Momentos de tensão e cenas belíssimas não faltam à história. Indo de um extremo ao outro, vamos presenciando a ascensão e queda de um estado ao mesmo tempo em que as histórias de amor e de vida começam e encerram seus ciclos. Em …E o Vento Levou, o destino é um dos personagens principais.

Ganhar dez Oscars (incluindo melhor filme e melhor diretor) foi apenas um dos feitos deste filme. A produção custou cerca de cinco milhões de dólares, uma soma absurda para a época em que foi realizada, e por mais de 30 anos manteve o título de maior bilheteira do cinema. Vale ressaltar também que esta é a primeira produção a usar a tecnologia Technicolor a vencer o Oscar de melhor filme.

A atuação de Vivien Leigh é inesquecível, difícil não desenvolver uma relação de amor e ódio por sua personagem devido à tamanha intensidade com que viveu Scarllet O’Hara. Esplêndida em seu papel, levou para casa a estatueta de melhor atriz, derrotando figuras de peso como Greta Garbo e Bete Davis. O malandro Rhett Butler parece ter sido feito sob medida para Clark Gable, que engole a atuação de Leslie Howard, o único que destoa na produção, não consegue dar veracidade nem ao bom moço e herói do começo do filme, muito menos ao angustiado pai de família arruinado no pós-guerra.

Ainda no quesito Oscar, é importante citar dois prêmios que …E o Vento Levou recebeu: melhor atriz coadjuvante para Hattie McDaniel, a primeira atriz negra a ser premiada pela Academia, e o Oscar Honorário para o diretor de arte William Cameron Menzies, que recebeu uma placa pelo desenvolvimento do uso da cor para o aprimoramento dramático na produção de um filme.

Porém, mais do que todo aspecto técnico e mercadológico que …E o Vento Levou trouxe a indústria cinematográfica, o que mantém a legião de fãs deste filme é a humanidade de seus personagens. Apesar de alguns dizerem que no amor e na guerra vale tudo, aqui não temos heróis nem vilões, todos carregam dilemas morais e criam laços afetivos difíceis de serem desfeitos. O amadurecimento ao perceber que o amor verdadeiro é bem diferente do platônico e que, assim como no cultivo da terra, necessita de dedicação e paciência. E o destino sempre está por ai, ora somos nós quem o fazemos, ora ele quem nos mostra a sua força. Saber daquilo que amamos verdadeiramente e ao que pertencemos é o que realmente importa, pois no final das contas estas continuarão sendo as únicas coisas que o vento não pode levar…

Um Grande Momento

“Deus é testemunha” e a cena final.

Oscar-logo2Oscar 1940
Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro
Melhor Atriz (Vivien Leigh), Melhor Atriz Coadjuvante (Hattie McDaniel)
Melhor Fotografia Colorida (Ernest Haller, Ray Rennahan), Melhor Direção de Arte (Lyle R. Wheeler)
Melhor Montagem (Hal C. Kern, James E. Newcom)

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ExWyxUtV4uA[/youtube]

Mila Ramos

“Soteropaulistana”, publicitária, amante das artes, tecnologia e sorvete de chocolate. O amor pela Sétima Arte nasceu ainda criança, quando o seu pai a convidava para assistir ao Corujão nas noites insones. Apaixona-se todos os dias e acredita que o cinema é capaz de nos transportar a lugares nunca antes visitados. Escreve também no Cartões de viagens imaginárias.
1 Comentário
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Jack Sabino
Jack Sabino
25/09/2012 01:37

Falou tudo Mila! Esse é um grande clássico que sempre que assisto, me emociono como se fosse a primeira vez…

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