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O Grande Hotel Budapeste

(The Grand Budapest Hotel, GBR/ALE/EUA, 2014)

Comédia
Direção: Wes Anderson
Elenco: Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman, Léa Seydoux, Tilda Swinton, Tom Wilkinson, Owen Wilson
Roteiro: Stefan Zweig (escritos), Wes Anderson, Hugo Guinness
Duração: 100 min.
Nota: 9 ★★★★★★★★★☆

Uma primeira passagem por O Grande Hotel Budapeste pode dar aquela impressão de que estamos mais uma vez vendo Wes Anderson em suas divertidas brincadeiras. Está tudo ali: a narração, os enquadramentos, cenas congeladas que interagem com o movimento das câmeras, muitas cores e até mesmo boa parte daqueles atores com quem o diretor gosta tanto de trabalhar. Mas há também algo de diferente.

É como se, mesmo com aquela forma conhecida, víssemos um trabalho diferente, amadurecido e de uma generosidade com os atores e seus personagens que não pode ser tão claramente detectada em filmes anteriores. Mais estéticos e superficiais, embora tratassem de temas sempre interessantes, eles impressionavam e divertiam, mas não com o envolvimento causado pela trama do concierge de deste grande hotel.

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Ainda que interaja com eventos exteriores e dê espaço à tramas coadjuvantes, O Grande Hotel Budapeste tem sua construção baseada principalmente na figura de Gustave H. Uma figura contaminada, é claro, já que existe para nós baseada na memória de um escritor que, na juventude, em uma visita ao lendário hotel, pode ouvir do aprendiz do concierge as lembranças que tinha do velho amigo. É pelo texto do autor, devidamente homenageado no início do filme, que conhecemos Monsieur Gustave e acompanhamos sua aventura para manter um quadro que recebeu de herança de uma hóspede próxima.

Com os personagens apresentados, inicia-se um divertido jogo de gato e rato, com fugas mirabolantes, que envolvem uma fraternidade secreta; assassinatos, com direito a um leão de chácara canastrão; falsas pistas, tiroteios e muita correria dentro e fora dos corredores do então bem frequentado hotel. Tudo muito diverdido, sem dúvida, mas é na relação com a guerra que o filme cresce.

Em todo seu formalismo, rigor e dedicação, há em Gustave H. uma certa ingenuidade. Uma pureza que só pode existir em alguém que não vive nesse mundo. Indo mais fundo, é como se o aquele homem fosse a personificação do próprio mundo antes de passar pelas duas guerras que o transformaram. Do mesmo modo, é como se o Grande Hotel Budapeste fosse o palco onde toda essa ingenuidade, gentileza e pureza um dia ganhou vida. Por isso, mesmo decadente, é mantido pelo Sr. Moustafa, como um único meio de voltar à inocência perdida.

Muito da força de Monsieur Gustave vem desse misto de delicadeza e severidade que Ralph Fiennes confere ao personagem. Sua adoração e dedicação ao falar de suas amantes, o modo como interage com os soldados alemães em uma blitz de trem ou até mesmo o modo como se relaciona com seus companheiros de cela.

Junto com o ator britânico, como é habitual em filmes de Wes Anderson, uma lista estrelar participa do filme. Entre eles estão F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Williem Dafoe, Harvey Keitel, Jude Law, Tom Wilkinson e Léa Seydoux. Edward Norton, Adrien Brody, Owen Wilson, Bill Murray e Tilda Swinton também têm o seu momento no longa.

Na parte estética não há nada que quem conheça os trabalhos do diretor já não tenha visto várias vezes antes. Um cuidado extremo com a paleta de cores, a posição dos objetos, a composição dos figurinos, o encaixe da trilha sonora e a perfeição dos enquadramentos transformam o filme em uma espécie de presente audiovisual aos espectadores.

É todo esse apuro que faz com que uma visita rápida engane e possa levar quem assiste ao filme a achar que vai ver apenas mais um filme de Anderson. Mas há muita coisa a ser descoberta naquele hotel decadente, vale a hospedagem.

Um Grande Momento:
“Eu esqueci o L’Air de Panache.”

Logo-Oscar1Oscar 2015
Melhor Figurino (Milena Canonero), Melhor Maquiagem e Cabelo (Frances Hannon, Mark Coulier), Melhor Trilha Sonora (Alexandre Desplat), Melhor Direção de Arte (Adam Stockhausen, Anna Pinnock)

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=sF7hAbQR7kk[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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