Quando isso passar, a gente vai ver o florescer de toda a arte que está estagnada. Essa é a previsão de Chico Diaz ao falar dos dias tenebrosos pelos quais passa a cultura do Brasil, alvo de ataque e desmonte claro e evidente pelo atual governo. Um dos grandes nomes do cinema, do teatro e da televisão do país, ele é o homenageado da 16ª edição da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, que acontece de 23 a 28 de junho.
Chico nasceu na Cidade do México, filho de mãe brasileira e pai paraguaio e se estabeleceu no Rio de Janeiro no fim dos anos 1960. Em 1981 começa sua carreira no cinema. O ator diz que ainda se surpreende quando olha para trás e vê que já se passaram quatro décadas. “Eu nunca quis ser ator, e falo isso de verdade”. Ele conta que encontrou na atuação uma maneira de se encontrar, de talvez se entender e reconhecer dentro da sua própria pluralidade.
“Quando eu comecei no cinema era uma outra realidade: kombi, terra vermelha, filme (película). Ainda tinha a Embrafilme, as produções ainda eram limitadas a Rio, São Paulo e Minas…”, conta. O ator foi testemunha de todas as mudanças pelas quais nosso cinema passou. Ele destacou aquelas possibilitadas pelas tecnologias mais baratas, e também falou sobre as causadas por políticas de inclusão e descentralização implementadas pelo governo Lula como a Ancine, a desregionalização e a chegada às telas das narrativas de todos os lugares do país. “São histórias fundamentais para a gente se reconhecer como povo”, afirmou citando filmes com temáticas de várias partes do Brasil.
Chico Diaz falou sobre o momento atual e sobre como é difícil ver o Brasil chegar nessa situação de estagnação e abandono. “Está tudo na mão de pessoas sem conhecimento, sem o menor preparo técnico”, lamentou. Ele ainda falou sobre as dificuldades dos dias atuais, “Como tentar um diálogo nesse momento em que chegamos, de terraplanismo, obscurantismo, negação da ciência?”, mas se mostrou confiante no fim em breve deste momento terrível.
Incansável
O ator falou ainda sobre seus próximos trabalhos, muitos, e destacou a produção mineira em finalização Girassol Vermelho, de Eder Santos e codirigida por Thiago Villas Boas, e o longa português O Ano da Morte de Ricardo Reis, de João Botelho, onde vive heterônimo de Fernando Pessoa. Os dois serão apresentados na 16ª CineOP, enquanto a produção portuguesa será o longa de abertura, o público poderá ver trechos do filme mineiro.
Chico falou também sobre as experiências no distanciamento e contou ter realizado sua própria bioficção nos primeiros tempos de quarentena, Diário Dentro da Noite: “ficou muito bem produzida e espero em breve mostrar para vocês”.
“Mas eu gosto mesmo é de viver o filme, sentir a gravação”, disse lembrando que gosta mesmo é de viver o montar e desmontar do set, a interação com o diretor e a equipe. Para Chico é ali que nasce tudo.
Homenagem
São mais de 80 filmes na carreira, uma trajetória incrível e os curadores Cleber Eduardo e Francis Vogner dos Reis selecionaram uma uma pequena amostra para estar na 16ª CineOP e ganhará uma mostra especial com os longas A Cor do seu Destino, de Jorge Durán (1986); Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry (1996); Os Matadores, de Beto Brant (1997); Amarelo Manga, de Cláudio Assis (2002; Praça Saens Peña, de Vinicius Reis (2008); e dos curtas De Sentinela, de Katia Maciel (1993); Cachaça, de Adelina Pontual (1995); e Quem Você mais Deseja, André Sturm e Silvia Rocha Campos (2005). Será exibida ainda a peça de teatro “A Lua vem da Ásia”, adaptação do próprio Chico para o romance de Walter Campos de Carvalho e que teve sua primeira encenação em 2011.
A CineOP promove também o debate “O percurso de Chico Diaz em quatro décadas”, com a participação do ator e do curador Francis Vogner dos Reis, com mediação da apresentadora Simone Zuccolotto. O tema será o percurso do ator e questões sobre as diferenças de processos de criação e de modos de produção entre os distintos momentos históricos de sua trajetória e as mudanças nos processos de construção como ator. Ele participa também de outra mesa, Girassol Vermelho – Um filme em processo, que vai tratar desse trabalho inédito e em finalização do cineasta mineiro Éder Santos, com trechos a serem exibidos na programação do evento.
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