- Gênero: Documentário
- Direção: Lana Daher
- Roteiro: Lana Daher
- Duração: 75 minutos
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Quando o futuro é previsível e o passado perde espaço na memória coletiva, Você Me Ama aparece como um gesto de resistência contra o esquecimento. Composto inteiramente por imagens de arquivo – retiradas de filmes, programas de TV, home videos e fotografias – o documentário de Lana Daher revisita cerca de setenta anos da memória audiovisual do Líbano para reconstruir o que foi apagado ou nunca explicado. O que ele busca não é simplesmente documentar uma história oficial, é provocar o fim do silêncio, dar voz a fragmentos que podem criar narrativas, criar uma relação entre o Líbano e sua história.
A forma do filme é fiel à ferida que ele investiga. Não há cronologia convencional, não há voz-narradora que pontue os acontecimentos. O desorientar faz parte do caminho com uma montagem que salta entre décadas; vai do preto e branco para as cores; de imagens domésticas a clipes populares, e da festa à destruição. A fisicalidade do arquivo – com seu granulado, riscos de película, som que estala e a caligrafia da fita betacam – dá corpo à ideia de um país e de um povo que resistem mesmo quando tudo parece estar desmoronando. É o filme que surge no buraco, na brecha.
Há também afeto, não como romantização da dor, mas como constatação de que amar é insistir em estar presente quando o mundo te ensina a fugir. O título, emprestado de uma canção popular libanesa, interroga: será que se ama o Líbano tanto quanto ele ama os libaneses? A cidade-ferida, o país-fragmentado, a família-escombro, tudo já visto, mas aqui revisto. O que sofreu nem sempre aparece em moldes heroicos, e a beleza do filme está em captar essa sobrevivência que segue cantando mesmo na escassez.
Mesmo com tudo isso a favor, o filme tem suas questões. Ao mesmo tempo em que celebra a imagem e o som como território de memória, tropeça na previsibilidade. O gesto de “filmar o arquivo para não esquecermos” tem sido amplamente explorado e daí surge a pergunta: quando a forma se reconhece e quando o ato de resistir vira também estilo, qual é a potência que ainda resta? Nessa toada, há momentos em que o ritmo vacila, quando a montagem alonga mais do que provoca e o espectador se dá conta de que está assistindo também à mecânica de um documentário do passado que quer ser futuro. A ambição de “recontar a história” não elimina o problema de como contar.
Fica a pergunta que o filme não consegue decifrar: se uma nação não se conta, quem pode contá-la? Você Me Ama escava as imagens e coloca o espectador no lugar de testemunha. Ele não está ali para julgar, mas para sentir. E talvez por isso o filme tenha força, pois mostra que a memória não é algo que se completa, mas permanece viva. E amar, no fim das contas, é manter vivo.
Um grande momento
Todo tipo de festa


