A Gripe

(Flu, KOR, 2013)
Gênero
Direção: Kim Sung-su
Elenco: Hyuk Jang, Soo Ae, Andrew William Brand, Cha In-Pyo, Choi Byung Mo, Lee Hee-joon, Lee Sang-Yeob, Park Hyo-ju, Park Jung-min, Park Min-ah, Kahlid Elijah Tapia
Roteiro: Lee Young-jong, Kim Sung-soo, Jung Jae-ho
Duração: 122 min.
Nota: 5

Em tempos de pandemia global, um filme como A Gripe aparecer com ênfase num serviço de streaming poderia ser considerado uma espécie de oportunismo temático. Mas o ato de assistir a um filme também parte de uma resolução mediante o nosso entorno, e se o tema em voga atualmente é esse, a arte e sua disseminação poderiam propor uma reflexão sobre imagens já anteriormente produzidas e sua repercussão no hoje.

Mediante isso, a produção coreana de 2013 que mostra a proliferação de uma mutação da gripe aviária serve, se não como um alerta extremo, ao menos cria uma discussão sobre o período atual, além de entreter com propriedade, sem perder qualidade. O diretor Kim Sung-su, de carreira longeva porém de pouca expressão fora de seu país, comanda uma produção que começa tipicamente antenada com o ritmo local – ou seja, com os pés na comicidade – e cheia de energia, com personagens esbanjando carisma e situações-chave de fácil conexão e entendimento universal.

A Gripe parte de uma premissa básica do cinema catástrofe (que é a seara que rapidamente o filme abraça) unindo diversos personagens que se cruzarão por conta da tragédia, isso inclui um envolvimento amoroso no centro, um coadjuvante cômico-sincero-sagaz, alguns núcleos de interesse pulverizados na narrativa, a óbvia cúpula política, onde cabem até líderes americanos que podem a qualquer momento virar o jogo a seu favor, e uma criança irremediavelmente fofa; no caso de Park Min-ha, uma explosão de fofura, talento e conexão imediata com o espectador que vai num crescendo tão absurdo a ponto de ter diversas cenas onde sua presença é essencial, dramaticamente e emocionalmente, tornando-se o eixo do roteiro – sem forçar.

Como na cartilha desse tipo de produção, não são todos os tipos a terem curva dramática consistente, embora o diretor consiga nos mergulhar naquele universo com destreza. Como o roteiro não vai muito longe do básico, muita da empatia do filme vem do triângulo central, seu empenho crível em salvar-se diante de impossibilidades cada vez mais tensas, e a conexão que nasce entre mãe e filha e o bombeiro apaixonado travestido de anjo da guarda de ambas. Ainda que submerso em clichês, os três personagens são embebidos de emoção e credibilidade suficientes, que nos fazem comprar sua trajetória em meio ao caos.

A construção gradual da tensão é precisa, também tendo em vista o lugar cômico onde ele se alicerça. Avançando nas situações, no encontro entre seus núcleos e no desespero crescente que Sung-su organiza em tela, quando o espectador se dá conta, as emoções baratas já tomaram conta e fica impossível se desligar de uma narrativa envolvente e uma produção de planos muito apropriada ao tema; faltando 40 minutos pro fim, o filme pega uma curva ascendente de eventos angustiantes, bem editados e que elevam o material para além do produto esperado habitual, inclusive emocionando e angustiando, ou seja, o resultado esperado para a produção.

No entanto, um momento-chave particular de A Gripe representa uma virada de expectativa dramática à produção. Quando o protagonista masculino sai em busca da pequena Mir-he e encontra o “local” para onde estão sendo enviados os infectados da zona de quarentena, fica claro o tamanho minúsculo do ser humano ante às maquinações de poder mundial. É também ali que, embora divirja com o status da população mundial em termos da gravidade de resultado, nos damos conta que o perigo à espreita não está mais somente na Coreia do Sul.

Um Grande Momento:
“Não matem minha mãe!”

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