Terror
Direção: Diego Cohen
Elenco: Dunia Alexandra, Lumi Cavazos, Laura de Ita, Jorge Adrián Espíndola, Omar Fierro, Charles W. Lake, Mary Paz Mata, Nicolasa Ortíz Monasterio, Oliver Nava, Eduardo Noriega, Karen Haydé Payán, Juan José Reyes, Eivaut Rischen, Arantza Ruiz
Roteiro: Ruben Escalante Mendez
Duração: 82 min.
Nota: 1
A possibilidade de uma frase de H. P. Lovecraft assustar um espectador (por motivos involuntários) ao ser usada para abrir um filme de terror é uma rua de mão dupla; ao mesmo tempo prepara o terreno para uma história a princípio apavorante, convocando um mestre da escrita do gênero, mas também pode tentar disfarçar as deficiências de uma produção com um carimbo manjado. Além da abertura, os personagens de A Marca do Demônio citam o autor em cena ao dar de cara com uma versão arcaica do Necronomicon, o fictício livro dos mortos criado por Lovecraft e que o mesmo recorre em suas obras. Rapidamente percebemos o quanto o filme utiliza essas citações como cortina de fumaça.
Típico exemplar sobre possessão e exorcismo como tantas vezes já visto, a produção mexicana dirigida por Diego Cohen até tem uma abertura minimamente interessante, com uma criança passando pelo processo de expulsão demoníaca e essa história, acontecida 30 anos antes dos eventos regulares, ir costurando a narrativa até esclarecer por completo suas ligações com o presente. Não que o espectador precise mais do que a segunda aparição desse flashback para compreender esse estratagema, mas não podemos negar o início promissor que indicava ao menos um passatempo burocrático porém animado.
Logo depois, vemos a entrada em cena da sumida Lumi Cavazos, que há quase 3 décadas lotou cinemas no Brasil com o sucesso Como Água para Chocolate, e que estava desaparecida por aqui. A personagem faz parte do mosaico atual do filme e compõe uma família inexplicável (o pai é profissional em quê, montagem de quebra-cabeças?), com duas filhas muito mal apresentadas em closes bizarros – cenas essas que encerram tudo o que o filme tinha apresentado de regular na direção até então, trafegando a partir daí entre o feio e o praticamente amador. O roteiro de Rúben Escalante Mendez faz cada vez menos sentido, e aos poucos começa a costurar qualquer clichê do gênero ao todo, mas o que mais impressiona é a ausência clara de recursos.
Se tecnicamente A Marca do Demônio beira o não-profissional, o mesmo não podemos dizer da linha de frente de seu elenco. Além de Lumi, Eduardo Noriega interpreta um padre viciado em heroína (porque?, nunca saberemos…) e produz o filme também. O ator espanhol, reconhecido e aplaudido por grandes títulos como Preso na Escuridão, O Lobo e O Que Você Faria?, faz o que pode para dar dignidade a um projeto que abdica dela a cada nova passagem, com sua presença talentosa desperdiçada em um personagem vazio e que pouco se justifica. Na verdade, seu Padre Tomás é um dos personagens que não fazem sentido estar em cena, por não acrescentarem nada à narrativa.
Se tem algo, também a cargo de Cohen, que marca a produção é a montagem. É justamente nesse aspecto que o filme fica a dever até a projetos universitários, pois a deficiência dos cortes é muito óbvia mesmo ao espectador leigo. As cenas ora tem mudanças de plano vagarosos que atestam sua deficiência, ora tudo se picota rapidamente – provavelmente para esconder os efeitos especiais mal acabados. No inacreditável clímax, o embate de um jovem exorcista (que quando fuma, sua tragada tem o som de uma ventania – também não saberemos o porquê desse truque) com as irmãs possuídas e seus pais parvos é uma mistura entre as inúmeras “técnicas de montagem” apresentadas até então, resultando num espetáculo inesquecível – no pior sentido.
Em meio a um elenco desencontrado, A Marca do Demônio não consegue apresentar defesa possível às suas infindáveis deficiências. A título de exemplo, estão entre as melhores cenas da produção os créditos de abertura, que não passam de voos de drone pela cidade palco dos eventos. Ainda que a duração do filme seja a mais reduzida e de fato o filme não se alongue ou canse, fica a dúvida sobre o propósito de algo tão carente de personalidade e mesmo de mão de obra qualificada. Como cereja do bolo, o filme ainda tem uma cena pós-créditos que essa sim provocará os arrepios em qualquer cinéfilo amante de um cinema com qualidade mínima.
Um Grande Momento:
O inacreditável clímax.
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