(The Visit, EUA, 2014)
HorrorDireção: M. Night Shyamalan
Elenco: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Peter McRobbie, Deanna Dunagan, Kathryn Hahn, Celia Keenan-Bolger
Roteiro: M. Night Shyamalan
Duração: 94 min.
Nota: 9
A morte não parece ser ausência nos filmes de M. Night Shyamalan. A morte é mais do que presença, ela é quase como um estado de espírito (O Sexto Sentido) e, muitas vezes, condição de vida (Olhos Abertos, Sinais, A Vila, Fim dos Tempos) – tomando todos os significados que essa expressão possa ter. Em A Visita, a morte de fato está à espreita, mas é uma “morte” simbólica, a perda do pai que abandonou a família, que parece estar mais latente nos personagens.
Os irmãos Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould), de 15 e 13 anos respectivamente, vão passar uma semana numa fazenda no interior da Pensilvânia onde irão conhecer seus avós maternos, enquanto sua mãe, Loretta (Kathryn Hahn), funcionária do Walmart, fará um cruzeiro no maior navio do mundo com seu novo namorado.
Desde o início, Becca e Tyler estão fazendo um documentário sobre essa viagem deles para conhecer finalmente seus avós e encarar a história mal-acabada de sua mãe, que saiu de casa aos 19 anos, depois de um conflito (ainda) desconhecido – em última análise, por que as crianças que têm de ir buscar resolver esse conflito aparentemente tão complicado? As crianças nos filmes de Shyamalan enfrentam problemas bastante complexos e sentem o “peso” do mundo. Há de se realizar ainda um artigo analisando a infância nos filmes de Shyamalan.
Usando o estilo found footage para narrar essa história, Shyamalan, como de costume, constrói seu universo com coerência estrutural e organicidade temporal. A lógica é já de princípio explicada: Becca e Tyler estão documentando sua viagem com duas câmeras e o que vemos na tela é exatamente o resultado disso editado por eles.
O roteirista, produtor e diretor adentra pela primeira vez, com seu suspense e terror habituais, no realismo extremo do documentário. Efeitos especiais de som e imagem são deixados de lado e Shyamalan agarra a diegese de seu espaço cênico, dos objetos em cena e de seus personagens. Duas câmeras com dois pontos de vistas diferentes tão bem executados fazem de A Visita um ponto fora da curva para o found footage atual e reafirmam Shyamalan como um grande diretor.
Os elementos mais trabalhados nos filmes de Shyamalan são encontrados em A Visita de modo mais contido, porém não menos visíveis: a fantasia ou a fábula (na história do fundo do lago), a crença (a todo instante são colocados a acreditarem nos eventos estranhos ocorridos) e a mobilização (os irmãos tem que se juntar para ultrapassar esses eventos).
O humor, um elemento pouco encontrado em seus filmes, é bastante utilizado aqui, principalmente em “T-Diamond Stylus”, nome artístico do aspirante a rapper Tyler, e nas ironias perspicazes de Becca. É fundamental o uso do humor para ambientar o filme como uma viagem pretensamente divertida feita por duas crianças pelos prados de Masontown, para que os momentos assustadores aconteçam ganhando mais força, encontrando o equilíbrio preciso para o tom do filme.
Um filme do Shyamalan é sempre solidificado nos seus personagens. A força da presença deles e sua narrativa é que fazem nos apegar à história e acreditar naquela situação. Para isso a escolha dos atores é parte principal no processo e o casting feito por Douglas Aibel, parceiro de todos os filmes de Shyamalan, é um acúmulo de acertos.
As crianças na tela pulsam vida com seus gestos e modos de falar (vide, por exemplo, a cena de Becca ao contar um dos seus segredos). Em contraponto com os avós, enrugados, estranhos, de movimentos muito duvidosos – um crédito especial aqui para a Deanna Dunagann que radicaliza o que a Betty Buckley havia feito em Fim dos Tempos. Aliás, tanto na atuação como no figurino isso é evidente: a presença de cores vitais e mais fortes no figurino das crianças, diferenciando com cores escuras e amareladas dos avós.
Dos sustos e de alguns risos de canto de boca, a euforia de ter visto um belo filme resplandece na gente. Shyamalan segue como um dos grandes diretores contemporâneos e seu cinema ainda tem muito a nos oferecer. Sigamos acompanhando a cada novo projeto e esperando para nos surpreender, pois seu cinema não tem limites.
Um Grande Momento:
Pique-esconde.
Links
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Uo5o_5tJKdk[/youtube]