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Adam

Fórmula requentado com elenco estelar

(Quad, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Michael Uppendahl
  • Roteiro: Michael Burke, Brett Johnson, Robin Veith, Mike Young
  • Elenco: Aaron Paul, Lena Olin, Tom Berenger, Celia Weston, Michael Weston, Shannon Lucio, Paul Walter Hauser, Tom Sizemore, Jeff Daniels
  • Duração: 100 minutos

Sempre imaginei que pessoas jovens, bonitas, bem resolvidas financeiramente, ou seja, felizes, fossem mais suscetíveis a tragédias, grandes lutos e até a morte. Na minha cabeça, era a receita ideal para o horror: quando se tem tudo a perder, é que se perde mesmo. A história real de Adam Niskar retratada em Adam deve ser até meio banal, mas deixa no ar esse medo contemporâneo de negar-se à felicidade pela espreita da perda, ou seja, negar-se à vida. O filme é a estreia na direção de longas de Michael Uppendahl, que tem em seu currículo episódios de Mad Men, Fargo, Walking Dead, American Horror Story, Ratched, entre outros sucessos da televisão americana.

A bem da verdade é que a história de superação de Adam, sua descida aos infernos da auto piedade, da solidão, do abandono, após anos de uma vida privilegiada, não é necessariamente algo inédito, e Uppendahl não realiza um trabalho elevado de suporte a essa narrativa delicada, porém já antes apresentada – na vida e nas telas. O dinamismo empregado ao projeto, que não se prende muito ao detalhamento dos eventos e sim ao seu avanço, suas consequências e seu desenrolar prático, é o ponto alto da condução geral, que em termos mais amplos, não elabora imageticamente seu corpo de imagens, até surpreendendo aqui e ali quando eventualmente uma proposta é vista.

A intenção de Adam é evidentemente levar a mensagem e a experiência de seu personagem-título, e entre os pontos positivos da produção estão a supressão de qualquer excesso de paternalismo ou emoção extremada, concentrando muito mais seu tempo em radiografar as reações de um homem que, com o mundo aos seus pés, o viu desabar sem qualquer culpa possa ser atrelada a si. Ainda que nos eventos verídicos situações elevadas de depressão ou revolta possam ter ocorrido, o filme não está muito disposto a esse expediente agudo de emoções, se concentrando no “fazer”, no “realizar”, nos pontos dinâmicos da jornada.

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Adam

Muito da conexão conseguida com o público se dá pelo elenco de primeira unido pelo filme, com coadjuvantes vividos por atores veteranos formidáveis como Jeff Daniels (Steve Jobs), Tom Berenger (Platoon), Lena Olin (Inimigos), Tom Sizemore (O Resgate do Soldado Ryan) e Celia Weston (Os Últimos Passos de um Homem), além do jovem Paul Walter Hauser (O Caso Richard Jewell). Como esses atores estão a serviço de um roteiro que não os favorece muito, limitando seus espaços de crescimento para focalizar exclusivamente no protagonista, suas presenças são muito mais afetivas que efetivas – com exceção de Celia e Tom, que interpretam os pais de Adam e tem momentos tocantes.

O alicerce de Adam é mesmo Aaron Paul, em momento elevado de sua filmografia. Depois de anos dedicado a Breaking Bad e aos prêmios recebidos pela série, Paul consegue com a produção recalibrar o talento que já conhecíamos, aqui em registro diferenciado, unindo doses leves de sarcasmo e melancolia, o ator é o grande responsável por manter o interesse do público em uma narrativa já testada e aprovada, e aqui refém de seu repertório, no qual ele corresponde com muita dedicação e contundência em algumas daquelas cenas típicas de produções desse nicho, aqui elevadas por conta da carga emocional muito bem calibrada que o ator emprega.

Programa requentado mas que conta com uma certa sinceridade no tratamento dado a seus elementos, Adam não surpreenderá ninguém em sua trajetória, e nem é essa a sua intenção, pelo contrário. Cheio de boas intenções, a história que o Adam Niskar real viveu tinha como meta elevar o espírito de quem o assiste para o aprendizado de se dedicar a suas vitórias pessoais e diárias, com o mesmo empenho sempre. Estando em cena durante um momento onde o personagem encontra outros acidentados como ele, Adam é o próprio exemplo que ajudou a dar.

Um grande momento
O reencontro com o píer

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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