Anitta: Made in Honório

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Chega a ser chata a naturalidade com que encaramos algumas coisas: tentar diminuir quem consegue realizar seus sonhos, questionar o valor de uma mulher quando se torna um sucesso no mundo business, diminuir alguém por suas origens ou por sua forma de lidar com a sexualidade, e compreender o mundo na dicotomia humilhados e exaltados que passa um pano e enobrece o grito de quem manda mais. Anitta: Made in Honório, da Netflix, mexe com tanta coisa dentro da gente que cabe refletir sobre a Anitta que nos habita.

A série conta com uma linguagem bem ao estilo reality e mostra os bastidores da vida e dos shows da cantora Anitta (e muitas vezes da garota Larissa). Caberia um disclaimer sobre momentos que podem ser gatilhos para pessoas mais sensíveis? Sim! Caberia dizer que, apesar da repercussão sobre a personalidade da celebridade, os episódios são bem gostosos de ver e, num bom ritmo, a mistura de intimidades e selfies com música vale uma maratona emocionante e inspiradora? Também!

A poderosa que deixa todo mundo babando, sem culpa, se joga nas paixões e romances, ama tanto homens quanto mulheres, se permite ser a ativa na escolha, na pontuação de limites e na consideração do sexo pelo sexo (o que é bastante tolerado em personagens masculinos), colocando o prazer acima de qualquer opinião. Quebra tabus ao naturalizar o prazer em dar o cu, de usar brinquedos, de fazer jogos de conquistas e de ser cobiçada pelo corpo e pela dança. Uma das revolucionárias de uma geração é exposta em suas intimidades diárias mostrando que o Made in Funk é gostoso, e daí?

Como um rolo compressor, com a mesma energia que tem para a vida, a mulher de negócios se mostra uma workaholic bem estilo Made in Faria Lima, que tende a ter poucas horas de descanso e muitos ramos de atuação e investimentos. Visionária e um prodígio do marketing virtual, tem apresentados na série os talentos que colocam realmente as grandes marcas e negócios aos seus pés.

Mas é comum associarmos o sucesso ao super esforço, à competição, ao destaque internacional (ou entre os maiores) e até a ser o melhor e poder humilhar. No fundo, apesar de tudo que é mais legal de Anitta, ainda tem aquela exaltação interna e a busca da externa de levar para o tronco aquele que está junto cooperando e prestando um serviço. E é aí que mais uma vez ganhamos lições com Anitta: Made in Honório, por mais vanguardista e genial, esse modo de ser Made in Casa Grande x Senzala que temos enraizados em nossa cultura e alma nos mostra o quanto ainda somos atrasados querendo ser o dono da casa maior aprendendo a ser violento e autoritário.

Nossas raízes remontam antes de nosso nascimento, do nascimento de nossos pais ou dos avós. Vem da constante máxima que ser o melhor é manter tradições, buscar o status quo e mostrar quem manda. Anitta Made in Netflix revoluciona tradições, e pode ser uma das responsáveis por mudar a mentalidade de gerações sobre liberdade e outros pontos, mas ainda merece uma nova temporada para se permitir quebrar paradigmas que por gerações fere almas e corpos.

O Melhor Episódio
T01E06 –  Made in Honório

Ver “Anitta: Made in Honório” na Netflix

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