Drama
Direção: Fabio Meira
Elenco: Priscila Bittencourt, Isabela Torres, Marco Ricca, Suzana Ribeiro, Inês Peixoto, Teuda Bara, Maju Souza, Ana Reston, Marcela Moura
Roteiro: Fabio Meira
Duração: 89 min.
Nota: 8
Chegada da adolescência, momento em que o enfrentamento e a inadequação com a família surgem. Ser a filha do meio, uma vida de estranhamento e constante vontade de se sentir integrado. É nesta realidade que Irene está inserida. Não parece haver espaço para ela naquela dinâmica cotidiana, tudo é estranho e diferente do que ela gostaria que fosse.
Em sua família de classe alta, a mãe dá valor para coisas que ela não considera importantes e divide a atenção entre a filha mais velha, uma princesa, e a caçula, sua queridinha. O pai, bastante ausente, ainda tem uma outra família e uma outra filha com a mesma idade que a dela, para piorar com o mesmo nome também.
É no descobrir essa nova Irene que aquela Irene, filha do meio, se perde ainda mais. A ideia dela é se aproximar e tentar entender o porquê daquilo tudo e, de certo modo, se conhecer também. É no invadir uma nova dinâmica familiar, não aquela tradicional socialmente aceita, com uma relação de afeto que ela não conhece de perto, que a menina se perde ainda mais.
Em seu primeiro longa-metragem de ficção, Fabio Meira, que também assina o roteiro, vai buscar na história de sua própria família a inspiração para o filme. O conto doméstico está com ele desde a infância e se transforma em roteiro depois de sua experiência na Escola de Cinema de Cuba.
O modo como esse reconhecimento, mesmo que gradual, das duas irmãs que não se conheciam é muito bem trabalhado no roteiro e nas imagens, o que ganha ainda muitos pontos com a atuação precisa – e impressionante – de Priscila Bittencourt, uma atriz que parece pronta a encarar qualquer papel, e de Isabela Torres, ambas iniciantes no cinema.
A duplicidade do encontro é o ponto alto do longa, o modo como ambas, após o estranhamento inicial e um rápido período de adaptação, começam a se compreender e identificar, começam a perceber que tudo o que foi obrigado a terem em comum tem um sentido interno.
O que agrada muito em As Duas Irenes é que nada é gratuito ou excessivo na exposição, há uma naturalidade no que se vê e, de certo modo, a contenção no desenvolver da identificação faz com que a história torne-se mais próxima, caseira e de fácil compreensão.
Um filme todo muito bem pensado, seja na arte de Fernanda Carlucci, que reconstitui uma época e duas realidades distintas dentro deste mesmo período, ou no valioso trabalho de direção de fotografia de Daniela Cajías, sempre muito voltado ao conflito.
Simples na forma e ao mesmo tempo profundo e complexo em seu conteúdo, As Duas Irenes é um filme que merece ser descoberto e aproveitado em todos os seus detalhes. Ganhador dos kikitos de melhor roteiro, ator coadjuvante (Marco Ricca, incrível como o pai) e direção de arte no 45º Festival de Gramado, estreia nos cinemas brasileiros dia 19 de setembro.
Um Grande Momento:
O final.
Links
[45º Festival de Gramado]