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A Arte de Amar

Roubo desafinado

(Romantik Hirsiz, TUR, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia Romântica, Policial
  • Direção: Recai Karagöz
  • Roteiro: Pelin Karamehmetoglu
  • Elenco: Esra Bilgiç, Birkan Sokullu, Ushan Çakir, Firat Tanis, Hakan Ummak
  • Duração: 95 minutos

Um dos maiores sucessos da Netflix nesse princípio de 2024, A Arte de Amar tem tudo de positivo e de negativo que temos acostumado a assistir nas produções turcas do streaming. Não é, portanto, uma surpresa vermos tais práticas serem repetidas aqui, aplicadas pela enésima vez e aprovada em igual repetição. O interessante é perceber que, dessa vez, a cinefilia que engloba o título faz o espectador ser carregado para bem mais longe e em produções ainda mais clássicas do que geralmente é acessado. Ou seja, existe sim uma mistura azeitada de muita coisa contemporânea com o qual já nos acostumamos e que aqui se repete, e também é um olhar quase anacrônico para uma estrutura do passado, dessa vez jogada para o outro lado do mundo. 

A dupla de direção e roteiro, respectivamente Recai Karagöz e Pelin Karamehmetoglu, são os mesmos de Táticas de Amor 2, outro grande sucesso do consórcio Netflix-Turquia. Aqui, reside um tom policial por trás da comédia romântica que é o grande atrativo da produção, mas estamos falando de um produto, ou seja, o que está sendo fabricado aqui é cheio de fórmulas e chavões esperados. Mesmo as óbvias reviravoltas estão dentro do esperado para esse tipo de filme, e elas nunca surpreendem, apenas tornam o charme de A Arte de Amar mais dentro de uma caixinha. O mais interessante é que nada ali é muito sutil, a começar por esse enredo que já foi testado e aprovado tantas vezes antes que o filme quase soa como uma homenagem ao que já foi feito. 

É interessante perceber uma cena onde inclusive a estrutura de Missão: Impossível é citada, para que fique claro qual a seara que o filme pretende referenciar. Mas, acima da série clássica de espionagem e sua franquia de sucesso protagonizada por Tom Cruise, creio que existe uma outra finalidade aqui nessa produção sobre roubo de arte, em específico. Trata-se do clássico Crown, o Magnífico e sua refilmagem Thomas Crown: A Arte do Crime, originalmente protagonizado por Steve McQueen e Faye Dunaway, que anos depois seria refeito por Pierce Brosnan e Rene Russo. Tantos filmes já estiveram nesse lugar do ‘filme de assalto romântico’, e é nesse lugar que Karagöz mirou, o filme de aventura chique, com pessoas bonitas e bem vestidas, que se apaixonam enquanto furtam quadros.

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O entrecho aqui é até curioso: Alin e Güney eram um casal jovem apaixonado, que se separou depois que ele desapareceu, sendo dado como morto. Quando ele reaparece, o casal se reencontra e ele não chega a saber que ela entrou para a Interpol, anos depois. Ainda mais ano depois, ela começa a investigar o roubo de quadros em galerias turcas e, em câmeras de segurança, percebe que o principal suspeito é sua antiga paixão. Essa premissa é a parte mais criativa de A Arte de Amar, que a partir de então se transforma no que já estamos carecas de saber que irá acontecer. Isso não é um problema em definitivo, o que faz do filme uma experiência difícil de acompanhar são outras derivações. 

Uma delas é o fato de A Arte de Amar não apenas ser excessivamente repleto de trilha sonora, como ela ir além da intrusão e da falta de qualidade, como também retira do filme o que ele parecia perseguir. Os títulos citados que inspiraram a produção primam pelo requinte de figurinos, cenários, locações e enquadramentos, como é de praxe a esse subgênero do cinema. A trilha, no entanto, parece estar emulando coisas como As Panteras e Zoolander, duas produções mais interessadas na galhofa rasgada. O espectador segue sem entender muito bem de onde as inspirações vem e para onde vão, e isso se deve a esse arranjo bastante desagradável de ouvir, que atrapalha a fruição da obra e nosso envolvimento com a mesma. 

O casal é jovem, bonito e talentoso, o andamento, embora besta e requentado, funciona para o que se propõe, e trata-se de um filme bonito de assistir, ainda que tenha um pouco de machismo velado nos eventos. Mas A Arte de Amar deixa claro através de sua trilha sonora como tais acontecimentos são estridentes e não conseguem revestir de qualidade um título que, na verdade, não passa de um passatempo agudo, até o limite do cansaço nos tímpanos. Se não ensurdece por completo, é porque até com o desagrado o ser humano costuma aceitar, vez por outra. 

Um grande momento

Os mocinhos são pegos no cofre

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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