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Águas Que Corroem

Uma personagem que se perde

(Rust Creek, EUA, 2018)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Jen McGowan
  • Roteiro: Julie Lipson, Stu Pollard
  • Elenco: Hermione Corfield, Jay Paulson, Sean O'Bryan, Micah Hauptman, Daniel R. Hill, Jeremy Glazer, John Marshall Jones
  • Duração: 108 minutos

Se fosse para traduzir literalmente, o filme que estreou recentemente na Netflix deveria chamar-se algo como riacho tranquilo, sutil e talvez uma tentativa fracassada de contraposição. Na verdade, Rust Creek é apenas o local onde o carro da jovem Sawyer é encontrado abandonado em uma estradinha do Kentucky. Porém, no Brasil, acharam por bem escancarar e antecipar a trama, batizando o longa com Águas Que Corroem, num mau gosto que, bem ou mal, acaba tendo muito mais a ver com a qualidade do que se vai assistir. Típico thriller de sobrevivência, o filme é tão carregado de clichês e facilidades que o título barato cai como uma luva.

Dirigido por Jen McGowan, de Kelly & Cal: Uma Amizade Inesperada, todos os esforços do filme parecem estar depositados em sua protagonista, que, na frieza de suas reações surge como uma figura diferente no gênero onde mulheres são tornadas reféns de maneira muito mais ridícula. Aqui ela é uma estudante universitária que, no último ano de seus estudos, consegue uma sonhada entrevista de emprego em Washington e decide pegar a estrada sozinha na semana do feriado de Ação de Graças.

Águas Que Corroem

Nem tudo em Águas que Corroem é mal aproveitado e desperdiçado. Se o roteiro de Julie Lipson e Stu Pollard parte de uma premissa banal, encontra algo que poderia ser interessante com o dilema da viagem sozinha, que facilmente pode ser convertido em horror. E McGowan trabalha bem com isso. Acompanhar Sawyer, vivida por Hermione Corfield, seguindo sozinha por tanto tempo, sem qualquer casa, motel ou, pior, posto de gasolina, é angustiante. A interação confusa com o GPS, principalmente para quem já viajou na estrada e teve experiências do tipo, aumenta a tensão.

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Mas é algo que dura até que o óbvio se estabeleça e, de lá para a frente, o filme se perde completamente. Tudo o que cruza o caminho da heroína já foi visto em milhares de outros filmes, inclusive de qualidade muito superior a este. Os vilões Buck e Hollister são evidentes em seu encontro, suas ligações, naquilo que fazem para ganhar a vida e até em seu desfecho. Para complicar ainda mais, junto a eles está uma outra figura igualmente batida nos filmes do gênero. E tudo vem embalado numa estética muito artificial, pouco dedicada, com passagens gratuitas e de intenção muito óbvia.

Águas Que Corroem

Essa falta de originalidade é enervante e faz com que o brilho do começo e toda a força da protagonista percam completamente o interesse. Águas que Corroem era algo que poderia ser interessante, mas que, com o perdão do trocadilho, acaba corroído por seu apego pela facilidade. Foi fácil demais deixar de lado qualquer trama com potencial interesse pelo caminho — como o próprio enfrentar o estar sozinha, o encontro com Lowell ou qualquer outra coisa que fosse — e se dedicar aos homens malvados em uma intriga policial mal amarrada de tráfico de drogas e transformar isso no grande desafio de sobrevivência de Sawyer, transformando-a em mais uma last girl durona, como tantas outras do cinema.

Um desperdício de dinheiro, tempo e personagem. Pelo menos o nome em português chegou para dar a dica de que havia algo de errado com o que vinha pela frente.

Um grande momento
Cabeçada no nariz

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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