O brilho das luzes não alcança todos os cantos. Entre arquivos pessoais, vozes de amigos e fragmentos de bastidores, surge a figura de um jovem que parecia estar sempre em dois lugares ao mesmo tempo, vibrando no palco e se recolhendo no silêncio. É assim que Avicii – I’m Tim, de Henrik Burman, costura a imagem de Tim Bergling, mais próximo do homem do que do mito, ainda que preso ao formato seguro de um tributo.
O documentário percorre a infância, a ascensão meteórica, os bastidores das turnês, o desgaste físico e emocional que se tornaram parte inseparável de sua trajetória. Há algo de magnético nas falas de amigos, familiares e parceiros de estúdio, não pelo que revelam de novo, mas pela forma como reiteram a figura de alguém obcecado pela perfeição, generoso no trato e silenciosamente carregando o peso de uma pressão que nunca soube administrar. A voz de Tim em entrevistas antigas, entrecortada por imagens de multidões e de quartos de hotel vazios, dá corpo a um paradoxo que atravessa todo o filme: o artista que move massas e o homem que só queria um pouco de paz.
Ainda que revele fragilidades e dilemas, Avicii – I’m Tim não se afasta do padrão do documentário musical autorizado. A estrutura segue o caminho previsível da consagração à queda, com passagens emotivas, montagem eficiente e depoimentos que reforçam a imagem de ícone. Falta a ruptura, a pergunta desconfortável que poderia ampliar a reflexão sobre o que a indústria exige e destrói. Burman opta por preservar, talvez por respeito, talvez por escolha estética, e o resultado mantém o tom seguro de tributo, sem arriscar demais no desconforto.
Mesmo dentro desse molde, há momentos que atravessam. Quando a narrativa desacelera para mostrar o rosto de Tim perdido em silêncio ou o olhar cansado após um show, o espectador se depara com a distância entre o que ele oferecia ao público e o que guardava para si. São segundos que fazem o filme pulsar, revelando que o verdadeiro choque não está na história que todos conhecem, mas na sensação de que poderíamos ter escutado mais o homem e menos o ídolo.
Avicii – I’m Tim termina como começou, com o artista e o homem coexistindo na mesma figura, mas agora mais próximos de se confundir. Fica a certeza de que, por trás de cada luz que se acende, há sombras que o espetáculo não alcança. Em imagem e som, Tim se cristaliza entre a euforia e o vazio, na fronteira em que a música ainda ecoa, mas já não consegue abafar o silêncio.