Big Jato

(Big Jato, BRA, 2015)

Comédia
Direção: Cláudio Assis
Elenco: Matheus Nachtergaele, Marcélia Cartaxo, Rafael Nicácio, Artur Maia, Vertin Moura, Francisco de Assis Moraes, Clarice Fantini, Fabiana Pirro, Gabrielle Lopes, Pally Siqueira, Jards Macalé
Roteiro: Xico Sá (livro), Hilton Lacerda, Ana Carolina Francisco
Duração: 93 min.
Nota: 5

Cláudio Assis é conhecido por sua acidez, pela crueza com que expõe um mundo onde o lado mais obscuro e sujo se sobrepõe a todo resto. Em Big Jato, o diretor pernambucano parece querer mudar isso. Apesar de manter algumas de suas marcas registradas, trata a história escatológica com cores e contornos suaves, abandonando a crueza e podridão da vida.

Baseado no livro de mesmo nome de Xico Sá, o longa conta a história do jovem Xico, que está dando os primeiros passos na descoberta da vida, do amor e do sexo. Apaixonado por poesia, ele passa os dias com o pai, também Francisco, que ganha a vida desentupindo fossas na pequena cidade Peixe de Pedra.

Além do pai, o jovem recebe a influência de seu tio radialista, um libertário que alardeia aos quatro ventos que descobriu um dos maiores segredos da indústria fonográfica, a banda Os Betos, que influenciou ninguém menos que Os Beatles.

Ao pensar que o filme foi dirigido por Cláudio Assis, o estranhamento está em todos os lugares. Reconhece-se o apego poético, algumas soluções cênicas e a verve dos personagens, mas está tudo muito higienizado, tudo muito redondo e quadradinho, em contraposição com toda filmografia do diretor.

O estranho é que por mais que tente se afastar da filmografia, vários elementos do próprio filme relembram muito seus longas anteriores, em especial o potente Febre do Rato, último filme do diretor. O apego à poesia é o primeiro destes pontos. Muito do jovem Francisco está em Zizo, protagonista daquele filme. Não que ele seja como a fase adulta desse jovem, mas é tão apaixonado pelas palavras quanto. Outro reconhecimento imediato está na figura do tio, que quase assume o papel de defensor thelêmico da vez.

Com essa ideia na cabeça, é difícil comprar a história de uma cidade encravada no sertão e a metáfora de que é preciso sair deste lugar, que prende e “empedra”, para começar a viver. Não que seja ruim, mas é, de certo modo, superficial.

Além disso, há um estranhamento com a fotografia, ainda que bela de Marcelo Durst, e com a condução dos atores. Matheus Nachtergaele funciona por vezes como o velho Francisco, mas deixa a desejar na pele do tio Nelson. Marcélia Cartaxo, ainda que responda quando exigida, não tem como crescer. De todo elenco, os destaques são dos jovens Rafael Nicácio, como Xico, e Vertin Moura, como Jorge, ou George, como ele gosta de ser chamado.

A sensação que fica é a de que Assis quis alcançar um cinema mais acessível, mais facilmente digerível pelo grande público e, principalmente, pelo público infanto-juvenil, mas aquilo tudo que se vê não combina com ele. É como se a mudança o deixasse de alguma maneira travado, tentando explorar um campo onde ele não está confortável para trabalhar.

Mas é a primeira incursão nessa seara e, mais do que se sentir confortável neste campo, é preciso acostumar a audiência, já ansiosa por um outro modo de fazer cinema e marcada pelas chacoalhadas que ele sempre soube como dar naquelas pessoas que estão sentadas na cadeira.

Um Grande Momento:
Os Betos.

[48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro]

Sair da versão mobile