Canto dos Ossos

(Canto dos Ossos, BRA, 2020)
Terror
Direção: Jorge Polos, Petrus de Bairros
Elenco: Rosalina Tamiza, Maricota, Lucas Inácio Nascimento, Noá Bonoba, Mariana Costa, Ana Manoela, Thai Pata, Gabriel Freitas, Jupyra Carvalho, Paula Haesny Cuodor, Heloise Sá, Lucas Souza, Vitor Tambelli, Ana Luiza Santos-Fernandes, Luiza Victorio, Ramyro Carvalho, Lucas Bittencourt, Jorge Polo, Petrus de Bairros, João Filgueiras, Catu Gabriela Rizo, Gustavo Pires
Roteiro: Jorge Polo, Petrus de Bairros
Duração: 88 min.
Nota: 4

Outrora no início da adolescência, era tradicional a brincadeira da salada mista, que no código das frutinhas equivalia a beijo na boca e, portanto, representava a maior graça do jogo. Produzido por jovens, para jovens, com jovens, Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros, assemelha-se a uma salada de frutas feita no escuro, com coisas maduras, coisas verdes, coisas passadas e talvez um sal confundido com açúcar. O leite condensado por cima faltou, substituído por groselha (que lembra sangue). Beijos e mais garantidos.

Propondo uma conexão entre o final do século XIX e a atualidade, a trama acompanha joviais bebedores de sangue que não são vampiros porque saem lindos em selfies, aparecem em espelho, pegam sol tranquilamente, ganham unhas grandes, não dentes, e não sofrem com aquelas famosas restrições todas. Algumas características, no entanto, são semelhantes, como a possibilidade de transformar (ou matar facilmente) outras pessoas, a luxúria e a imortalidade.

O estereótipo surge na caracterização de Diego e na postura de forasteira sedutora de Naiana, mas o clichê é contrabalançado pelas profissões ordinárias assumidas pela dupla: ele trabalhando em farmácia, ela professora. Ofícios distantes da fantasia vampiresca glamourosa, porém próximos dela conceitualmente pela transmissão de ensinamento e poder curativo.

É perspicaz o posicionamento de Naiana como mestra de literatura repreendida por usar em sala poema obsceno de 1893. Foi realmente gigantesco o retrocesso e os considerados monstros na verdade são salvadores. São periféricxs, forasteirxs, assalariadxs, desempregadxs, maconheirxs, festeirxs e lgbts que protegem seus amigos, trocam fluidos com prazer e agressividade, e condenam os queridos à vida eterna (castigo ou privilégio?) na possibilidade de sua companhia, guardando para sempre a marca do primeiro caso. Romântico, não é?

Num outro núcleo existem três amigos fluminenses recém-formados no ensino médio que encaram as possibilidades de futuro: ficar, partir ou perecer. Deslocados, por mais que estejam encaixados nos acontecimentos, eles pelo menos são mais interessantes e minimamente resolvidos do que a parte do vilão enriquecido pelo sucesso de seu método de ensino e responsável pelo novo empreendimento da cidade, um grande hotel. Supera qualquer limite da tosquice o cabeça do mal com aparência de Palpatine de Star Wars e voz de idoso fumante sem fôlego algum restante. Não fosse a legenda seria difícil acompanhar seus planos malignos sem explicação…

É tudo muito escuro, o som falha, algumas pessoas são meio parecidas e ao mesmo tempo bastante diferentes, e por vezes é complicado identificar quem é quem e onde (a ausência de continuidade por conta do intervalo longo das gravações, ocorridas em diferentes anos, é a culpada). Aparentemente, pelo puro desejo de mostrar ousadia, volta e meia uma gosma invade a tela ou tudo fica vermelho por causa dos óculos de determinado personagem. Há uma narração literária que sobra e definitivamente as sequências cearenses são melhores que as de Búzios, litoral do Rio de Janeiro.

Uma miscelânea indigesta com boas conexões, cópias malfeitas e raramente sangue fresco, Canto dos Ossos é educação sentimental com base no romantismo, mas atenta aos dias de hoje. O jovem é emocionado assim mesmo.

Um Grande Momento:
As preliminares envolvendo o filho do prefeito.

[23ª Mostra de Tiradentes]

Sair da versão mobile