(Cartel Land, MEX/EUA, 2015)
DocumentárioDireção: Matthew Heineman
Roteiro: Matthew Heineman
Duração: 100 min.
Nota: 7
Cartel Land é uma daquelas experiências que choca o espectador. Além dos cartéis do tráfico de droga, o filme trata de algo muito mais complexo e apavorante, até onde se pode chegar com a justiça pelas próprias mãos.
Matthew Heineman não começa sua história por personagens específicos ou com imagens do conflito que realmente gostaria de esmiuçar. Diferente disso, com uma boa concepção visual, acompanha um grupo de mexicanos durante a confecção de meta-anfetamina, uma das drogas mais consumida nos Estados Unidos. É daí que o público parte para a história de pessoas que acreditam estar fazendo o bem, independente das consequências de seus atos.
Nessa coprodução entre México e Estados Unidos, Heineman volta sua lentes para duas figuras distintas: Tim “Nailer” Foley, um veterano de guerra que vive isolado e tem como principal objetivo proteger a fronteira entre os dois países do tráfico de cocaína; e José “El Doctor” Mireles, um médico de uma pequena cidade mexicana que resolve encabeçar a criação de uma milícia armada para exterminar o cartel “Cavaleiros Templários”, que aterroriza a população local.
O primeiro vive sua obsessão, com traços de mania de perseguição, sentindo-se esquecido pelo governo estadunidense e indignado frente ao crescimento dos cartéis no lugar hoje conhecido como Cocaine Valley. Assim, compra equipamentos cada vez mais caros para rastrear movimentação, forma turnos de vigia e tenta constantemente angariar novos membros para seu grupo de patrulheiros.
O segundo, também sentindo-se abandonado pelo governo mexicano, alterna os atendimentos em um hospital com reuniões para a formação de um grupo de pessoas do estado de Michoacán que querem fazer algo para acabar com a dominação do violento cartel. Com seu carisma, conquista a população, que resolve pegar em armas para combater o crime.
Enquanto a história de Foley se volta mais para os efeitos individuais da jornada do “salvador”, a segunda é mais completa e interessante por abordar questões como o limite da violência, hierarquia, descrença no Estado e descontrole social. A reação humana de ocupar um lugar vazio, para preencher lacunas que comprometem seu bem-estar, mistura orgulho e cobiça, como bem se sabe. Com decisões atrapalhadas dos dirigentes do grupo de auto-defesa após um acidente de El Doctor e soluções estapafúrdias do governo para o problema, o Michoacán não é dos mais promissores.
O que mais impressiona no documentário de Heineman é todo o trabalho de pesquisa realizado para a construção do longa-metragem. O acesso conseguido pelo cineasta aos diversos lados dos grupos e pessoas retratados revela uma infinidade de nuances fundamentais para compreender o desenrolar dos fatos que se seguem.
Como fala de cartéis e o combate a eles, sempre com armamento muito pesado, o que se vê na tela não é muito agradável aos olhos, mas o diretor consegue sempre fazer com que suas imagens sejam realmente significativas.
Cartel Land só perde um pouco a força em seu desfecho, quando tenta determinar psicologicamente seus personagens principais. O documentário assume então um ritmo muito diverso daquele frenético que manteve a tensão sempre em alta. Não que a passagem seja descartável, mas poderia funcionar melhor em um outro momento.
Um daqueles filmes que fazem a gente pensar, e muito, sobre a importância das instituições do Estado e o quão nociva pode ser a ineficiência delas. Sem falar da armadilha que é a justiça pelas próprias mãos.
Um Grande Momento:
A sede do grupo de autodefesa.
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Links
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