Ao sair do aeroporto, um dia ensolarado e quente me esperava e, no caminho, alguns poucos metros de uma chuva grossa, que mal chegou e já foi embora, como é típico daqui. Impossível não sentir saudade ou ficar triste ao chegar em um lugar que conheço desde que nasci, mesmo com o mau-humor do taxista.
O motivo desta vinda, a cobertura do festival, também me deixa muito feliz. O FIC foi fundamental no meu interesse pela sétima arte e na minha formação cinéfila, mas enfrenta todos os anos o risco de não acontecer. E que falta faria caso não acontecesse pois, se o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que começa semana que vem, fosse o único evento do cinema, muito pouco se conheceria a produção alternativa mundial.
Contrariando todas as expectativas, o acesso da população ao cinema de arte aqui é bem complicada. Não é Rio e nem São Paulo e está muitos passos atrás do desenvolvimento cinéfilo de outras capitais do Brasil, como Belo Horizonte e Porto Alegre.
Mesmo sendo o terceiro pólo de cinema do país, possuindo o maior número de salas de cinema por habitante e sediando o mais antigo e tradicional festival, a maioria das projeções de Brasílias são realizadas por grupos de cinema como Cinemark e Severiano Ribeiro e privilegiam a rentável produção pipoca estadunidense.
Poucas são as salas abertas ao cinema menos badalado e menos lucrativo, vamos dizer assim. Cine Brasília, Embracine, Academia de Tênis e algumas salas menores são as que tentam preencher a brecha, mas nem sempre com muito sucesso, até pela incompatibilidade da quantidade de filmes produzidos com a de projetores disponíveis.
É por isso que o FIC é importante para a cidade. Em uma cidade onde é tão difícil acompanhar o cinema de fora de Hollywood, um festival como este é um deleite para os cinéfilos carentes que se desdobram em dois para chegar nos locais de projeção, nem tão acessíveis assim para aqueles que não tem carro ou carona.
E é importante para mim também, pois foi com esse festival, aqui na minha cidade, que conheci um monte de coisas raras, aprendi que ver muitos filmes em um mesmo dia não funciona, testei os meus limites e descobri que o cinema era (e sempre vai ser) muito mais do que aquilo que eu pensava.