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Cinco Chances para Ser Feliz

Choque na tela e fora dela

(Five Blind Dates , AUS, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia Romântica
  • Direção: Shawn Seet
  • Roteiro: Shuang Hu
  • Elenco: Shuang Hu, Yoson An, Ilai Swindells, Tzi Ma, Renee Lim, Tiffany Wong, Scott Lee, Jon Prazida, Desmond Chian, Rob Collins, Linda Hsia
  • Duração: 82 minutos

Esse é o período que mais recebemos avalanches de filmes românticos estreando, porque a América do Norte vive o período do Valentine’s Day, o Dia dos Namorados deles. Com isso, os streamings ficam lotados de opções do gênero – e se vocês acham que o site já está cheio, aguardem os próximos dias. Essa Cinco Chances para Ser Feliz é uma delas, e seu diferencial é geográfico e acaba por chamar atenção no balaio de gatos que entopem as opções de verdade. Assim como Todos Menos Você, o filme também se passa na Austrália e mostra o atual excelente momento da Oceania em se autopromover. O diferencial aqui ainda é outro, porque o filme se passa dentro de uma comunidade oriental por lá, ou seja, é suco de cultura de verdade. 

O diretor Shawn Seet é uma desses habitantes desta metrópole, assim como sua roteirista e protagonista, Shuang Hu. São australianos com descendência chinesa, que transportaram um tanto de cultura asiática para o país. Essa interação, que provoca o diferencial já dito, é também a beleza do filme, que mostra aquele tradicional embate entre os costumes de um povo e um grito por modernidade, por independência. A personagem principal, Lia, vive isso em sua rotina, porque escolheu sair do interior controlado para o centro de Sydney, e paga o preço dessa escolha todos os dias. Esse é viés maior de interesse em Cinco Chances para Ser Feliz, muito bem colocados no título em português, que tentam associar o progresso de sua personagem a um estado de espírito que precisa ser alcançado. 

Ainda que a narrativa gire em torno da busca por alguém, atividade essa que nem foi da escolha de sua protagonista, Cinco Chances para Ser Feliz tem um embate em certa cena que transmite o tanto de inquietação que pairava sobre essa família há alguns anos. É através desse acerto de contas verbal que nos aproximamos das cobranças que Lia ainda sofre, que reflete uma obrigação por ser bem sucedida, e que não está na pauta do dia de muitos outros países pelo mundo. Enquanto imigrantes, a cobrança pelo sucesso é ainda maior entre os personagens do filme, que parecem viver uma realidade parecida com a de um romance de Jane Austen hoje. Não há qualquer problema em casamento por aparência, seja da parte de quem for; tudo são negócios, e esse é um tema esclarecido. 

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Nessa estrutura, por mais que Lia tenha fugido ao que se esperava dela, ainda assim restou em sua essência essa necessidade de progredir, que ela em nenhum momento questiona como algo que a aflige psicologicamente. É um contraponto interessante a uma visão de liberdade moderna sem cortar por completo os laços com esses interesses ancestrais, e que parecem ter desaparecido junto com Popo, a avó falecida de Lia, que não está em cena mas representa um olhar para a independência emocional ainda nem sonhada por ela. É uma dubiedade que cai bem a Cinco Chances para Ser Feliz, como compreender quem veio antes de si e absorver ainda parte desses ritos não impede um desejo verdadeiro de libertação dessas obrigações. Mas que nem se tenta realizar. 

No plano principal, Liz precisa encontrar seu “príncipe encantado”, que além de tudo é dito pela própria previsão que precisa aparecer porque será ele a ajudá-la financeiramente na casa de chás que abriu, e que se encontra com dívidas sérias. Isso é ouvido por Lia e assimilado com tranquilidade, o que mostra que mesmo o filme também se ressente dessa escolha em relação a libertação absoluta com suas raízes. É um jogo interessante de compreensão para outra cultura, onde o feminismo caminha em outro ritmo. Mais um filme essencialmente feminino na frontalidade dos temas, mas que parece guardar preceitos cuja formação sabemos qual é. E talvez títulos como Cinco Chances para Ser Feliz venham com a ideia de também nos fazer reafirmar o que já está avançado entre nós. 

Um grande momento

A prova dos vestidos

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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