Drama
Criador: Sanne Nuyens, Bert Van Dael
Temporada: 1-
Elenco: Maaike Neuville, Maaike Cafmeyer, Luc De Ruelle, Zouzou Ben Chikha, Souad Boukhatem, Aimé Claeys, Bart Claeys
Duração média: 40 min.
Canal Netflix
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Este texto será um diálogo escrito entre Soraya Lopes e Cecilia Barroso para pirar sobre a série belga Doze Jurados. Uma provocação de Soraya à Cecilia, numa manhã de sábado…
Decidir sobre a culpa do outro é se relacionar muito profundamente com a sua própria. Seja com relação à sua forma de ver os motivos e circunstâncias para se tirar uma vida, seja com relação aos seus erros remorsos mais sombrios. Cada um tem sua história, sua intimidade, sua forma de ver e interpretar. Fica óbvio que é inevitável ver os fatos de forma nua e crua, sem o véu de suas posições de vida atuais que permitem as possíveis perspectivas apresentadas, impossibilitando um processo de fato mecânico ou integralmente justo aos olhos de todos.
Há uma discussão muito antiga e pertinente no Direito que questiona o júri popular, justamente por este ser composto por pessoas leigas, que não têm o conhecimento mínimo da ciência jurídica. Um dos pontos positivos de Doze Jurados está justamente em defender essa pluralidade de análises, esse aprofundamento tão interno que traz as contradições necessárias para entender/julgar as atitudes do outro.
Indo além da função em si, o ato de definir a culpa ou não de alguém que não é próximo, a experiência pode ser dolorosa e desgastante para alguns, a cisão com o próprio eu, com o autojulgamento e a autocondenação, pode trazer um crescimento tão joia se for permitida a auto-redenção (por favor, se perdoe sempre!).
O enredo não permite que saibamos quem é o culpado totalmente até o último minuto. Ao longo dos episódios alguns suspeitos se somam à lista de possíveis, que trazem dúvida se Frie (Maaike Cafmeyer) é realmente a culpada pela morte da melhor amiga e sua própria filhinha. Todos teriam motivos, demonstram conflitos à Dostoiévski e mostram mentiras e problemas de discurso.
O mesmo jogo de contradições permeia a vida dos jurados. Se deles conhecemos a culpa ou a tolerância à culpa de alguém, consigo ou com o outro, há toda uma dedicação ao como essa relação se estabelece. Assim também é com os prazeres e a dedicação a eles. No fundo, o que se vê na tela é uma reafirmação de o quanto a humanidade é homogênea quando se trata da influência do instinto em suas ações.
Por mais díspar e aleatório que seja um grupo em si, aquilo que está por trás de todos se comunica de forma perfeita, é compreendido pela identificação e proximidade. Os problemas são outros, mas os problemáticos são os mesmos. Assim, Doze Jurados nos leva a um outro ponto igualmente interessante: a construção da culpa e da vontade. Está ali na dívida que cresce permanentemente. Em “Genealogia da Moral”, um estudo de Nietzsche sobre culpa e a criação da divindade, ele questiona “Os conceitos de ‘dívida’ e ‘dever’ devem se revoltar – mas contra quem? Sem dúvida, é, antes de tudo, contra o ‘devedor’, em quem a má consciência se enraíza, se infiltra e aumenta, crescendo como um pólipo” e somos todos devedores.
Mas o dever vem justamente da vontade, aquela que Schopenhauer investigou e definiu como um cego que carrega um aleijado, sendo este último a nossa consciência. “O desejo, por sua natureza, é dor: sua realização traz rapidamente a saciedade; a posse mata todo o encanto”.
Tanto “Crime e Castigo” quanto os filósofos parecem servir de inspiração aqui: o assassino pode estar à altura de seu niilismo no momento do ato, quando por um momento se julga para além do bem e do mal. Mas depois, quando lhe recai em sua consciência o remorso, pode não haver pior pena para padecer. E assim também é para aqueles que analisam essa culpa, incomparável, mas tão possível dentro de todos.
Melhor episódio
T01E09 – Ulrich en Elisabeth