Duas Rainhas

(Mary Queen of Scots, GBR/EUA, 2018)
Drama
Direção: Josie Rourke
Elenco: Saoirse Ronan, Margot Robbie, Aneurin Pascoe, Simon Russell Beale, Maria Dragus, Thom Petty, Adrian Derrick-Palmer, James McArdle, Guy Pearce
Roteiro: John Guy (livro), Beau Willimon
Duração: 124 min.
Nota: 4

Tudo o que se vê em Duas Rainhas é de encher os olhos. Visualmente, está tudo no lugar certo, dos figurinos de Alexandra Byrne ao desenho de produção de James Merifield, e muito bem fotografado por John Mathieson. Além do visual, entre os destaques positivos do filme há ainda as atuações de Saoirse Ronan e Margot Robbie como Mary Stuart e Elizabeth I, respectivamente.

E paramos por aí. Tentando dar conta da complexa história da disputa pelo trono das duas primas rainhas e da própria História da ilha de Albion, o filme atualiza eventos e encontra novas personalidades para suas protagonistas. O fundo histórico por trás da romantização vem do livro “Mary Queen of Scots” de John Guy. A romantização, que atualiza as personagens que já foram vividas por Katharine Hepburn e Florence Eldridge, e por Vanessa Redgrave e Glenda Jackson no cinema tenta reverter imagens previamente estabelecidas e adequar, talvez inadequadamente, eventos de época à conscientização social atual.

Só para exemplificar, é sabido que a grande questão na separação entre Escócia e Inglaterra do Século 16 tinha um fundo religioso. Protestantes e católicos lutavam por poder e prevalência. Elizabeth era protestante, só era rainha porque seu pai rompera com a Igreja Católica para casar-se com sua mãe. Mary era católica e, além de querer tomar o trono por considerar-se legítima (para ela, a prima seria apenas uma bastarda), enfrentava a onda protestante encabeçada por John Knox na Escócia. Será que é possível que alguém, enquanto essa questão era tão presente e influente, em uma corte tão permeada por valores morais e afins, fosse tão cabeça aberta quanto a Mary do filme?

Além disso, a ideia de dar qualquer valoração feminista a uma história de competição tão extrema, que enxerga a morte como única solução, é no mínimo equivocada. A força das duas rainhas é um fato e nem isso o filme consegue acessar com muita propriedade, entrando no jogo de diminuição de uma para valoração da outra, de legitimação daquela em detrimento desta. Ou seja, assume um papel de favorecimento que chega até a contrariar sua posição principal. É perceptível a tentativa de caminho estabelecida pela diretora Josie Rourke, mas o fracasso na execução é inegável.

Mais do que apenas contexto, a construção das duas rainha é desequilibrada e tendenciosa, seja nas ações definidas pelo roteiro de Beau Willimon ou nas opções estéticas de Rourke. Em ambientes mais livres e em movimentos que ressaltem seu carisma, Mary tranforma-se naquela que merece a atenção, ao contrário de Elizabeth que, em ambientes fechados e menos pessoais, é relegada ao cargo de uma antagonista com muito menos coisa a ser explorada além de defeitos.

Duas Rainhas encontra o caminho menos interessante para uma história que tem elementos para ir bem além do que se vê na tela. Ainda que tenha duas atrizes que rendem absurdamente e imageticamente desloque o espectador para a história que quer contar e a época que quer retratar, sofre com a falta de verdade e parcialidade. Assim, o desinteresse acaba prevalecendo a qualquer curiosidade que possa surgir.

Um Grande Momento:
O encontro.

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