Em Nome de Deus

(The Magdalene Sisters, GBR/IRL, 2002)

Drama

Direção: Peter Mullan

Elenco: Anne-Marie Duff, Nora-Jane Noone, Dorothy Duffy, Geraldine McEwan, Eileen Walsh, Mary Murray, Britta Smith

Roteiro: Peter Mullan

Duração: 119 min.

Minha nota: 8/10

Inacreditavelmente, até pouco tempo atrás existiam vários reformatórios católicos na Irlanda para onde garotas eram mandadas pela família ou por orfanatos para pagarem seus pecados.

Conhecidas como as Irmãs de Madalena, protituta que teria lavado os pés de Jesus Cristo, elas eram submetidas a todo tipo de tortura e ao trabalho forçado em lucrativas lavanderias.

A história foi contada pela primeira vez no documentário para tv Sex in a Cold Climate e impressionou todos que o assistiram, inclusive Peter Mullan que, depois de entrevistar ex-cativas dos reformatórios, escreveu e dirigiu Em Nome de Deus.

Baseado nas mesmas mulheres que participaram do documentário, ele recriou suas tristes histórias. Os motivos para a ida das protagonistas do filme não poderiam ser mais absurdos. Margaret foi estuprada por um primo, Rose engravidou antes do casamento e Bernadette era bonita demais.

O roteiro do filme é muito bom e consegue passar ao espectador todo o absurdo da manutenção de tais casas e a indignação do diretor. As atrizes também estão todas muito bem.

Desde as primeiras cenas dentro do asilo já começamos a sentir repulsa por tudo que vemos acontecer e Geraldine McEwan é uma das principais responsáveis por isso. Ela é cínica e cruel na medida certa.

O que mais choca é saber que mais de trinta mil mulheres passaram pelos reformatórios e que o último só foi fechado em 1996, ou seja, a menos de quize anos. E a motivação foi muito mais econômica do que social. Pois, com a popularização das máquinas de lavar, muitos clientes, como hotéis da região, deixaram de utilizar os serviços das freiras e, por isso, as instituições foram fechando pouco a pouco.

É muito triste ver que seres humanos se aproveitaram da fé e do puritanismo que eles mesmos pregam, de forma tão cruel e baixa, com o único objetivo de ganhar dinheiro.

A Igreja Católica condenou o filme e através do jornal do Vaticano, L’Osservatore declarou que a produção não passava “provocação rancorosa”. Até a direção do Festival de Veneza, que premiou o filme com o prêmio máximo, foi criticada por, segundo eles, premiar uma “propaganda anticatólica”.

Em entrevista à Elaine Guerini, publicada na Revista Trópico, Peter Mullan comentou as críticas do Vaticano:

“Não esperava muito mais do que isso por parte da Igreja. Até porque uma investigação severa sobre o que se passava nos asilos mostraria que o meu filme é quase um acampamento de férias, se comparado ao que realmente aconteceu. Freiras que viram Em Nome de Deus disseram que a produção poderia ter retratado duas horas de violência contínua.”

Depois de ver o filme, o documentário e ler a respeito não consigo parar de pensar: como é que ninguém fez nada antes? Com que desculpa se mantém um local de tortura tão absurdo até a década passada? Ninguém via? Ninguém ouvia falar?

Sem dúvida é um filme que merece ser visto tanto por seu valor artístico como por seu conteúdo histórico social.

Mas quem vai assistir, já deve estar preparado para coisas pesadas e que fazem pensar por muito tempo.

Um Grande Momento

O olhar entre Margaret, que queria fugir, e Una, que acabara de voltar.



Prêmios e indicações
(as categorias premiadas estão em negrito)

BAFTA: Filme e Roteiro Original

César: Filme da União Européia

Festival de Veneza: Leão de Ouro

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