Na coletiva internacional de Coração de Lutador: The Smashing Machine, Dwayne Johnson parecia mais leve do que em qualquer outro momento da carreira. Falando direto de Los Angeles, o ator relembrou os caminhos que o levaram até Mark Kerr, o lutador de MMA que virou símbolo de força e dor. Dirigido por Benny Safdie e estrelado também por Emily Blunt, o filme o afastou dos blockbusters e o aproximou de algo que ele define como “radicalmente humano”.
“Esse foi o papel mais desafiador da minha vida. O filme mudou minha relação com a dor”, contou Johnson, com a naturalidade de quem ainda se espanta com a própria entrega. “Durante anos, eu carreguei traumas e lutas internas que nunca quis explorar diante das câmeras. Agora percebi que podia transformar isso em algo verdadeiro.”
Ele se referia à relação de Mark Kerr com o vício e à própria experiência como lutador profissional, e ao fato de ter visto muitos amigos sucumbirem à depressão e à dependência. “Foi impossível não pensar neles. Percebi o quanto é importante falar sobre isso, especialmente num meio que exige invencibilidade. Esses caras parecem feitos de ferro, mas não são.”
O ator também comentou a decisão de se afastar do cinema bilionário e se permitir o risco. “Eu queria algo que me assustasse”, disse. “Fazia tempo que não me sentia nervoso diante de um papel, mas o medo é um ótimo sinal: ele me mostra que ainda tenho algo a aprender.”
Em Coração de Lutador, as lutas físicas são intensas, mas Johnson diz que as cenas mais exaustivas foram as emocionais, ao lado de Emily Blunt. “As brigas entre o casal são o verdadeiro centro do filme. Elas exigem mais do que qualquer outra. Causam ferimentos que você não cura com gelo.” O ator relembrou que a parceria entre os dois foi decisiva: “Há uma confiança que nos permitiu despir tudo. Sabíamos que um estaria lá para o outro quando as cenas ficassem pesadas.”
A vulnerabilidade, aliás, foi o grande tema da entrevista. Johnson falou sobre o peso de sustentar uma imagem pública de força. “Cresci ouvindo ‘homem não chora’. Eu ouvi isso a vida inteira. Mas ser forte também é aceitar a fragilidade. Força e vulnerabilidade podem coexistir.”
Ele contou que o processo de filmagem o fez reavaliar o próprio papel na indústria. “É difícil viver tentando sustentar uma imagem. Com Mark, percebi o quanto isso pode ser sufocante. Hoje, o que mais busco é paz. Quero estar em paz com as decisões que tomo e isso só é possível sendo verdadeiro comigo mesmo.”
No final da conversa, quando uma jornalista perguntou o que o papel lhe ensinou sobre o custo de ser forte, ele respondeu sem hesitar: “Às vezes, o mais importante não é ser forte, mas aceitar a fraqueza. Às vezes, o que você mais quer é justamente o que nunca deveria acontecer, e isso pode ser a melhor coisa da sua vida.”