Bugonia e as teorias de conspiração

Em Bugonia, Yorgos Lanthimos leva a paranoia a outro nível e Emma Stone mergulha de cabeça, literalmente, em mais um papel maluco na sua carreira. O filme, uma releitura de Save the Green Planet!, de Jang Joon-hwan, nasceu durante o isolamento da pandemia, quando o roteirista Will Tracy escreveu a história em meio a dúvidas e desconfianças sobre o mundo. “Eu estava trancado em casa, com um bebê recém-nascido, sem saber no que acreditar. Acho que essa confusão entrou no roteiro”, contou.

Lanthimos, fascinado pelo texto, disse ter sido tomado pela complexidade e pelo humor sombrio da trama. “Não sou muito analítico no início. Sinto quando há algo além da superfície, e Bugonia tinha isso. O filme reflete o estado do mundo; o medo, a paranoia, a necessidade de acreditar em algo, mesmo que absurdo”, afirmou.

Para Emma Stone, o impacto foi imediato. “Amei o roteiro desde a primeira leitura. É estranho, imprevisível, engraçado, violento, emocional. Tudo isso ao mesmo tempo”, disse. Jesse Plemons, parceiro de cena e também produtor, completou: “Vivemos tempos desorientadores, cheios de medo. Eu procuro obras que explorem isso com honestidade, sem moralismo. Bugonia faz exatamente isso.”

A atriz não hesitou diante do desafio físico do papel. O roteiro previa que ela raspasse a cabeça — e Lanthimos sequer precisou pedir. “Estava lá na página 11”, brincou. “Fazia parte da história e do personagem. Nunca cogitei usar uma careca cenográfica. E o Yorgos raspou o cabelo em solidariedade”, contou rindo.

O elenco destaca a liberdade e a confiança que o diretor oferece no set. “Trabalhar com o Yorgos é como ser um barco e ele ser o farol”, disse Emma. “Ele deixa cada um se lançar ao mar para descobrir o que pode trazer de volta, e está ali para guiar a direção.” Jesse completou: “É uma relação de confiança. Não há ensaio no sentido tradicional, há espaço para errar e descobrir.”

Essa cumplicidade se estende também a Will Tracy, que celebrou o incentivo de Lanthimos para abraçar o lado mais abstrato da narrativa. “Ele me ensinou que nem tudo precisa ser literal. As lembranças, os delírios, os absurdos podem coexistir. Isso me libertou como roteirista”, afirmou.

Sobre o tom entre o cômico e o trágico, o diretor vê o desequilíbrio como parte essencial do cinema. “Você nunca sabe exatamente o ponto de equilíbrio. O filme é uma combinação de elementos que se transformam o tempo todo, no roteiro, na atuação, na montagem, na música. O resultado é uma experiência que muda para cada espectador.”

Ao fim da coletiva, o grupo se divertiu respondendo à pergunta mais excêntrica do dia: o que salvariam em caso de invasão alienígena. Will Tracy escolheu o filme Nosso Querido Bob; Yorgos, O Batedor de Carteiras, de Bresson; Emma hesitou entre City Life e qualquer disco de Townes Van Zandt. “Sem música, nada faz sentido”, concluiu.

Bugonia é, afinal, sobre isso: a tentativa de manter algum sentido em meio ao caos. Entre o riso, o medo e o absurdo, o novo filme de Lanthimos confirma que, na sua lógica distorcida, o mundo ainda é um lugar caótico demais para ser entendido, mas irresistível de observar.

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