Phillip atravessa Tóquio como quem cumpre tarefas no automático, sempre num ritmo baixo, como se a cidade inteira estivesse alguns passos à frente dele. A atuação de Brendan Frasier acompanha esse estado de suspensão, sem grandes variações, carregando um cansaço silencioso que combina com a maneira como o personagem está no mundo. Quando aceita trabalhar numa agência de famílias de aluguel, tudo se encaixa nesse mesmo tom, como se ele aceitasse qualquer coisa que o mantivesse em movimento.
O serviço oferece vínculos improvisados, afetos que duram o tempo exato de uma contratação. Algo que existe de verdade no Japão, com empresas que, desde os anos 2000, passaram a oferecer atores para interpretar parentes, cônjuges, colegas de trabalho ou amigos para situações sociais ou íntimas.
É nesse serviço já consolidado, usado por quem precisa preencher ausências, manter aparências ou cumprir papéis sociais, que o filme encontra seu ponto mais interessante, sustentado pela ironia de pagar por companhia numa metrópole onde ninguém tem tempo para sustentar laços verdadeiros. Phillip circula por vidas que não lhe pertencem, preenchendo funções emocionais alheias enquanto falha em preencher a própria existência.
A narrativa segue caminhos conhecidos, evita riscos e permanece confortável na superfície. Os encontros têm alguma delicadeza, mas não chegam a se expandir de verdade. Mesmo assim, existe força no retrato de como a necessidade de pertencer pode nos levar a papéis em vidas que não são as nossas.
No fim, Família de Aluguel é um passatempo com algum charme discreto. Observa a solidão moderna sem exagero, sem grandes ambições e com uma sensibilidade contida que combina com essa história de gente tentando não desaparecer completamente.
Um grande momento
Mia depois