Felicidade

(Happiness, EUA, 1998)

Drama

Direção: Todd Solondz

Elenco: Jane Adams, Jon Lovitz, Philip Seymour Hoffman, Dylan Baker, Lara Flynn Boyle, Cynthia Stevenson, Ben Gazzara, Louise Lasser, Camryn Manheim, Molly Shannon, Rufus Read, Jared Harris

Roteiro: Todd Solondz

Duração: 134 min.

Minha nota: 8/10

“Happiness, where are you?/I’ve searched so long for you./Happiness, what are you?/I haven’t got a clue.”

Os créditos subindo, aquele nó no estômago e a música acima rolando. Diga-se de passagem que nenhuma outra música poderia traduzir tão bem o que o filme Felicidade, de Todd Solondz, nos faz sentir. Um vazio absoluto e um aperto no peito que parece não melhorar nunca.

O filme é uma crítica feroz a todos os seres humanos e sua busca por felicidade. Para compor o seu retrato, o diretor se infiltra no meio de uma família tradicional da classe média americana e de todos aqueles que interagem com os integrantes desta. Ele trata tudo de maneira tão sarcástica que por muitas vezes temos aquela sensação de que vamos rir, mas um riso muito mais nervoso do que divertido.

Um casal com três filhas está se separando, mas não consegue encarar a decisão (“eu falei a palavra divórcio?”). Uma das filhas, Joy, ainda mora com eles e é aquela perdedora típica que não consegue nada de bom para sua vida, por mais que tente mudá-la, e é sempre vista como a fracassada da família.

A bem sucedida é Helen, uma escritora ninfomaníaca que fala de estupro em seus livros sem nunca ter sido estuprada. Ela acaba atraindo a atenção de Allen, um vizinho solitário que gosta muito, vamos dizer assim, de trotes telefônicos. Este, por sua vez, desperta a atenção de outra vizinha, a excluída e cheia de segredos Hope.

A terceira filha é a sempre sorridente Trish. Ela é casada e tem dois filhos com Bill, um psiquiatra pedófilo que não consegue resistir aos amigos pré-adolescentes de seu filho mais velho. Bill, além de sonhar constantemente com um massacre no parque, atende profissionalmente Allen e dá conselhos informais aos amigos.

Em meio a tantas histórias, a infelicidade vai marcando o seu lugar na trama, mas tudo de maneira irônica. Claro que é a pedofilia que acaba doendo mais fundo e provocando mais nojo no espectador. O pervertido, otimamente interpretado por Dylan Baker, além do sorrisinho no rosto, sempre tem uma resposta dúbia para dar.

A trilha sonora feliz e animada reforça a cruel ironia de Todd Solondz ao mexer com o lixo. O mesmo pode ser dito da fotografia clara e colorida da francesa Maryse Alberti.

O filme é cruel e trata de assuntos que preferiríamos ignorar durante toda a nossa vida. Por mais que eles aconteçam, embaixo dos nossos narizes, fingimos não enxergar.

Palmas para o diretor que de maneira corajosa conseguiu transmitir exatamente essa falta de percepção. Enquanto alguém faz uma maldade, quem está perto ouve bossa-nova, conversa sobre coisas frívolas e sorri sem vontade.

Palmas também para Dylan Baker, que deu vida a um dos personagens mais horrorosos que eu já vi no cinema.

Difícil e indigesto, o filme tem que ser conhecido. Muitas cenas incomodam profundamente, mas o jogo do diretor é muito interessante. Um jeito bem diferente de falar das mazelas de uma sociedade.

Um Grande Momento

São muitos grandes momentos, mas todos eles embrulham o estômago. Acho que o mais forte de todos é a última conversa de Bill com Billy.



Prêmios e indicações
(as categorias premiadas estão em negrito)

Cannes: Prêmio FIPRESCI (Seção Paralela)

Fantasporto: Prêmio Semana do Diretor

Globo de Ouro: Roteiro

Festival de São Paulo: Prêmio Internacional do Júri

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