Festival de Veneza faz história ao premiar documentário de Laura Poitras

O Festival de Veneza tem feito História com alguma frequência, nos últimos anos. Premiar um documentário, premiar mulheres com frequência, premiar latinos na categoria principal, tem acontecido e isso sustenta o festival e sua relevância. Para longe das declarações populistas que o festival encara todos os anos – e que tem fundamento, na sua incansável busca pelos filmes representativos da temporada, e com isso esbarrar nas premiações americanas – há uma necessidade de parecer justo, plural narrativamente, sem perder a excelência. Dito isso, pelo terceiro ano consecutivo o prêmio máximo vai para uma diretora, sem precedentes em qualquer premiação.

O júri presidido por Julianne Moore acaba de conceder o Leão de Ouro ao mais elogiado filme da competição, All the Beauty and the Bloodshed, novo longa-metragem da documentarista americana Laura Poitras (Citizen Four). O filme é apenas o terceiro documentário a ganhar a honraria máxima do festival (o recente, Sacro GRA, de Gianfranco Rosi, e Olympia, de Leni Riefensthal). Dessa vez, Poitras aborda a fotógrafa Nan Goldin, expoente nos anos 70 e 80, que há algum trava uma batalha contra a família Sackler, de fachada filantrópica porém financiadora da indústria farmacêutica interessada em produzir viciados em opióides. 

O filme foi a produção mais elogiada de uma competição de alto nível, tendo em vista o abraço coletivo que a seleção recebeu da crítica diante de seus filmes. E, em caso ainda mais raro, todos os filmes mais elogiados saíram premiados. Dá pra dizer que a disputa de Poitras era contra Alice Diop, franco-senegalesa que dirigiu Saint Omer, sobre um brutal caso de infanticídio. Seus filmes estavam no topo das preferências junto a The Banshees of Inisherin, de Martin McDonagh, TÁR, de Todd Field, e No Bears, de Jafar Panahi – todos saíram premiados. 

A bola fora da curva foi pra prata da casa, Luca Guadagnino, com sua produção norte-americana Bones & All, filme que causou surpresa ao ser bastante elogiado com sua atmosfera envolvendo romance e canibalismo. Ainda assim, o filme não estava entre os mais queridos nem entre as expectativas de premiação, o que tornou seu prêmio de direção um susto. Mas fora isso, Taylor Russell, vencedora do prêmio Marcello Mastroianni, dedicado a jovens talentos e protagonista da produção, era esperada. 

Mais uma vez, os vencedores de Veneza saem com cara de fortes concorrentes aos prêmios, televisionados ou não, nos Estados Unidos. Cate Blanchett e Colin Farrell, por exemplo, melhores atriz e ator, serão provavelmente indicados ao Oscar com toda chance de vencer. Assim como o roteiro de Martin McDonagh, e os filmes de Diop e Poitras em suas categorias, ficam imensos saídos daqui – respectivamente em filme internacional e documentário. 

Somente Jafar Panahi deve continuar vivendo a difícil situação de ser, hoje, o maior cineasta iraniano em atividade, e ser contra o governo do seu país, com isso sendo sempre bloqueado em disputas, além do mais grave, ter sua liberdade constantemente destituída, como agora, pelo Estado do Irã. Ainda assim, segue sendo um exemplo de cinema extraordinário para onde se olha. 

O Brasil levou o Grande Prêmio do Juri da categoria Imersão, que premia produções de realidade virtual, para Pedro Harres, pela produção alemã From the Main Square. Aproveitou o ensejo para declarar desagrado ao atual desgoverno brasileiro, genocida e contra a cultura, o que nunca é ruim às vésperas de uma eleição. 

Os premiados: 

[Festival de Veneza 2022]

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