Filhos do Privilégio

De tudo um pouco

Demora pra descobrirmos de onde veio a ‘ideia emprestada’ para este ‘Filhos do Privilégio’, lançamento de hoje da Netflix mas com sabor de anos 80. É como se Jordan Peele assumisse uma certa admiração por aqueles sci-fi porqueiras da década, mas o fizesse com um clima pós-teen – pós, porque ninguém do elenco convence com a idade que diz ter, quase como se fosse um ‘Grease’ vindo do espaço. Apesar das referências de ficção científica, o filme não cansa de abordar o terror em sua configuração narrativa, e o resultado não é necessariamente um daqueles produtos acima de qualquer suspeita, mas justamente algo de gosto muito duvidoso que desce. 

Filhos do Privilégio
©Jakub Bejnarowicz/Bavaria Fiction 2021

Escrito e dirigido por Felix Fuchssteiner e Katharina Schöde, essa produção alemã não tem muita vergonha na cara e esse deve ser um elogio que se faz à produção, já que sua tentativa surrada de parecer sério não demora a descer por terra. Aos poucos, começam a localizar uma quantidade infinita de referências em uma mistura de títulos e intenções que ao final nem sabemos muito bem quais são todos, onde começa e onde termina tanta estratégia de cópia e se a infância deles foi recheada dessa coleção, que transforma seu filme num mosaico meio disforme, mas que nunca deixa de investir na diversão. Se essa empolgação contagia a todos, essa é uma subjetividade que o filme paga pra ver. 

Tudo em cena é destinado para levar o espectador para um outro tempo e constantemente outro gênero, pulando de galho em galho. Quando logo após uma sessão de exorcismo o trio de protagonista se sente muito à vontade para fazer um ‘ménage a trois’ e o filme investe em cenas sensuais no meio de uma certa tensão bem pouco sexual, devemos então entender que nada foi feito para ser levado a sério. O filme, que em nenhum momento se vende como uma paródia, acaba se comportando como tal, já que as referências não cessam de surgir, indo de ‘O Exorcista’ a ‘Vampiros de Almas’, passando por ‘Prova Final’, ‘Corra!’, ‘A Bruma Assassina’, com um recheio que passa por algo político e apocalíptico. 

©Jakub Bejnarowicz/Bavaria Fiction 2021

A partir do momento que compreendemos o jogo como a chacota levada a sério que é, passamos a não cobrar qualquer verossimilhança como é de praxe em títulos assim, e percebemos que as escolhas de tom estão equivocadas como boa parte do elenco, o melhor é relaxar e curtir uma pataquada que seria ainda melhor aproveitada se assumisse essa porção inevitável, e parasse de tentar construir seriedade no filme. O resultado é um produto que tenta não ser histérico mas é, tenta não ser ridículo mas é, isso tudo tentando encontrar um público dentro da seara bem convencional que é a cara deles. 

Os efeitos, ou a criatura constituída de cinzas passadas, tem uma qualidade pouco utilizada, mas não é o suficiente para impressionar o tempo todo. Algumas passagens funcionam melhor que outras, mas se levarmos em consideração que o filme não está muito interessado em parecer sério e importante, esses deslizes gráficos até combinam com ‘Filhos do Privilégio’, que tenta fazer uma alegoria política já desde o título, flagrando a vida de benesses que ricos costumam ter, mas nada também é muito bem dosado, soando gratuito e pouco crível. Mas o que importa é a diversão, e isso o filme consegue entregar, da maneira torta que conseguiu bancar durante toda a projeção.

Um grande momento:

A abertura.

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