Filmando Casablanca

(Curtiz, HUN, 2018)
Drama
Direção: Tamas Yvan Topolanszky
Elenco: Ferenc Lengyel, Lili Bordán, Nikolett Barabas, Caroline Boulton, Björn Freiberg, Evelin Dobos, Declan Hannigan, Yan Feldman, Scott Alexander Young, Kata Sarbó, Roderick Hill, Rafael Feldman, Jeremy Wheeler, Andrew Hefler
Roteiro: Tamas Yvan Topolanszky, Zsuzsanna Bak, Ward Parry
Duração: 98 min.
Nota: 6

Você deve se lembrar disso… Lançado em 1942, Casablanca usa uma história de amor frustrado para falar sobre a Segunda Guerra Mundial, que acontecia naquele momento. Casablanca, no Marrocos, era um dos lugares por onde era possível chegar aos Estados Unidos. Foi lá que Rick Blaine montou o seu bar e cassino e que Ilsa Lund, seu amor do passado, entrou acompanhada de Victor Laszlo. Foi lá que os nazistas foram interrompidos pelo francês idealista com a Marselhesa e Sam tocou novamente As Time Goes By.

Filmando Casablanca (Curtiz no original) volta aos bastidores do clássico estrelado por Ingrid Bergman e Humphrey Bogart. Tendo como figura central o diretor do longa-metragem, Michael Curtiz (Ferenc Lengyel), além de falar de sua vida, mostra a interferência do governo na produção em meio a guerra e logo após o ataque a Pearl Harbor. Esse retorno é recheado de trívias e informações que são conhecidas, numa construção respeitosa, mas que deixa a desejar.

Em preto e branco (pontuado por cores das luzes dos projetores ou do sinal do estúdio), o filme começa numa sala de projeção, com a notícia do ataque a Pearl Harbor e a primeira interferência do estúdio. Jack L. Warner (Andrew Hefler), pensando em dinheiro, aceita a intromissão do governo que quer uma propaganda de guerra. “Esse filme tem que ser a personificação coletiva do caráter da nação, e não a visão de um só homem”, diz Johnson (Declan Hannigan, de Perdido em Marte), o representante do governo. O produtor Hal B. Wallis (Scott Alexander Young), chocado, tenta argumentar sem muito sucesso.

Com algumas licenças ao falar de eventos e personalidades, o filme vacila na irregularidade do roteiro quanto à profundidade de seus personagens. Se há complexidade no protagonista e em Kitty (Evelin Dobos, de Entardecer), isso está longe de todos do núcleo principal. Um bom exemplo dessa superficialidade pode ser visto em Johnson, até quando se tenta dar alguma dimensão, ela não consegue afastar-se do maniqueísmo.

A trama se divide em três principais linhas: a feitura de Casablanca, com dramas próprios do diretor, roteiristas e atores; a intromissão do governo e suas investidas contra o roteiro, e a vida pessoal de Michael Curtiz, com o seu temperamento, romances extraconjugais, a irmã na Hungria e a chegada inesperada de sua filha. Todas as três até se integram bem, indo da lembrança do noir ao melodrama, mesmo que haja exagero em pontos específicos. É interessante como Filmando Casablanca tenta o tempo todo reconstruir aquilo que se viu no filme por trás dele, mesmo que com uma história completamente diferente. Como era esperado, não chega perto, apesar de ter criado uma dependência dele.

O filme, porém, tem suas qualidades. Ao destacar seu protagonista evita aqueles que costumam tirar a atenção dele: Bogart e Bergman aparecem sempre de costas, na penumbra ou contraluz e desfocados. Curtiz é o dono da história e o centro das atenções. Até mesmo a busca por uma trama paralela para Kitty serve como a possibilidade de realização do diretor retratado.

Indo além do roteiro, Filmando Casablanca é tecnicamente elaborado, com uma boa reconstituição de época de Dorka e Kata Kiss (Filho de Saul), a busca por enquadramento elaborados na fotografia de Zoltán Dévényi e um uso consciente da trilha sonora baseada em metais de Gábor Subicz. Mas nem sempre consegue chegar onde deseja, principalmente pelos exageros de Dévényi, que, muito apegado a planos longos e complexos, tem um apego desnecessário a movimentações repetitivas e por vezes injustificadas.

Uma outra questão é a irregularidade nas atuações. Nem todos conseguem corresponder aos seus papéis e aqueles que conseguem por vezes se perdem, como é o caso de Ferenc Lengyel, o Michael Curtiz, mostrando insegurança na direção de Tamas Yvan Topolanszky. Se há um destaque digno de nota, é a atuação de Lili Bordán como Kitty, muito segura ao reencontrar um passado que faz bem ao filme.

E é nesse passado, justamente, que está a força de Filmando Casablanca. Embora busque construir uma linha interessante e de fácil associação com a história de Curtiz e Kitty, é mesmo no resgate ao que está por trás do clássico de 1942 que reside o seu interesse. O voltar aos estúdios para ver como a história foi construída, em suas soluções estéticas e de roteiro chama muito mais atenção.

Um Grande Momento:
“Play it again”

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