Irmãos da Noite

(Brüder der nacht, CHE, 2016)
Documentário
Direção: Patric Chiha
Roteiro: Patric Chiha
Duração: 88 min.
Nota: 7

Às margens do Sena, conhecemos um grupo de imigrantes búlgaros que tenta ganhar a vida em Viena. Aquelas pessoas duplamente invisíveis, seja por sua discriminada origem cigana ou pelo modo como conseguem ganhar dinheiro, trazem consigo uma espécie de inadequação. Eles não estão em um lugar que os pertence, vivem uma realidade diferente daquela socialmente pré-estabelecida por sua comunidade e lutam um eterno embate por sua própria aceitação. São como desalojados em si próprios, que se escondem disso com muitas festas, bebidas e com a competição pelo dinheiro conseguido.

O grupo de pessoas que cativou o diretor austríaco desperta também a curiosidade do espectador. Embora um pouco verborrágico e, por vezes, repetitivo, o longa-metragem conta com a riqueza de seus personagens e com o inusitado da situação apresentada. Não há como não se sentir curioso ao ver um grupo que contraria completamente a tradição cigana e, ao mesmo tempo, não se encaixa na xenófoba sociedade europeia, aqui representada na bela porém austera Áustria. Aquelas pessoas personalizam um deslocamento, a falta de local, que captura quem assiste ao filme.

Para explicitar o contraste, o diretor opta pelo formato híbrido. Irmãos da Noite é um documentário onde os documentados encenam suas próprias vidas. Não há uma narrativa, apenas um olhar atento àquela realidade, recontada pelas pessoas que a vivem cotidianamente. Talvez por isso seja tão repetitivo, pois aquelas são as pequenas glórias dos personagens, aquelas são as desculpas que eles dão para si próprios e ambas são repetidas assim em suas vidas, sem parar.

Embora pese a mão na música escolhida para a abertura, adequada às imagens iniciais, mas contrastada negativamente com a primeira cena do longa, Chiha faz um trabalho bastante interessante com a trilha sonora, ao contrastar músicas diversas, que explicitam essa desalocação. O visual, kitsch ao extremo, também traz a realidade cigana à tela, mas talvez vá um pouco mais longe do que deveria.

Mas, além de toda a estética, a força de Irmãos da Noite está mesmo naquelas pessoas que buscam ser acolhidas de alguma maneira. Algumas lidam bem com sua realidade, outras nem tanto. Alguns vivem com a cabeça lá na Bulgária, outros sonham em se mudar de vez para a Áustria. Uns ainda sentem a obrigação de voltar e viver de acordo com as regras que os obrigaram a casar ainda crianças, outros preferem fugir e tentar uma nova vida.

Cada um com seu jeito, cada um com sua história, mas, como seres tratados como invisíveis, deixam marcada na tela a sua vontade de contar aquilo tudo, de ter seu lugar definido pelo menos ali.

Um Grande Momento:
A festa.

Links

IMDb
Sair da versão mobile