Juliet, Nua e Crua

(Juliet, Naked, EUA/GBR, 2018)
Comédia
Direção: Jesse Peretz
Elenco: Chris O’Dowd, Rose Byrne, Ethan Hawke, Lily Newmark, Denise Gough, Phil Davis, Azhy Robertson, Lily Brazier, Ko Iwagami
Roteiro: Nick Hornby (romance), Evgenia Peretz, Jim Taylor, Tamara Jenkins
Duração: 97 min.
Nota: 8

Ao zapear pelos canais de tevê durante essa quarentena volta e meia a sorte sorri. Um dos achados dessa temporada de isolamento foi Juliet Nua e Crua, comédia romântica esperta dirigida pelo músico-tornado-cineasta Jesse Peretz (fundador da banda de power pop The Lemonheads) adaptando o romance de Nick Hornby, que está disponível na HBO GO.

Hornby também é roteirista premiado, mas foi como escritor que ele fez seu nome, com obras emblemáticas e caras para a geração millennial – aqueles nascidos dos anos 80 para cá – onde mescla o amor pela cultura pop, o futebol e especialmente a música com histórias de pessoas ordinárias mas cheias de uma beleza quase ingênua. Aí temos Febre de Bola, Um Grande Garoto e Alta Fidelidade. E é pra falar da busca pelo amor romântico e a preservação do afeto entre pais e filhos, que a música costura os encontros e desencontros entre Annie (Rose Byrne, de Missão Madrinha de Casamento), Duncan (Chris O’Dowd, de A Incrível Jessica James) e Tucker Crowe (Ethan Hawke, de Antes do Amanhecer).

Tucker, uma espécie de Jeff Buckley cruzado com Nick Drake, é um antigo astro de rock alternativo que é o objeto da obsessão do trabalhador Duncan. O momento em que ele relaxa e é genuinamente feliz é quando se refugia no porão onde fica o acervo dedicado a Ticket Crowe. A mesma atenção ele dispensa a namorada de mais de uma década, Annie, infeliz num relacionamento onde é invisível. Bom, era, pois um ‘incidente excitante’ ocorre quando ela resolve criticar um demo recém descoberto do músico (que já tinha sido devidamente exaltado por Duncan no seu blog), pra isso criando um outro blog. E eis que ela atrai a atenção de Tucker Crowe e com ele começa a estabelecer contato, criar um vínculo.

A maneira que Peretz vai entrecortando as passagens na Inglaterra (onde Annie e Duncan estão) com as no EUA (onde Tucker vive) segue o paralelismo da obra literária mas uma peculiaridade é a maneira com que o pequeno caçula do músico, Jackson (Azhy Robertson, fofíssimo e também presente em História de Um Casamento) vai conduzindo o pai na jornada de autodescoberta. Ele invariavelmente encontra Annie e o vínculo entre eles atrapalhadamente se aprofunda – e Rosie Byrne está mais adorável do que nunca, mostrando que tem grande capacidade de flutuar entre o drama e a comédia.

Porém, mais interessante do que se deter na dinâmica entre os dois e a frustração/ciúmes de Duncan ao saber da relação entre sua ex e seu ídolo é o caminho que Juliet, Nua e Crua traça até a emancipação dos três. A percepção de que a felicidade não reside no outro, da possibilidade de se realizar por si só e da necessidade de fazer as pazes com o passado e evitar erros futuros.

O encerramento agridoce do filme – um pouco mais esperançoso que o livro – prova que o melhor que qualquer um pode fazer para ter paz e felicidade é ser honesto consigo, se permitir e se dar chances. Annie também se permite e cruza a rua ao encontro de momentos felizes, ao som da balada “War & Peace” cantada por M. Ward.

Por fim, a analogia com Jeff Buckley é deliciosa, pois Ethan Hawke já foi cotado para viver o músico numa cinebiografia que estava aguardando o sinal verde para produção em Hollywood no final dos anos 90 e Grace é o título do álbum mais icônico do grande guitarrista, cantor e compositor norte-americano.

Um Grande Momento:
Reencontros no hospital.

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