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A Espuma dos Dias

(L´écume dês jours, FRA/BEL, 2013)

Drama
Direção: Michel Gondry
Elenco: Romain Duris, Audrey Tautou, Gad Elmaleh, Omar Sy, Aïssa Maïga, Charlotte Lebon, Philippe Torreton
Roteiro: Boris Vian (romance), Luc Bossi
Duração: 125 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Jovem e rico, Colin vive em um mundo peculiar onde tudo é cheio de vida, felicidade e descontração. Ele tem um rato que o ajuda na banheira criando bolhas de sabão, só para tornar o banho uma atividade divertida, e também cria drinques em uma máquina chamada “pianocktail”, um piano que mistura os ingredientes das bebidas de acordo com a nota musical e a intensidade com que ela é tocada.

Suas refeições são coloridamente preparadas pelo seu fiel amigo Nicolas, que além de fazer o papel de assistente pessoal de Colin, é seu confidente e conselheiro, aquele que está sempre lá para o que der e vier. Seu melhor amigo, Chick, é viciado em Jean-Sol Partre, um fã fervoroso capaz de gastar o que tem e o que não tem para adquirir livros e objetos relacionados ao filósofo.

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Quando descobre que Chick está apaixonado, Colin decide que também quer se apaixonar. Durante uma festa, ele conhece a meiga e encantadora Chloé, sua eleita. Tudo vai bem até que a moça começa a definhar por sofrer de uma doença singular: uma flor cresce em seu pulmão. Colin passa a gastar toda sua fortuna cercando o ambiente com flores, a única forma de fazer regredir a doença da amada.

A introdução detalhada sobre o ambiente de Colin é importante para demonstrar o estilo de Boris Vian, autor do livro “A Espuma dos Dias”. O universo surreal do eclético artista francês inventor de palavras (Vian, além de escritor, era músico, cenógrafo e até se aventurou como ator) já foi adaptado várias vezes para o cinema. A Espuma dos Dias, após duas adaptações, uma francesa de 1968 e outra japonesa de 2001, chega agora às telas pelas mãos do diretor Michel Gondry (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças).

Admirador de Boris Vian, Gondry é um diretor que gosta de brincar com imagens e encontrou em A Espuma dos Dias um prato cheio para criar uma obra visual com muitas alegorias. Além de apostar em técnicas visuais como o stop-motion, o diretor não economiza em detalhes e no apuro com que cria os ambientes. O gramofone tem a função de cafeteira, a mesa se movimenta com patins, o cozinheiro ensina receitas dentro do fogão e da geladeira. Tudo muito orgânico e natural.

Quase tudo está em perfeita sintonia. A direção de arte criou um ambiente retrofuturista, a princípio cheio de cores vivas, que ajudam a compor os momentos felizes da trama, seguido de um desbotamento gradativo, bem menos alegre. A fotografia é um dos pontos mais importantes do filme, ela vai mudando de tom e perdendo as cores à medida que as viradas na história vão acontecendo. Estas mudanças são feitas paulatinamente, acompanhando o estado de espírito do protagonista.

Protagonizado por Romain Duris (Bonecas Russas e A Datilógrafa), o longa-metragem ainda conta com um elenco talentoso com Audrey Tautou (O Fabuloso Destino de Amelie Poulain) no papel de Chloé; Gad Elmaleh (Meia-Noite em Paris) e Omar Sy (Intocáveis) como Chick e Nicolas, respectivamente. Romain Duris é seguro como Colin, o personagem passa por transformações importantes ao longo do filme e é interessante ver sua atuação. Se compararmos o Colin do começo com o do final da história, notamos o quanto o personagem mudou e como Duris fez isto de forma gradual e natural.

O que incomoda na obra é o seu ritmo lento, arrastado, principalmente no começo da história. Há um excesso de cenas que transmitem a mesma mensagem. Apesar de ser mais extenso do que o necessário (principalmente nesta primeira parte), tornando-se cansativo, o roteiro acaba sendo funcional. O que a princípio parece ser uma história de amor ingênua revela-se um pouco mais complexo do que isto. Uma fábula sobre amadurecimento bem retratada por alegorias e metáforas.

Michel Gondry mostra porque é um dos diretores mais talentosos da atualidade. A Espuma dos Dias é sensível, belo e poético. É o resultado do casamento entre imaginação e criatividade.

Um Grande Momento:
Piquenique com sol e chuva.

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Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=U5k-UwHx9-c[/youtube]

Mila Ramos

“Soteropaulistana”, publicitária, amante das artes, tecnologia e sorvete de chocolate. O amor pela Sétima Arte nasceu ainda criança, quando o seu pai a convidava para assistir ao Corujão nas noites insones. Apaixona-se todos os dias e acredita que o cinema é capaz de nos transportar a lugares nunca antes visitados. Escreve também no Cartões de viagens imaginárias.
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