Mandy: Sede de Vingança

(Mandy, EUA/BEL/GBR, 2018)
Fantasia
Direção: Panos Cosmatos
Elenco: Nicolas Cage, Andrea Riseborough, Linus Roache, Ned Dennehy, Olwen Fouéré, Richard Brake, Bill Duke, Line Pillet, Clément Baronnet
Roteiro: Panos Cosmatos, Aaron Stewart-Ahn
Duração: 121 min.
Nota: 7

“When I die, bury me deep, lay two speakers at my feet, put some headphones on my head and rock and roll me when I’m dead.”

O que apresenta Mandy: Sede de Vingança são as últimas palavras de um condenado à morte no Texas. Algo inesperado e curioso, como tudo o que se verá a partir daí. Dirigido pelo greco-canadense Panos Cosmatos, o filme é um mix de referências, estilos e qualquer outra coisa que possa vir à cabeça.

A história é dividida em duas partes muito distintas, mas que de alguma maneira conseguem se encaixar. Visuais, ritmos e intenções completamente diferentes encontram-se na estranheza que dá o tom desde a segunda cena, esta completamente descolada daquela que a antecedera. É no inesperado e nessa ausência de ligação com o que vem antes que o diretor aposta e, de certo modo, acerta.

O romance esquisito do começo, que conta com a magnética – e também estranha – presença de Mandy, vivida por Andrea Riseborough em atuação muito sensorial e afeita a pouca palavras, transforma-se numa vingança sanguinária, com toques de seita religiosa e espíritos malignos. Esta segunda parte do filme é de Nicolas Cage, o ator e não o canastra, que aparece depois de tantos papéis fazendo mais do mesmo e, apesar do lugar cômodo em algumas cenas pontuais, é crível, conseguindo manipular sensações.

Cosmatos não se intimida na hora de experimentar. Do lisérgico à representação mais brega na carregada mistura de elementos, ele e seu diretor de fotografia, Benjamin Loeb, usam todas as possibilidades de planos, estáticos e em movimentos; filtros, luzes, aberturas e cores. Tudo é exagerado, assim como a trama, que não se incomoda em ir da contemplação à ação, do humano à alucinação, da pasmaceira à explosão.

Em tela, embalado pela última trilha de Jóhann Jóhannsson, apenas tudo: demônios motoqueiros, uma seita hippie a la Charlie Manson, ácido lisérgico, tocaia, muito sangue, um tigre e até uma luta com motosserras. É como se o filme fosse como uma daquelas imagens que se popularizaram no final dos anos 70 do século passado, num surrealismo brega que mistura elementos imaginários a elementos reais, mesclando as definições de suas imagens.

O fato de ter Cage como protagonista também confirma a intenção do diretor. Aqui o ator consegue ser aquele stanislavskiano dos trabalhos mais sérios e o caras e bocas dos vários títulos vazios deste século, aqueles papéis que têm como único objetivo pagar as contas e não trazem nenhum desafio. Sua filmografia escalafobética, cult e brega de maneira desequilibrada, é a cara de Mandy: Sede de Vingança.

Ainda assim, dentro de sua variedade e proposta de estilo, o longa excede-se em duração, prolongando cenas e repetindo-se aqui e ali. O humor, presente essencialmente nos diálogos, nem sempre funciona, apesar de bons momentos como tudo que segue a cena do “você tem um desejo de morte”.

Apesar dos pesares, é um filme que alcança exatamente aquilo que espera alcançar. E é curioso como Mandy: Sede de Vinganç, como fantasia/horror, se constrói de maneira única, ainda que traga tantas referências que vão de Lynch a Argento, da animação Heavy Metal (1981) ao slasher de filmes dos anos 1980. Algo que remete ao antigo, mas é novo em sua composição e naquilo que cria.

Já disponível em plataformas de streaming, é uma ótima pedida para os fãs de tio Nick e ainda melhor para quem gosta do gênero cinematográfico.

Um Grande Momento:
“You’re a vicious snowflake!”


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