Maratona cinéfila carioca

Correria, filas para pegar ingressos e o desespero para arrumar uma grade de programação que inclua filmes de todos os lugares do mundo. Começado há dois dias e indo até 16 de outubro, o Festival Internacional de Cinema do Rio está imperdível. Com dias a menos e uma seleção recheada de pérolas, como há algum tempo não acontecia, a edição deste ano está agitando a vida dos cinéfilos locais e visitantes.

Tem filmes para todos os gostos. De premiados nos mais importantes festivais do mundo a uma deliciosa mostra com os monstros da Universal, filmes de terror que fizeram o estúdio dominar o Hollywood por um tempo. Tem os escolhidos dos países para concorrer a uma vaga no Oscar, clássicos do cinema nacional e muita coisa boa e diferente que anda chamando atenção por aí.

Boa parte da nova produção nacional também está reunida na Première Brasil. Documentários, ficções e vários curtas mostram o que anda acontecendo no cinema brasileiro.

O difícil mesmo é colocar na agenda todos os filmes que merecem ser assistidos. Horários de chocam e alguma títulos acabam sendo sacrificados por outros que depois da sessão nem valiam tanto a pena assim. E ainda tem aquelas vezes em que se escolhe um filme para preencher o horário e ele surpreende e encanta.

Por isso, a gente vai tentar dar uma ajuda, mas lembrando sempre que a grande maioria dos filmes ainda não esteve em nenhuma tela brasileira. Então, só o que se pode fazer, é espalhar o que dizem por aí. E, outra coisa, não dá para falar de todo mundo, então, isso aqui é só uma pincelada pela programação do festival.

Direto de Cannes

Nada mais importante para um festival do que ter entre os seus selecionados o filme que levou a Palma de Ouro em Cannes. Este ano, Eu, Daniel Blake, dirigido pelo veterano Ken Loach, está no Rio de Janeiro. O filme se volta mais uma vez para as margens para expor a Grã-Bretanha dos dias de hoje.

Completando a trinca de ouro do mais importante festival do cinema. Também fazem parte da programação Personal Shopper, dirigido por Olivier Assayas e com Kristen Stewart no elenco, repetindo a dobradinha bem sucedida em Acima das Nuvens; e a comédia alemã Toni Erdmann, da diretora Maren Ade. Enquanto o primeiro levou o prêmio de melhor direção, o segundo ficou com o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI) no festival francês.

Das mostras paralelas de Cannes, dois filmes que têm sido bastante comentados são Capitão Fantástico, de Matt Ross e com Viggo Mortensen vivendo um pai de família que, após perder a esposa, quer manter o modo de vida que eles julgaram ser o melhor para os meninos enquanto ela ainda era viva. O filme foi escolhido como a melhor direção da mostra paralela Um Certo Olhar. Outro destaque é o escolhido do júri na mesma mostra de Cannes, o japonês Harmonium, dirigido por Kôji Fukada e que encontra no cotidiano e em suas armadilhas o seu ponto forte.

Mudando de festival e pincelando superficialmente na programação, dois nomes chamam atenção de cara: Paraíso, de Andrei Konchalovsky, que se volta à Alemanha nazista, e a comédia argentina de humor negro O Cidadão Ilustre, da dupla Gastón Duprat e Mariano Cohn. Os dois brilharam em Veneza, com o primeiro levando o Leão de Prata para casa e o segundo, o prêmio de melhor ator.

E ainda tem Berlim, Locarno, Sundance e muito mais na programação.

Nomes

Também não faltam grandes nomes na programação deste ano do Festival do Rio. Estão aqui: Win Wenders, com seu One More Time with Feeling 3D; Werner Herzog, com Eis os Delírios do Mundo Conectado; Sergei Loznitsa, com Austerlitz e Andrzej Wajda, com Afterimage. Ainda tem Johnnie To, com Três, e Hong Sang-Soo, com Você e os Seus. Para quem gosta, não se pode deixar de fora também Bruno Dumont e sua comédia burlesca Mistério na Costa Chanel, com Juliette Binoche no elenco.

Ruth Negga e Joel Edgerton estão no elenco do novo drama de Jeff Nichols, Loving. A atriz Michelle Williams está em dois títulos que também andam dando o que falar: Manchester à Beira Mar, de Kenneth Lonergan, produzido por Matt Damon e com Casey Affleck, e Certas Mulheres, de Kelly Reichardt, Kristen Stewart e Laura Dern. Os três filmes já estão com distribuição garantida no Brasil, mas quem gosta de ver tudo antes, são uma aposta.

Filmes que estão também aparecendo nas listas cinéfilas são: O Filho de Joseph, de Eugène Green; Na Vertical, de Alain Guiraudie; Sieranevada, de Cristi Puiu; Hermia & Helena, de Matías Piñero; A Economia do Amor, de Joachim Lafosse, e Aqui não Aconteceu Nada, de Alejandro Fernández Almendras.

E tem diretores que aparecem duas vezes. É o caso de Terence Davis, com os filmes Uma Paixão Tranquila, que conta a história da poetisa Emily Dickinson; e A Canção do Pôr do Sol, baseado no romance homônimo. Tem também Jim Jamursh, com o documentário Gimme Danger, sobre Os Stooges; e a ficção Paterson; e Wang Bing, com os documentários Dinheiro Amargo e Ta’ang.

Histórias

Também não faltam na programação do festival aquelas histórias que o pessoal quer ver na telona. Uma delas é Christine, a história de Christine Chubbuck, âncora de televisão que se matou enquanto apresentava um telejornal ao vivo. A história chega ao Rio em sua versão ficcional – exibida neste ano em Sundance junto com a versão documental – e interpretada por Rebeca Hall.

Outra história incrível que está na programação é a do documentário Os amantes e o Déspota. Um diretor e uma atriz sul-coreanos, depois de divorciados, são sequestrados pelo Serviço Secreto Norte-Coreano e são obrigados a criar uma indústria cinematográfica na terra de Kim Jong-il. O documentário é construído com fitas k7 contrabandeadas para fora do país pelo casal.

A França é um dos objetos de estudo em dois longas-metragens. O documentário dirigido por Raymond Depardon, que leva o nome do país e é construído com depoimentos de franceses de várias localidades. O outro filme, é a ficção Nocturama, que traz grupo de jovens franceses que planeja executar uma série de ataques em Paris.

E ainda tem o cinema fazendo justiça aos nomes que somem da história da indústria. É o caso do documentário E a Mulher Criou Hollywood, dirigido pela dupla Clara e Julia Kuperberg, que resgata Frances Marion e Dorothy Azner, roteirista e diretora esquecidas.

Clássicos

No mais, ainda tem um monte de filmes clássicos imperdíveis, com a mostra Mostros da Universal, que traz vários títulos que fizeram do estúdio um dos nomes de destaque em seua época. Títulos como Drácula, Frankenstein, O Homem Invisível, O Lobisomem e A Múmia fazem parte da programação.

Entre as mostras do festival, ainda há uma que traz o cinema novo e o cinema marginal de volta às telas. Títulos como As Libertina, de Carlos Reichenbach; A Grande Cidade, de Carlos Diegues, e Na Boca da Noite, de Walter Lima Jr. são alguns dos destaques presentes.

Completando a seleção de clássicos, o ótimo Ganga Bruta, longa-metragem dirigido por Humberto Mauro e lançado em 1933, ganha uma exibição especial no dia de hoje (8), no Instituto Moreira Sales.

Cinema verde e amarelo

Para completar, como não poderia deixar de ser, o Festival do Rio traz uma seleção muito apurada do que é produzido atualmente no cinema nacional. Cinema Novo, documentário de Eryk Rocha faz uma homenagem ao grupo de realizadores que resolveu, com o movimento homônimo, mudou os rumos da produção cinematográfica daqui. A vida de uma das maiores cantoras da MPB, Elis Regina, também terá seu momento, com a apresentação de Elis, dirigido por Hugo Prata e com Andreia Horta vivendo a cantora.

Entre os destaques estão ainda Entre os Homens de Bem, documentário de Caio Cavechini sobre o deputado federal Jean Wyllys; O Filho Eterno, drama de Paulo Machline com Marcos Veras e Débora Falabella; Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé; O Jabuti e a Anta, documentário de de Eliza Capai sobre a seca em São Paulo; Comeback, de Érico Rossi, com Nelson Xavier como um ex-pistoleiro aposentado; Sob Pressão, de Andrucha Waddington, com Julio Andrade e Marjorie Estiano; Mulher do Pai, de Cristiane Oliveira, estrelado por Marat Descartes, e A Luta do Século, dirigido por Sérgio Machado, sobre os pugilistas rivais Reginaldo “Holyfield” e Luciano “Todo Duro”.

Há ainda Domingos de Oliveira com BR 716, longa com Caio Blat e Sophie Charlotte, sobre a boemia de Copacabana nos anos 60. Beto Brant, em codireção com Camila Pitanga, homenageia o ator de Antônio Pitanga em Pitanga, e José Luiz Vilamarim traz Redemoinho, que tem Irandhir Santos, Julio Andrade, Cássia Kis Magro e Dira Paes no elenco. A adaptação de Nelson Rodrigues A Serpente, de Jura Capela, com Matheus Nachtergaele e Lucelia Santos, também está entre os selecionados.

Curumim, conta a história de Marco Archer, ex-atleta de asa delta preso na Indonésia com 13 Kg de cocaína e executado, após 11 anos, por tráfico de drogas. Já Divinas Divas, dirigido por Leandra Leal faz um retrato dos primeiros artistas travestis do Brasil e conta com a participação de Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Brigitte de Búzios e outras.

Entre os curtas-metragens, Antonieta conta a história de Antonieta, a primeira mulher a ocupar um cargo público no Brasil. Glauber Rocha também aparece na seleção como homenageado em Os Cravos e a Rocha, de Lauísa Sequeira. Demônia – Melodrama em 3 Atos, dirigido por Cainan Baadez e Fernanda Chicolet, que divertiu o público no Festival de Brasília também promete fazer o pessoal do Rio de Janeiro.

Correria

Tem isso tudo e muito mais. Ou seja, não vão faltar filmes para as grades de programação dos cinéfilos cariocas. E, muito menos, correria entre os cinema já que são 18 cinemas integrando o circuito desta edição. Mantendo o Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro como o palco das reprises e, pela primeira vez, tendo o Roxy como palco principal da Première Brasil, haverá opção em vários bairros do Rio. Botafogo, Ipanema, Centro, Freguesia, Catete, Barra da Tijuca, Guadalupe e até Niterói estão na lista.

Os ingressos podem ser adquiridos nas bilheterias dos cinemas e os preços alteram de acordo com o cinema. Quem optou pelas credenciais – o Passaporte 20 (com direito a 20 ingressos) por R$ 200,00; e o Pacote 06 (com direito a 06 ingressos), por R$ 66,00 – pode retirar os bilhetes no site www.ingresso.com; nos Pontos de Atendimento do Festival do Rio, no Cine Odeon e no Kinoplex São Luiz, e no Pavilhão do Festival.

A programação completa do festival pode ser encontrada o site do evento.

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