O mundo está em crise e passa por uma violenta transformação. O império romano-germânico está ruindo, a peste se alastra pelo continente e a igreja católica está dividida. É durante o Grande Cisma do Ocidente que se dão os fatos de Medieval, filme da Netflix dirigido por Petr Jákl, que traz um elenco com rostos conhecidos como Ben Foster, Michael Caine e Matthew Goode. Em tela, a história de um dos maiores comandantes de todos os tempos: Jan Žižka.
Conhecido por seus métodos inovadores de combate e por nunca ter perdido uma batalha, Žižka lutou a guerra civil da Boêmia e ficou conhecido como O Invencível. O filme ficcionaliza a narrativa, criando quase uma história de origem, colocando-o diante de tropas inimigas de várias origens, em especial daquele que foi o seu treinador, para definir suas habilidades. É possível contextualizar quem assiste ao filme sobre a crueldade e falta de humanidade do período.
Nessa história pregressa do herói de guerra tcheco está a figura de uma princesa, Katherine, que tem uma daquelas missões comuns na época medieval de unir os reinos por meio do casamento. Ela é a peça central que liga do conflito e, além de ligar os dois principais inimigos, também faz com que o protagonista se envolva pessoalmente na luta. Além da guerra, com muitas batalhas e pilhagens, o longa também explora esse lado político, expondo as muitas negocições com personagens.
Porém, apesar de criar grandes momentos, como o incrível confronto com Torak, o acúmulo de informações do roteiro de Medieval, escrito pelo próprio Jákl e baseado num trabalho prévio de Marek Dobeš e Michal Petruš, atrapalha o desenvolvimento e a imersão, faltando tempos para cada um dos muitos personagens apresentados. Ainda assim, por mais que não seja tão profunda como se espera — os flashbacks, em contraposição estética, são tão desnecessários –, a relação se dá com aquele que é o principal foco de atenção, Žižka.
Como diretor, toda a profusão de acontecimentos se beneficia com a habilidade nas batalhas e o acerto nos respiros. A direção de fotografia do dinamarquês Jesper Tøffner, de A Comunidade, também tam seus momentos e há muito o que destacar na ambientação, um trabalho acurado do trio Jirí Sternwald (direção de arte), Barbora Bucharova (cenografia) e Katerina Mirová (figurino). Foster, mais uma vez, faz um bom trabalho com o comandante e não é surpresa que esteja bem acompanhado por Michael Caine. Já Sophie Lowe deixa a desejar como a donzela de uma expressão só.
Entre erros e acertos, Medieval é um filme interessante por trazer um personagem histórico importante, mas que não é tão conhecido e por relembrar um período tão turbulento da Historia. Poderia ser mais equilibrado e menos confuso, se talvez tivesse escolhido se dedicar menos àquele caminho que deveria ser apenas um apoio à trama principal, mas cumpre o seu objetivo principal.
Um grande momento
O confronto com Torak