Drama
Direção: Savaş Ceviz
Elenco: Max Riemelt, Oskar Netzel, Isabell Gerschke, Odine Johne, Ercan Durmaz, Aris Diamanti, Gabriele Krestan
Roteiro: Savaş Ceviz
Duração: 99 min.
Nota: 8
Mente Perversa (Kopfplatzen) é um filme alemão escrito e dirigido por Savaş Cevis, que fala sobre a pedofilia, tema que ainda carece de abordagens aprofundadas, sob um ângulo diferente: o do próprio pedófilo, dando-nos uma nova perspectiva sobre esse assunto tão delicado e estigmatizado.
O longa-metragem conta a história de Markus (Max Riemelt), um educado e belo arquiteto, que vive sua vida aparentemente de forma tranquila, mas que esconde um segredo que o tortura diariamente: sua paixão por meninos menores de idade, contra a qual ele luta diariamente, tendo nojo de si mesmo e buscando formas de conversar com alguém sobre o assunto.
Mais do que demonstrar o ponto de vista do pedófilo, o Savaş Ceviz toma o cuidado de não romantizar um assunto tão polêmico e deixa evidente que sua intenção não é a de estimular as condutas criminosas praticadas por pedófilos, ao construir cenas que causam incômodo, provocando uma dicotomia de sentimentos, que ora são de empatia pelo personagem incompreendido, ora de repulsa por sua patologia.
Além disso, o diretor é certeiro em adicionar o diálogo do protagonista com o psicólogo, Dr. Jawad (Ercan Durmaz), explicando para o protagonista e para o espectador que a pedofilia não está necessariamente atrelada à prática de condutas criminosas, mas, ao revés, trata-se de uma patologia que, por si só, não é crime, contudo, não tem tratamento e deve, diariamente, ser relembrada e tratada com zelo pelos indivíduos pedófilos.
É importante destacar, inclusive, a importância da abordagem deste tema, já que muitas pessoas confundem o “imoral” e o “ilegal” e, por pensarem que o fato de sentir atração sexual por crianças pré-púberes é nojento ou inaceitável, concluem que tal conduta, por si só, é um crime. Assim como retratado no longa, a condição é uma patologia, reconhecida internacionalmente e denominada de “Transtorno de Preferência Sexual”, devidamente elencada na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, mais especificamente sob o CID 10 – F65.4. Fica claro que o diálogo sobre este assunto precisa ser fomentado, às vistas de dirimir dúvidas sobre o que é crime e o que é uma condição patológica, bem como explicar que nem todo pedófilo incorre em práticas criminosas.
Mente Perversa mostra o cotidiano de um pedófilo específico que não consegue lidar bem com sua patologia e, apesar de nunca cometer crimes de abuso sexual, se vê completamente desorientado e sem perspectiva de vida, razão pela qual o diretor opta por uma solução trágica e que deixa a desejar, já que não toma cuidado com o efeito-gatilho que isso pode gerar em quem viva situações parecidas.
Além disso, o diretor não mantém o cuidado técnico de todo transcurso do filme ao retratar uma primeira tentativa de suicídio do protagonista, de forma rápida, sem a construção de um clímax envolvente e destoando completamente do desenvolvimento da trama, até então exposta de forma cuidadosa e lenta, repleta de detalhes, a fim de envolver o espectador e fazê-lo experimentar os mais variados sentimentos.
Outro detalhe que salta aos olhos e incomoda deveras é a forma simplista com que o diretor adiciona Jessica (Isabell Gerschke) na vida de Markus, como uma mãe solteira que toma inúmeras atitudes que parecem querer passar a antiquada e machista imagem de que “a mãe solteira é a culpada por colocar em risco seu pequeno filho”, causando desconforto nos espectadores que entendem o quão grave é a culpabilização da vítima; e que sabem que esta forma de abordagem da mulher solteira fomenta pensamentos, sentimentos e atitudes machistas, que são vistos diariamente, principalmente quando se está diante de casos de estupro ou abusos de vulneráveis.
No entanto, Mente Perversa é digno de diversos elogios, pela forma delicada com que constrói a perspectiva do pedófilo sobre sua própria vida, bem como pelo envolvimento que estabelece com a audiência, criando um sentimento de empatia que cresce ao longo da trama, mas sem romantizar ou banalizar a situação, mantendo, inclusive, o sentimento de repúdio daqueles que entendem a gravidade de se atrair sexualmente por crianças, e sempre tomando cuidado ao explicar e reiterar que a circunstância em questão é uma patologia, que merece ser acompanhada de forma clínica, e que ela, por si só, não consiste em crime.
Um Grande Momento:
O diálogo com Dr. Jawad.
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[43ª Mostra de São Paulo]