Morte às Seis da Tarde

(Plagi Breslau, POL, 2018)
Ação
Direção: Patryk Vega
Elenco: Malgorzata Kozuchowska, Daria Widawska, Katarzyna Bujakiewicz, Andrzej Grabowski, Maria Dejmek , Ewa Kasprzyk, Jacek Beler, Wojciech Kalinowski, Iwona Bielska, Sebastian Stankiewicz, Tomasz Oswiecinski
Roteiro: Sylwia Koperska-Mrozinska, Patryk Vega
Duração: 93 min.
Nota: 7

Ao observarmos um passatempo tenso e com um mínimo de tutano como Morte às Seis da Tarde, disponível na Netflix, depois de uma dieta à base de ingredientes vencidos e repetitivos, a sensação é de alívio, ainda que momentâneo. A produção polonesa dirigida por Patryk Vega não está tentando inventar nada, ou revolucionar a forma de fazer thriller policial no mundo. Mesmo aqui temos uma base que vem de outros longas (Seven é tão evidente que fica até difícil pensar em quais), mas a mistura fornece diversos tipos de combinações possíveis, e através de sua curta duração fica claro o talento em entreter e criar um relevo substancial para um universo tantas vezes acompanhado.

Talvez a questão mais relevante seja a espinha dorsal feminina, que passa pela dupla de policiais protagonistas e avança para aprofundar suas histórias, ambas com desdobramentos em tragédias muito caras ao feminino no geral. São mulheres na linha de frente não apenas do caráter intelectual da resolução de atos criminosos, como também no desenvolvimento da estrutura física do gênero cinematográfico – responsáveis diretas pela ação, pela patologia e pela informação que movem o filme. Sem percebermos somos apresentados a homens fracos, dependentes e, em sua maioria, vitimados sem poder decisório e completamente reféns dos pilares da produção, que os subjugam.

Morte às Seis da Tarde apresenta uma lenda da cidade polonesa onde o filme se situa, a Breslávia. De acordo com os eventos narrados, em certa feita, uma autoridade local instituiu uma Semana das Pragas, onde diariamente às seis da tarde seria executado um responsável por uma dessas falhas morais e/ou capitais: degeneração, roubo, corrupção, calúnia, opressão e mentira. Na narrativa que o roteiro também de Vega apresenta, essa sucessão de crimes está sendo reproduzido na atualidade, e uma policial local irá receber a ajuda de uma especialista para juntas encontrarem o elo entre as vítimas, o que pode ajudar a identificar o maníaco. Perceberam o sucesso de David Fincher nas entrelinhas do projeto? Inclusive há uma homenagem ao longa de maneira quase explícita quando uma caixa entra em cena no clímax.

Mas fora essa metodologia criminal, o longa difere bastante da abordagem do material. Morte às Seis da Tarde tinha tudo para aportar em códigos sombrios de registro cinematográfico, mas Vega não tem esse interesse. Se o relevo dos seus personagens é rico e cheio de camadas, o filme não mergulha em abordagem densa ou arrastada. A estrutura do roteiro tem seis dias para desenvolver sua linha, e o faz com agilidade evidente. Esse inclusive é um problema para a produção, que na ânsia de não deixar o ritmo desacelerar, compromete sua linha temporal ao ir saltando pelos dias indiscriminadamente, ou sem representar qualquer posicionamento quanto à passagem do tempo.

Um trunfo crucial faz toda a diferença para o sucesso do filme, e ele se chama Małgorzata Kožuchowska, a figura central . Atormentada por uma tragédia que a destruiu de inúmeras formas, Morte às Seis da Tarde a apresenta como alguém interiorizado e melancólico, até revoltado em grande parte das vezes. Małgorzata trabalha em um registro absolutamente difuso à cidade, ao seu parceiro inicial, e ao entorno afável do longa. De voz grave e modulada pra baixo, visual marcado porém sem exagero e trabalho corporal igualmente acertado, o filme devassa uma espécie de zumbi em cena, que encontra na resolução desse caso uma espécie de válvula de escape a imensa dor que sente, e precisa ser aplacada.

Com umas situações esgarçadas até o humor pontualmente (nada óbvio ou gratuito, apenas uma pitada para gerar desconforto nos personagens e no espectador) e com uma dose considerável de sangue em cena além de uma certa escatologia em seus crimes e na autópsia dos mesmos, o filme também opta por mostrar a encenações de cada crime assim que ele é analisado pelas personagens, típico de seriados policiais americanos. Um outro pecado cometido por uma produção honesta e muito eficiente, que coloca o feminino e as vastas formas onde o gênero se relaciona com o trágico, o privado e o público.

Um Grande Momento:
Os cavalos e o resultado de suas ações.

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