Durante coletiva virtual, Ryan Murphy e Charlie Hunnam conversaram sobre a nova temporada de Monstros. Terceira parte da antologia de sucesso da Netflix, Monstro: A História de Ed Gein, estreou em 3 de outubro e revisita um dos casos mais sombrios da história americana com um olhar que vai além do crime, explorando a marca deixada pelo criminoso na indústria e o homem por trás do mito, esquecendo-se, porém, de olhar para outras questões.
Charlie Hunnam, que interpreta Gein, contou que mergulhou em uma intensa pesquisa para compreender o personagem. “Senti uma responsabilidade enorme. Li tudo o que pude, especialmente os relatórios médicos. Foram mais de 120, feitos ao longo dos 30 anos em que ele esteve internado. Isso me ajudou a entender que o importante não era o que ele fez, mas por quê.”
Para o ator, o trabalho foi também uma experiência emocional. “No começo, parecia que ele estava atrás de um vidro e eu o observava de fora. Aos poucos, encontrei o caminho até ele. Quando consegui ouvir a voz, tudo fez sentido. Ela é uma tentativa de agradar a mãe, de se transformar no que ela queria que ele fosse.”
Murphy explicou que o interesse em Ed Gein é antigo. “Vi Psicose aos oito anos, escondido dos meus pais. Depois descobri que era baseado no serial killer e fiquei obcecado. Ele virou uma figura mítica, que inspirou O Massacre da Serra Elétrica, O Silêncio dos Inocentes e tantas outras obras. Quis entender por que continuamos recriando essa história geração após geração, de maneira cada vez mais violenta.”
O criador de Monstros destacou que a escolha de cada temporada passa por um longo processo. “Nem todo assassino vira uma boa história. Antes de Gein, escrevemos três episódios sobre outro caso, mas percebemos que não havia o que dizer. Monstro sempre precisa ter um comentário social. Em Gein, o foco é a doença mental, a solidão e o isolamento masculino. Ele foi, de certo modo, o primeiro incel.”
Hunnam contou que encontrou no roteiro uma abordagem ética e humanizada. “Ryan e Ian [Brennan] não queriam repetir o sensacionalismo. Queriam discutir o que leva alguém até esse ponto. A série fala de abandono, de desespero, de um homem que não soube lidar com a dor. É assustador porque é compreensível.”
Murphy concordou: “Há menos de cinco minutos de violência em oito horas de série. O terror está na sugestão, no que o público imagina. É uma reflexão sobre empatia, não sobre o horror em si.” O diretor Max Winkler também recebeu elogios. “Ele é brilhante. Trabalha com os atores de um jeito sensível, entende todas as minhas referências mais obscuras”, brincou.
Questionado sobre a crítica de que o projeto glorifica assassinos, Murphy rebateu: “Não glorificamos ninguém. Tentamos compreender. Se ignorarmos as causas, estamos condenados a repetir a história. Como disse Tennessee Williams: ‘Nada do que é humano me repulsa’. Esse é o norte da série.”
Ao final, Hunnam refletiu sobre a linha tênue entre condenar e compreender. “Não dá pra julgar o personagem. Eu só podia tentar encontrar a verdade dele. Foi um desafio enorme, mas também uma das experiências mais transformadoras da minha carreira.”
Monstro: A História de Ed Gein está disponível na Netflix.