Obra

(Obra, BRA, 2014)

Drama
Direção: Gregório Graziosi
Elenco: Irandhir Santos, Júlio Andrade, Sabrina Greve, Lola Peploe, Marisol Ribeiro, Christiana Ubach
Roteiro: Gregorio Graziosi, Paolo Gregori, Jose Menezes
Duração: 80 min.
Nota: 5

Muito da experiência com um filme se dá pelo conhecimento prévio que o espectador tem sobre aquilo que vê na tela. Lembranças, sensações e sentimentos levam alguém a interpretar a mensagem de maneira diferente da pessoa que está ao seu lado por exemplo.

Obra é um filme esteticamente lindo. Fotografado em preto e branco, o longa-metragem é de uma composição e métrica estonteantes. Mas me remete, e aqui tenho que usar a primeira pessoa, porque essa é a minha sensação com o filme, às obras arquitetônicas projetadas por Oscar Niemeyer.

A falta do colorido me remete ao muito concreto – em boa parte pintado de branco –, que está presente em minha cidade natal, Brasília. A perfeição de formas e um certo quadradismo na concepção das cenas, aos muitos monumentos espalhados pela capital. O fato de o protagonista ser um arquiteto, claro, também ajuda na criação desta realidade.

O formalismo de Gregório Graziosi, que já estudo arquitetura, está em toda parte do longa, assim como vejo e vivencio cotidianamente o formalismo de Niemeyer em toda parte. E tudo estaria bem se a experiência ficasse na parte estética, se fosse vivenciada apenas pelo seu exterior. Há beleza nessas obras, há uma busca pela inovação e pela perfeição. Mas há um vazio que as coabita que acaba estragando tudo.

Um prédio de Niemeyer é maravilhoso, é inventivo, é imponente, e mais uma quantidade enorme de elogios que possam ser feitos baseando-se na estética. Mas é um ambiente hostil, um local que não foi pensado para os homens. Não é prático, não é sustentável. Largos corredores e distâncias longuíssimas, muito concreto e pouca preocupação com as necessidades de pessoas que passam horas e horas ali dentro.

Obra gera em mim exatamente essa sensação. A história contada é relegada a segundo plano, o mais importante é mostrar o quadro perfeito, a estética afiada. Nem mesmo Irandhir Santos, um ator de qualidade inquestionável, consegue fazer com que seu protagonista quebre essa espécie de barreira que separa o longa-metragem da própria história que conta e, logicamente, do espectador.

É como se toda a história por trás da vida daquele homem não significasse nada. Homens não são importantes, a obra, sim. Para uma pessoa que passou a maior parte dos últimos anos de sua vida dentro de um prédio de concreto lindo, mas sem janelas, essa é a pior sensação que se pode sentir.

Um Grande Momento:

O visual.

[38ª Mostra de São Paulo]
[18ª Mostra de Tiradentes]

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