É um lugar-comum do cinema indie estadunidense a jornada de duas pessoas em busca de algum tipo de resgate pessoal. Dois amigos, Val e Kevin, consumidos pela depressão, decidem viver juntos suas últimas 24 horas. De embalagem simples e a abordagem direta, On The Count of Three é de uma profundidade e sensibilidade impressionantes.
Dirigido por Jerrod Carmichael, que protagoniza o filme ao lado de Christopher Abbott, e roteirizado por Ari Katcher e Ryan Welch, o longa trabalha o tempo todo com a velocidade. Os elementos são dados e prontamente tem a ação que os justifique. Não há nada em cena que precise esperar, o que facilita não só o humor, mas o envolvimento do público com os os atos e os próprios personagens. A ilusão de surpresa, põe o espectador dentro da história.
Seguindo uma trilha mais frenética do que a de outros da mesma escola, nem tanto ao mar (Safdie) nem tanto a terra (Duplass), On The Count On Three se destaca por, em meio a sua busca por reparação, desenvolver dois personagens tão complexos. Em suas camadas, Val e Kevin, que se completam e compreendem como dupla, tem seus medos, traumas e vícios expostos em diálogos, músicas e olhares. Os méritos do roteiro são ressaltados pela química entre os atores e pelas atuações precisas.
É impossível falar de On The Count On Three e não falar de Christopher Abbott. O ator que esteve em James White, Ao Cair da Noite e apresentou também em Sundance esse ano The World To Come vai entre todos os extremos de Kevin e consegue nunca se distanciar do senso de proteção que guia a sua relação com Val. É algo forte e complexo que se executa muito bem.
O longa, embora recheado de momentos cômicos, é amargo, e vai trilhando seu caminho de maneira consciente numa bifurcação depressiva onde as paradas vão reconstruindo a vida e, de certo modo, demonstrando os finais possíveis. Na trilha de um passado compartilhado e de traumas individuais, vai tomando os rumos que distinguem os futuros.
Ainda assim, nada que prepare para o final que rompe com a expectativa que se criou a despeito daquilo que foi apresentado desde o princípio. On The Count of Three parece estar no lugar de outros filmes já vistos antes, no tempo do texto, na escolha do caminho, na postura dos atores, mas vai tão longe em suas questões e afeta tão profundamente, que não merece ser comparado. Um filme que fica com a gente.
Um grande momento
No estacionamento