Devo confessar que além de falar de filmes, também gosto muito de uma listinha. Por isso resolvi relacionar alguns momentos especiais do cinema. Mesmo com uma periodicidade imprevisível, começo a publicar a primeira delas: os dez momentos mais “tô de cara” do cinema.
“Estar de cara” pode ser muita coisa, mas vou aqui relacionar as cenas que mais me deixaram chocada, com um nó no estômago, de boca aberta. Algumas dessas, confesso que nem consegui assistir inteiras, tamanho era o meu incômodo.
Elas acabam sendo a alma ou os pontos de destaque de filmes que têm muita coisa para nos dizer, pois cenas chocantes demais em filmes desnecessários não surtem tanto efeito como aquelas que vemos depois de já estarmos completamente envolvidas com o roteiro.
Cuidado!!! Todo o post está cheio de spoilers! Talvez fosse conveniente você pular aqueles filmes que ainda não viu logo no tópico.
Marcus (Vincent Cassel) acha que encontrou o estuprador de sua mulher e Pierre (Albert Dupontel), seu amigo, começa a executar a louca vingança. O filme, todo em narrativa invertida, traz uma história pesadíssima e trata a crueldade humana como uma coisa com a qual sentamos para tomar o café da manhã. Poderia ter escolhido a cena do estupro que também é bem chocante, mas ainda conseguiu me deixar menos angustiada do que os inúmeros golpes desenfreados do extintor no rosto de uma pessoa. Embrulha o meu estômago até hoje.
Depois de muito tempo chapados, o grupo de amigos doidões e irresponsáveis resolvem ver como está o bebê da casa e o encontram morto no berço. Esse é outro filme de dar nó nas tripas. Diferente de Irreversível, o roteiro viaja o tempo todo entre o drama do vício e momentos mais engraçados ou absurdos que acalmam a tensão dos espectadores. A cena do bebê morto é a mais dolorida de todas e, quando vi no cinema, foi o momento em que várias pessoas resolveram que não assistiriam mais ao filme. Confesso que a vontade de sair é grande mesmo e a cena é daquelas que fica na nossa cabeça muito tempo depois de ter visto o filme.
Derek (Edward Norton) obriga um negro a abocanhar um meio-fio. O neo-nazismo é um assunto que pode trazer frutos muito desagradáveis mesmo ao cinema. Neste filme há uma sucessão de cenas absurdas onde o preconceito, a loucura e a desumanidade vão dando o tom para um filme muito triste, apesar de realista. Norton está maravilhoso como o ex-nazista arrependido que, após sair da cadeia, tenta mostrar ao irmão que nunca foi um exemplo a ser seguido. A cena escolhida não é realmente mostrada. Só temos acesso às agressões racistas e à ordem de morder o meio-fio. Depois disso é só o barulho. Sem ver a cena já ficamos completamente chocados, imagina se ela fosse explícita.
Uma das etapas do projeto de recuperação de jovens delinquentes é a superexposição à música clássica e a imagens belas que, para funcionar, a cobaia deve estar de olhos bem abertos. O filme também é todo cheio de cenas terríveis, como a do estupro. As maldades de Alex (Malcolm McDowell) são terríveis, mas nada comparado com a cena dos olhos, para mim. Eu já tenho agonia com qualquer coisa entrando no olho e fico desesperada com aquela pinça.
Capitão Nascimento (Wagner Moura) pega um menino no morro que jura ser estudante. Outro tema chocante, mas que estamos muito acostumados a acompanhar nos jornais diários é a violência urbana. Com a situação no Rio de Janeiro beirando o caos até os dias de hoje, o filme foi lançado e gerou várias polêmicas. Também é um mosaico de cenas fortes, mas a captura do menino e o discurso do capitão para aqueles que alimentam o poder dos traficantes como usuários de drogas é de dar aquele embrulho no estômago. Principalmente por sermos brasileiros, eu acho.
Jesus (Jim Caviezel) é espancado pelos soldados romanos. Mel Gibson é um católico daqueles mais radicais e, por toda a facilidade que tem nos meandros de Hollywood e por seu muito dinheiro, resolveu ousar e criar o seu próprio testamento filmando a via crucis de Cristo. O filme é bom, mas a história, como todos sabemos, é de uma crueldade sem tamanho. Porém todas as cenas do filme ficam mais amenas se comparadas a do açoitamento na praça usando uma arma cheia de cravos nas pontas, que arrancam os pedaços da pele. De fazer doer só de olhar.
Depois de muita tortura psicológica e do cárcere privado, Annie Wilkes (Kathy Bates) resolve punir James Caan quebrando os seus tornozelos. Ela o amarra na cama, pega uma marreta e com uma cara de louca sem precedentes deixa todo mundo que assiste o filme agoniado. Baseado em uma história de Stephen King, o filme fala justamente dessa loucura extremada que alguns fãs sentem por seus ídolos. No caso, uma enfermeira louca e um escritor de muito sucesso. Horripilante.
J. J. (Jack Nicholson) é ameaçado com uma faca, que acaba por cortar o seu nariz. O filme é ótimo e visualmente perfeito. A cena é bem rápida e passaria despercebida se ninguém soubesse como qualquer coisa no nariz dói. Ao ver faca se aproximando do rosto de Jack Nicholson, pensamos que o corte vai ser como os muitos que vemos no cinema, até ela entrar na narina do coitado. Antes que pensemos: “ele não vai fazer isso”, ele já fez.
O braço de Harry (Jared Letho) precisa ser amputado. Um filme que trata sobre os vícios em suas mais variadas apresentações acaba tendo uma ou mais cenas gravadas na cabeça de quem o assiste. Réquiem é daqueles que chocou do começo até o final. Os vícios tratados nos filme vão desde a comida até a cocaína e acabamos percebendo que eles fazem parte da vida de qualquer pessoa. Depois de tudo dar errado, Letho, um viciado em cocaína que queria enriquecer com o vício dos outros, é preso e na cadeia descobre o real estado de seu braço. É uma visão péssima.
O teto da casa da mulher desaba e, em sua sala, estão centenas de ratos. Essa escolha é completamente pessoal. Eu morro de medo de ratos, não consigo ficar olhando para cenas que tem um só. Com animações costumava ser diferente. Eu assistia e não me incomodava muito. Isso até assistir à última animação vencedora do Oscar. Confesso que
já estava um pouco incomodada com o fato de um rato, que vira cozinheiro, passeando por uma cozinha, mas nada tinha me preparado para aquela queda do teto. Sei que quando ele caiu eu fiquei transtornada e só não saí do cinema porque estava com meu filho pequeno que queria muito ver o filme.
Só para esclarecer, no lugar da décima cena eu colocaria aquela de Cidade de Deus (Cidade de Deus), quando uma criança tem que escolher se levará um tiro no pé ou na mão. Mas a cena da animação da Disney quase me fez passar mal e, por isso, tomou o lugar da outra, que está aqui com uma menção honrosa.
Do mesmo jeito, depois de ler Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, acho que Fernando Meirelles deve ter filmado cenas bem bizarras e para lá de chocantes também. Antes mesmo do filme, já dá para dedicar uma outra menção, ou talvez um décimo primeiro lugar.