(Os Famosos e os Duendes da Morte, BRA/FRA, 2009)
Não existe momento da vida mais hermético do que a adolescência. Tudo, entre emoções, relações familiares e objetivo de vida, parece estar fora de lugar. A tristeza tem cara de intransponível e, em vários momentos, só mesmo a solidão faz sentido.
A sensação é comum a várias pessoas pelo mundo todo, mas pode ser ainda pior em uma cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, Vale do Rio Taquari, colonizada por alemães e mantida alheia ao Brasil.
É lá que se passa a história do filme Os Famosos e os Duendes da Morte, adaptação do livro homônimo de Ismael Canepelle, sobre um adolescente que sonha em se libertar daquele lugar e de todas as angústias que traz dentro de si, provocadas pela recente perda do pai, a falta de comunicação com a mãe, a obsessão pela namorada suicida, a indefinição sexual e a ausência de perspectivas.
De suas duas únicas opções, a internet e a ponte, ele prefere a primeira, onde escreve sobre suas dores, conhece novos mundos e conversa com outras pessoas que conseguem compreendê-lo; e não sabe muito bem o que pensar sobre a segunda.
Com uma fotografia fantástica, assinada por Mauro Pinheiro Jr., o filme mescla imagens, brincando com a profundidade do campo, a intensidade da luz e o posicionamento da câmera. A trilha sonora e a direção de arte complementam o ambiente. Com a atmosfera criada, é fácil viajar por aquela história tão triste e, ao mesmo tempo, curiosa.
O elenco, muito afinado com o diretor, sabe como mandar um recado, ainda que em silêncio. Henrique Larré dá vida ao jovem sem nome, que se auto-intitula Mr. Tambourine Man (por causa de Bob Dylan ou por sua falta de sono e ausência de lugar para ir, como diz a letra da música), e entre vários silêncios consegue dar a dimensão necessária a seu personagem. Áurea Baptista, também em uma atuação inspirada, vive a mãe do rapaz e sofre por ver que o vínculo entre eles está cada vez menor.
Ainda que cheio de qualidades, o filme peca em uma ou outra sequência longa demais, como a da festa junina que, apesar de ser tão representativa, não precisava durar tanto tempo, e na insistência em sonhos, uma vez que o filme já tem um visual quase etéreo e brinca bem com o presente e as lembranças.
Mas é uma grande experiência e reafirma o nome de Esmir Filho como uma das melhores surpresas do cinema nacional jovem.
Visualmente lindo, diferente, interessante e marcante o filme é indicado a todos, embora possa cansar alguns. Adolescentes talvez se identifiquem mais.
Um Grande Momento
Cruzando a ponte pela primeira vez.
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Drama
Direção: Esmir Filho
Elenco: Henrique Larré, Ismael Caneppele, Tuane Eggers, Samuel Reginatto, Áurea Baptista, Adriana Seiffert
Roteiro: Ismael Caneppele, Esmir Filho
Duração: 101 min.
Minha nota: 7/10