Péter Forgács ganha mostra no CCBB São Paulo

SÃO PAULO – O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo apresenta, de 15 a 26 de fevereiro de 2012, a mostra “Péter Forgács: Arquitetura da Memória”. A retrospectiva reúne alguns dos mais importantes títulos desse autor que, embora premiado nos festivais de São Francisco, Marselha e Leipzig, entre outros, é pouco conhecido pelo público brasileiro. No Brasil, os filmes de Forgács foram exibidos apenas no festival de documentários “É Tudo Verdade”.

Reconhecido internacionalmente pela criativa utilização de imagens de arquivo, de filmes caseiros e de registros amadores de meados do século 20, o cineasta e artista multimídia húngaro Péter Forgács recebe inédita retrospectiva no Brasil.

Sua obra é composta por mais de 30 filmes realizados a partir de 1978, com destaque para a série Private Hungary, feita a partir de filmes caseiros e found footages (filmes perdidos) realizados no período que compreende as décadas de 1920 e 1960. Entre os quinze filmes que compõem esta série estão The Bartos Family (1988), a saga de uma família dizimada pelo Holocausto registrada em filmes caseiros que começam no final dos anos 1920 e se estendem até meados da década de 1960; Free Fall (1996), reflexão dos tempos pré-Shoah a partir de filmes caseiros de um talentoso comerciante, músico e fotógrafo, György Petö; e Miss Universe 1929 (2006), a partir da história de uma húngara eleita Miss Universo nos Estados Unidos, acompanhamos uma jornada incomum na trajetória dos europeus em migração em meados do século 20.

Além dos filmes realizados a partir da compilação de material de família, um outro aspecto da obra de Forgács gira em torno filmes amadores realizados por personagens que, de alguma maneira, intuíram a urgência de registrar o tempo em que viveram. É possível ler nestas imagens intenções, dúvidas, suspeitas, rumores. E acima de tudo, que tão importante quanto a imagem em si, é todo o contexto que fica fora dela, mas que necessariamente surge num relâmpago, para então desaparecer deixando a marca indelével de sua presença. Entre esses filmes, destacam-se El Perro Negro: Stories from the Spanish Civil War (2005, vencedor nos festivais de Budapeste, Denver e no Tribeca de Nova York), Angelos’ Film (1999), sobre a ocupação nazista na Grécia; The Danube Exodus (1998), com registros da migração de judeus para a Palestina antes da Segunda Guerra Mundial.

Hunky Blues – The American Dream (2009) é um documentário poético sobre as centenas de milhares de húngaros que imigraram aos Estados Unidos entre 1890 e 1921. Para contar esta saga, Forgács lança mão de antigos épicos do cinema norte-americano, materiais de arquivo, fotografias e entrevistas.

Uma das maiores autoridades no campo do documentário e autor de “Introdução ao documentário” (Papirus Editora, 2007) e “Representing Realities” (1991, livro reconhecido como uma das pioneiras metodologias do estudo do filme documentário), o professor e pesquisador norte-americano Bill Nichols acompanha Forgács e a curadora do ciclo, Patricia Rebello, em encontros com o público previstos na programação.

Filmes selecionados

A Sós Com a Morte

2007 – 118 minutos – HDVCAM e DIGIBETA – Hungria

Exibição em DigibetaFilme de ficção baseado no livro homônimo de Péter Nádas. A percepção sensorial de uma jornada, de alguém olhando de dentro pra fora. A história gira em torno do dia de um ataque cardíaco, entre os limites de vida e morte.A Terra do Nada

Hungria Particular 9

1996 – 62 minutos – Vídeo – Hungria

Exibição em Beta SP

Com a visão histórica particular, um diário filmado muitas vezes contradiz a versão “oficial” contada pela “história pública”, e oferece um aspecto radicalmente diferente, emblemático ou mesmo banal dos fatos. São raras as oportunidades em que podemos contemplar o não-visto, como nesta crônica sobre a Segunda Guerra Mundial, através do diário de László Rátz, que nunca foi concebido para ser publicado.

Dusi & Jenö

Hungria Particular 2

1988 – 45 minutos – Vídeo – Hungria

Exibição em Beta SP

Jenö, que poderia ter sido o melhor fotógrafo do seu tempo – se não tivesse trabalhado até 1945 como funcionário sênior do Banco de Créditos General Mortgage –, filmou com uma câmera 8mm um diário secreto entre 1936 e 1966. Sua esposa Dusi não gostava tanto das filmagens quanto de seu daschhund: ela adorava o cachorro como se fosse seu próprio filho. Embora os protagonistas sejam Dusi e Jenö, é a própria cidade que tem um papel central na história do filme, fotografada com precisão sensual, mesmo em estado de sítio. É um filme poético que evoca uma impressionate atmosfera fúnebre do evanescente estilo de vida da classe média húngara dos anos 1930.

El Perro Negro – Histórias da Guerra Civil Espanhola

2005 – 84 minutos – Vídeo – Holanda

Exibição em Digibeta

El Perro Negro rompe os clichês em torno da Guerra Civil Espanhola por meio de uma colagem fascinante de imagens de acervo. O século 20 testemunhou uma vitalidade sem precedentes do espírito espanhol, mas também um forte e imprevisível conflito entre o velho e o novo, entre o norte desenvolvido e o sul feudal. O que levou o anarquista “Pedro el Cruel” a matar o cineasta Joan Salvans e seu pai? E por que o exército espanhol se rebelou contra a República em 1936? Ao buscar essas respostas, viajamos por esta caótica década na Espanha através de imagens e histórias de vários cineastas amadores e suas memórias, sob as perspectivas de republicanos, anarquistas, comunistas, e de estrangeiros britânicos, alemães, italianos e americanos que lutaram em ambos os lados.

Enquanto isso em algum lugar… 1940-1943

Da série Uma Guerra Desconhecida 5/3

1994 – 52 minutos – Vídeo – Hungria

Exibição em Beta SP

Em Enquanto isso em algum lugar, cenas íntimas, brutais, alegres, raras ou clandestinas de diversos filmes de família europeus são intercalados por um filme de ritual nazista, que registra uma punição à miscigenação de dois jovens namorados, um garoto alemão de 18 anos de idade, Georg-Gerhard, e uma garota polonesa de 17 anos, Marie, no vilarejo ocupado de Scinawa Nyska, na Polônia, em 1940. Como em uma composição poética, esse registro da punição, que consistia em uma humilhante raspagem da cabeça em público, serve como tema principal, sendo intercalado por mosaicos de imagens sugestivas das histórias de diversas famílias. O sádico ritual pretendia servir como uma lição performática do Nacionalismo Socialista para as crianças do vilarejo polaco-germânico.

E/Ou

Hungria Particular 3

1989 – 43 minutos – Vídeo – Hungria

Exibição em Beta SP

Sensual e inconsciente. Essas talvez sejam as melhores palavras para caracterizar esta obra, que pode ser definida como um “neo-ato falho freudiano” cinematográfico. Famílias burguesas da Hungria encontram proteção contra o horror do comunismo em suas esferas particulares; e o antigo drama humano, as depedências amorosas abafadas, os relacionamentos velados são captados pelos olhos dos espectadores. Na vida privada, tudo permanece igual quando os atores espontâneos não se dão conta do que estão atravessando.

Eu sou Von Höfler

Variação de Werther – Hungria Paricular 15

2008 – 160 minutos – DigiBeta – Hungria

Exibição em Beta SP

O processo de confecção de um filme, como de um painel, sobre a saga de 250 anos da família húngara von Höfler nos permite reviver a história. Qual seria o significante da narrativa? Trata-se de um lampejo, que não chega a ser notícia nem história oficial. E o que o olhar sobre o passado do protagonista, Tibor Höfler, projetou em seu futuro?

Hunky Blues – O Sonho Americano

2009 – 100 minutos – HD – Hungria

Exibição em Digibeta

Documentário poético que explora o destino de milhares de húngaros que imigraram para os Estados Unidos entre 1890 e 1921. Forgács teceu este grande épico a partir de filmes dos primórdios do cinema americano, imagens de acervo, fotografias e entrevistas. O filme revela os difíceis momentos da chegada, a integração e a assimilação, que eventualmente resultaram na felicidade de gerações posteriores e na realização do sonho americano.

Márai Herbal

Série interlúdio de FMS

1992 – 35 minutos – Vídeo – Hungria

Exibição em Digibeta

A partir de fragmentos da obra do escritor e jornalista húngaro Sándor Márai (1900-1989), Péter Forgács tece sete ensaios em vídeo onde as sutilezas da memória e a crônica do cotidiano ganham leitura renovada a partir de um diálogo com filmes de família encontrados em arquivos perdidos.

Miss Universo 1929

Lisl Goldarbeiter – uma Rainha em Viena

2006 – 70 minutos – Vídeo – Áustria, Hungria e Holanda

Exibição em Digibeta

O primo de Lisl Goldarbeiter, o cineasta amador Marci Tenczer, veio de Szeged. Ele estudou em Viena, e durante um tempo poupou o dinheiro do bonde para comprar câmera e filme e praticar, ocasionalmente, sua paixão pelo cinema. Através de suas lentes nos chega essa história doce e amarga da vida austro-húngara do século 20.

Os anos dourados tiveram fim quando a Alemanha de Hitler anexou a Áustria. Eles perderam tudo na Guerra, mas a aventura de sofrimento e de vida continuou…

O Filme de Angelo

1999 – 60 minutos – Vídeo – Holanda

Exibição em Beta SP

O Filme de Angelo é a história de um homem grego nos tempos da Segunda Guerra Mundial, em Atenas. Nos primeiros dias da ocupação nazista, Angelos Papanastassiou, o homem por trás da câmera, resolveu registrar e documentar o sofrimento de sua terra, a Grécia. Utilizando clandestinamente uma câmera 16mm, arriscando diariamente a sua vida e de sua família, ele filmou e documentou as atrocidades nazistas em Atenas durante toda a ocupação Ítalo-Germânica. Este filme foi composto a partir de um inigualável diário filmado durante os tempos de guerra em Atenas, oferecendo um novo olhar para o passado da Grécia, com música de Tibor Szemzö.

O Êxodo do Danúbio

1998 – 60 minutos – Vídeo – Holanda e Hungria

Exibição em Beta SP

No diário de viagem O Êxodo do Danúbio, Péter Forgács registra o êxodo dos judeus da Eslováquia pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Em dois barcos, um grupo de 900 judeus eslovacos e austríacos tenta alcançar o Mar Negro pelo rio Danúbio, e de lá seguir para a Palestina. Como base para este documentário, Forgács utilizou os filmes amadores de Nándor Andrásovits, capitão de um dos barcos.

O Turbilhão – Uma Crônica Familiar

1997 – 60 minutos – Vídeo – Holanda

Exibição em Beta SP

O filme faz um extraordinário e engenhoso uso de um acervo secreto de filmes de família, dos Peereboom, relizados na Holanda antes e durante a Segunda Guerra Mundial. As legendas situam os fatos e em lugar de uma narração, sons da época, em sua grande maioria emissões de rádio, atravessam de maneira pertubadora a trilha de jazz composta por Tibor Szemzö. O que vemos é uma família judia que, num primeiro momento, vive desavisadamente à sombra do Holocausto e, depois, tenta lidar com a situação, ainda sem saber o que ela de fato significa.

Queda Livre

Hungria Particular 10

1996 – 75 minutos – Vídeo – Holanda

Exibição em Beta SP

Queda Livre reflete os tempos antes do Shoah – o capítulo mais negro da Hungria do século 20 – com base em filmes de família do talentoso músico, fotógrafo e empresário György Petö, que filmou em 8mm a partir de 1938. Acompanhamos sua história descobrindo o que há por trás da sua felicidade, como ele suprimiu os sinais aterrorizantes e as evidências ameaçadoras dos massacres que estavam por vir.

Tractatus de Wittgenstein

7 parágrafos em vídeo

1992 – 35 minutos – Vídeo – Hungria

Exibição em Digibeta

Sete ensaios de curta-metragem sobre o Tratado Lógico-Filosófico de Wittgenstein; cada um dos ensaios está relacionado a uma das proposições do filósofo. Filmes caseiros da Europa no início do século 20 são acompanhados por narrações e textos do Tractatus, e por uma trilha sonora sombria e lírica. Cenas da vida burguesa são assombradas por presságios do futuro. Iluminando a disjunção entre linguagem e imagem, Péter Forgács criou uma abordagem simbólica das teorias de Wittgenstein sobre lógica, linguagem, realidade e representação.

Um Leitor de Bibó

Hungria Particular 132001 – 69 minutos – Vídeo – Hungria

Exibição em 35mm

Um Leitor de Bibó nos aproxima das conclusões eternas e cristalinas do maior pensador político húngaro do século 20. István Bibó, filósofo e ministro durante a Revolução Húngara de 1956, foi sentenciado à prisão perpétua, mas anistiado e posto em liberdade logo depois. Ele jamais abriu mão de sua fé na liberdade. As sensíveis interpretações das análises sociais e históricas de Bibó e os textos meditativos dão ritmo a essa visão cinematográfica ímpar a cada capítulo, oferecendo ao espectador uma experiência audiovisual especial e profunda.

Para mais informaçãos visite o site do evento.

SERVIÇO
Péter Forgács: Arquitetura da Memória
CCBB São Paulo
Rua Àlvares Penteado, 112 – centro CEP. 01012-000
Ingressos: R$ 4,00 (inteira) R$ 2,00 (meia)

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