(Quase Memória, BRA, 2015)
DramaDireção: Ruy Guerra
Elenco: Tony Ramos, João Miguel, Charles Fricks, Mariana Ximenes, Julio Adrião, Flávio Bauraqui, Candido Damm, Inês Peixoto, Augusto Madeira, Paulo Marcelo, Antônio Alves, Antônio Pedro, Thierry Tremouroux, Lorival Prudêncio, Thiago Justino, Luiz Felipe Mello, Ana Kutner
Roteiro: Carlos Heitor Cony (livro), Ruy Guerra
Duração: 95 min.
Nota: 7
Perdido no vasto pântano da memória um velho sapo conta a história de Carlos, um homem solitário que começa a se recordar do pai. As memórias vão surgindo aos poucos, demonstrando a personalidade daquele de quem sente tanta saudade e que tanto marcou a sua vida.
O longa-metragem Quase Memória é adaptado do livro homônimo de Carlos Heitor Cony, uma auto-biografia romanceada, lançada depois de um longo hiato de romances escritos pelo cronista. Ruy Guerra, além de assumir a figura do narrador, emprestando sua voz ao sapo, faz com que, diferente do livro, seu personagem principal tenha um encontro consigo mesmo. Nesse embate entre o Carlos de 1968, vivido por Charles Fricks, e o Carlos de 1994, por Tony Ramos, é que as lembranças do velho pai vão surgindo aos poucos.
A mistura de momentos temporais não se restringe ao encontro dos dois personagens, está em toda a narrativa, quando os tempos de seu pai, o velho Ernesto, bem interpretado por João Miguel, tomam forma e cores na tela.
Guerra opta pelo tom teatral, exagerado, farsesco e bastante colorido para trazer as memórias de volta, em um contraste muito interessante com o pântano de onde todas elas surgem. O contraste também está presente entre essa realidade e a daqueles dois homens que as vivem, em momentos diversos da vida.
Assim como o autor, o diretor faz questão de deixar clara a maleabilidade e a fragilidade das recordações, que mudam dependendo de quem as tem, de como são registradas ou do tempo que distancia aquele que se lembra daquele que é lembrado.
Embalado ao som de belas óperas, o longa-metragem vai envolvendo o espectador, que se diverte com as trapalhadas de Ernesto e seu grupo de estranhos amigos, e se angustia com as lacunas incompletas dessa figura traiçoeira que é a memória.
Essa relação é conseguida de maneira sutil pelo diretor, sem forçar situações ou manipular sentimentos e contando muito com competentes atuações em todas as fases retratadas. Além de participações inspiradas de João Miguel, Antonio Pedro e Julio Adrião, devidamente bem acima do tom para criar o clima do passado; os embates entre Tony Ramos, em uma atuação excepcional, e Charles Fricks são sensacionais.
A fotografia de Pablo Baião, a direção de arte de Marcus Figueroa e a montagem de Rodrigo Lima também merecem um destaque especial.
Quase Memória é um daqueles filmes que conversa de verdade com quem o assiste e que fica na cabeça por algum tempo depois da projeção. Trazendo um monte de sentimentos e lembranças que poderiam estar escondidos até então.
Um Grande Momento:
O final.
Links
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