Sergio

(Sergio, EUA, 2020)
Drama
Direção: Greg Barker
Elenco: Wagner Moura, Ana de Armas, Brían F. O’Byrne, Garret Dillahunt, Clemens Schick, Will Dalton
Roteiro: Craig Borten
Duração: 118 min.
Nota: 4

Greg Barker, há 11 anos, acrescentou a sua lista célebre de documentários um retrato sobre o brasileiro Sergio Vieira de Mello e a tragédia que se abateu sobre o diplomata que trabalhava como comissário da ONU para assuntos humanitários, alvo de um atentado a bomba na sede da Organização no Iraque. Seguindo os preceitos cinematográficos de ficcionalizar toda história real que seja minimamente emocionante e/ou intensa, o próprio Barker resolve enfim estrear na ficção com Sergio, recém exibido no Festival de Sundance. Com uma carga de tensão política que o torna de fácil abordagem cinematográfica, o longa parece ter ido parar em mãos suficientemente hábeis para o trabalho.

Infelizmente essa estrutura dramática não suscita novidades. Tirando a ilusão de que toda a narrativa se desenrola a partir dos delírios e memórias do protagonista, o que permite a confusão de tempos, lugares, momentos, que se embolam e se complementam no grande mosaico da vida do mesmo, o que temos aqui é um típico estudo biográfico hollywoodiano, bem produzido, com impressionante direção de arte, mas que afora as belas imagens captadas, não consegue traduzir o mais importante, que é o mergulho no todo. Nem a tensão necessária chega ao nível que se espera de uma produção cujo clímax é um atentado terrorista, nem o desenho de personagem tem o relevo que Sergio merecia.

Um dos calcanhares de Aquiles de Sergio, a ficção, é justamente Sergio, o documentário. Algo crucial temos apenas na versão de 2009 dessa história, que é a real dimensão do Homem vestido de herói mitificado pela morte. Temos acesso do lugar onde residia o fascínio do diplomata, que o fez ser admirado e respeitado pelo mundo inteiro, de George W. Bush a genocidas de outras esferas. A retórica de Sergio, suas capacidades como mediador, todas as características que foram preponderantes para colocá-lo no lugar que ele ocupou são qualidades presentes no corpo de Wagner Moura, mas que o filme não desenvolve, tanto em roteiro quanto na criação de suas imagens. O personagem tem menos interior do que deveria apresentar.

O filme acaba sobrevivendo graças a elementos que passam ao largo de construção dramática. A luz de Adrian Teijido (O Palhaço) é um exemplo de como comunicar emoção de maneira independente, como nas cenas entre Sergio e Carolina onde ele finalmente aceita ficar com ela; são passagens que contribuem pro mosaico do casal, mas nunca do indivíduo. Toda a competência de Wagner é desperdiçada em um projeto que não lhe fornece respaldo para pleno desenvolvimento. Quem consegue evoluir bem melhor é a estrela ascendente Ana de Armas (Entre Facas e Segredos), que desenvolve as entrelinhas de sua personagem na sutileza, com fogo nos olhos e genuína emoção.

A escolha de clássicos como ‘As Rosas não Falam’ e ‘Oração ao Tempo’ (na voz de Caetano Veloso) para embalar o longa é outro dado emocional que sai do exterior narrativo para emoldurar uma produção que não consegue deliberadamente criar isso através de decisões narrativas. Na ânsia de acertar nessa estreia ficcional, Barker não ousa e apenas retifica tiques do gênero. Vazios e sem consequências aparentes que justifiquem suas reverberações, os encontros políticos do protagonista parecem apenas cumprir tabela para ilustrar uma vida que girou em torno do tema. Falta estofo narrativo ao roteiro de Craig Borten (responsável por linhas ainda mais desastrosas como as de Os 33 e Clube de Compras Dallas), que parece só enfileirar ações.

Sergio acaba por se mostrar um filme de fagulhas. O encontro com os filhos na casa da mãe, o plano da explosão no rosto de Wagner, as sequências que conversam entre si na imaginação do personagem título, a química entre Wagner e Ana, o passeio pelo Timor-Leste. São momentos breves que mostram o potencial perdido e como um projeto tão tragado pela máquina de moer pode transformar um homem como Sergio Vieira de Mello em alguém com nada de especial.

Um Grande Momento:
Sergio e Senhorinha.

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