Ficção científica
Direção: Federico D’Alessandro
Elenco: Maika Monroe, Ed Skrein, Gary Oldman, Fiston Barek, Ivana Zivkovic
Roteiro: Noga Landau
Duração: 97 min.
Nota: 2
Em sua vontade de dominar os nichos da produção e distribuição cinematográfica, a antes plataforma de streaming e atual gigante do mercado audiovisual Netflix tem atirado para todos os lados. Porém, entre tudo que recebe o selo (e aquele tan-dan particular na tela branca quando se aperta o play), é possível notar um certo apego à ficção científica.
Ainda que procure abarcar todos os gêneros e até dê algum destaque às produções documentais, o número de ficções científicas e fantasias tem se tornado cada vez maior. Como boa capitalista que é, isso está obviamente ligado à mudança de comportamento de seu público, que, segundo análise da Ampere Analysis*, hoje prefere os dois gêneros. Resultado: quase 30% das novas estreias da plataforma são fantasias ou ficções científicas.
Porém, o grande número não é sinônimo de qualidade. Destacando o ambiente dos seriados e lembrando dois títulos que podem ter contribuído com essa mudanças de comportamento do público, se Stranger Things chamou a atenção e Black Mirror conseguiu se manter depois da aquisição da série em sua terceira temporada, o mesmo não pode ser dito de outros projetos, como The OA, Alterated Carbon ou mesmo Sense8.
No universo dos filmes, a coisa é ainda mais complicada. Que o digam O Paradoxo Cloverfield, Aniquilação, Bright, A Descoberta, iBoy, Onde Está Segunda? e Anon. E TAU pode entrar facilmente nesse bolo. Distribuído pela Netflix, o primeiro longa de Federico D’Alessandro, reconhecido diretor de arte, conta a história de uma ladra que é sequestrada e acorda em uma cela, com um chip implantado na nuca e sessões de tortura que a fazem ficar revendo imagens de sua vida fracassa.
Depois de uma colorida e fraca apresentação da protagonista, Julia, o filme torna-se cinza e azul em uma representação bastante óbvia do aprisionamento. O ambiente quase monocromático ainda destaca a irregularidade das atuações entre os três companheiros de cela e de seu algoz, o cientista maluco e muito acima do tom Alex.
Mas isso vai até que a protagonista consiga arranjar um jeito – pra lá de risível – de fugir daquele lugar. A partir daí, TAU vira outro filme. Obviamente que, para que não haja dúvidas disso, escolhe-se uma outra cor, algo ali entre o marrom e o vermelho. A constatação da diferença entre atuações também dá espaço para uma maior dedicação à construção do espaço cênico e para a fraca reviravolta do roteiro, de Noga Landau. O filme de cativeiro vira quase uma história de descoberta e amor entre a protagonista e o sistema operacional que comanda a casa onde ela está.
Diferente do primo mais velho de TAU, Hal 9000, ou da prima recente, Ela, mesmo que conte com a voz de Gary Oldman, falta qualidade na determinação da persona daquele ser virtual e há muita facilidade na construção da interação com Julia. O que se vê é uma sucessão de eventos pouco envolventes que culmina em uma conclusão bem além do aceitável.
Se há acertos na direção de fotografia, no desenho de produção e nas possibilidades visuais permitidas para uma tentativa de aproximação com um ser que é só voz, assim como toda a preocupação com a criação de um ambiente futurista e de efeitos especiais dedicados, falta uma atenção à história, que muito mais afasta do que interessa.
No fim das contas, TAU é um filme que não chega lá e acaba sucumbindo ao humor involuntário. Não é de se estranhar que a fascinação da ciência e suas possibilidades, cada vez mais, chame a atenção do público, porém é preciso um pouco mais de empenho para criar algo que realmente funcione. Tomara que a Netflix algum dia encontre este tipo de produção.
Um Grande Momento:
Tem não.
Links
* Fonte: https://bit.ly/2wk2xez