(Tropykaos, BRA, 2015)
ComédiaDireção: Daniel Lisboa
Elenco: Gabriel Pardal, Manu Santiago, Dellani Lima, Edgard Navarro, Bertrand Duarte, Fabrício Boliveira
Roteiro: Daniel Lisboa, Guilherme Sarmiento
Duração: 82 min.
Nota: 5
Poucos são aqueles que não entendem o desespero do calor escaldante. Não há alívio, nem nada que pode ser feito, a não ser esperar passar. O que é normal – ainda que indesejado – para qualquer pessoa, atinge outros níveis de desespero no caso de Guima.
O poeta já não consegue sequer pensar, quanto mais escrever. O calor que sente vem do sol, mas vem de dentro dele também. E é tentando resolver, que passa os dias vagando por Salvador, parando nos ares condicionados das megastores, dando entrada em hospitais para entender o que acontece e trancando-se em seu minúsculo apartamento com janelas cobertas por papel pardo e com um ar condicionado velho que funciona sem parar.
Tropykaos começa de uma maneira muito interessante, ao trazer o desconforto de seu personagem principal para o espectador. A angústia daquele que é visto se concretiza. Aprofundando-se na trama, também há alguma coisa de curiosa no longa-metragem do baiano Daniel Lisboa.
Aquele calor de Guima, vivido por Gabriel Pardal, pode ser muitas coisas, as palavras que deixaram de ser escritas, a sensação de não-pertencimento, a dependência. São muitas questões, muitos caminhos que seguem uma estética curiosa e uma construção potencialmente interessante, mas de um filme que não consegue chegar muito longe.
Ambientado na capital baiana, o filme traz muito da cidade para dentro de si, e talvez seja visto com outros olhos por quem a conheça melhor. Lisboa tenta entremear a jornada de seu “herói” com o dia-a-dia, a correria, o calor, a praia, a capoeira e tantas outras caracterizações do lugar. E é aí que talvez esteja o que de mais interessante poderia ter vindo com o filme, o não-pertencimento já citado. Guima não se sente parte daquilo tudo que o cerca, mas o caminho não é explorado como deveria.
A sensação constante, após os primeiros 20 minutos de filme, é a de que o diretor não sabe mais o que fazer com o material que tem em mãos, percebe-se uma admiração pelo cinema marginal aqui, outra inferência de filmes pop ali, mas nada que se concretize verdadeiramente.
E Tropykaos vira uma espécie de repetição perdida no único caminho que pode levar ao final já antecipado por todos. Como uma piada que vai perdendo a graça a medida que o contador vai demonstrando a distância da conclusão. Nem mesmo participações como as de Fabrício Boliveira, Dellani Lima e Edgard Navarro conseguem minimizar o problema.
Um filme que poderia ser muito mais interessante se realmente se dedicasse ao seu tema e tivesse conteúdo para contar mais de 80 minutos de história. Talvez como curta-metragem, chegasse muito mais longe.
Um Grande Momento:
O começo.
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