Durante cinco dias mulheres de todo o Brasil foram o destaque na tela da praça central de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. Mas não era apenas na tela que a presença feminina se fortalecia: rodas de conversa, oficina de roteiro e uma convivência intensa fizeram com que novas ideias, parcerias e consciência se estabelecessem. Depois de um hiato de oito anos, o festival Tudo Sobre Mulheres – Festival de Cinema Feminino de Chapada dos Guimarães volta e, depois de tratar de um tema pelo qual ninguém se interessava muito em meados dos anos 2000, encontra no agora o momento perfeito para seu retorno.
Momento este que Danielle Bertolini, diretora do festival, ajudou a construir justamente com o evento. A importância de se olhar para a representação, de encontrar olhares e imagens construídas ou transmitidas das mulheres, era uma semente para toda essa nova consciência e tomada de espaço que se vê hoje. Além das telas, as mulheres foram encontrando seu espaço nos sets de filmagem, na gestão, na crítica e em todo o audiovisual.
A nova cara do cinema feminino esteve representada naquela tela, nos 32 curtas selecionados, sendo 21 deles dirigidos exclusivamente por mulheres, quatro codirigidos com homens e sete dirigidos por homens. Ao serem projetadas, histórias de mulheres reais e imaginárias, trouxeram, cada uma a seu modo, um pouco do que é ser mulher num mundo que diferencia e exclui. Em seu recorte, o festival construiu um mosaico da diversidade, de origens, raças, classes, nomes e lugares, do Brasil.
A diversidade de histórias contadas pode ser percebida, apesar da pouca variedade regional, nas escolhas do júri oficial, composto por Maria Ceiça, Julia Katharine, Vera Zaverucha, Juliana Segóvia, Amauri Tangará e Leonardo Esteves, ao premiar narrativas que tratam de questões como identidade de gênero, exclusão social, racismo, empoderamento, falta de perspectivas, superação e enfrentamento. Resgates históricos, fundamentais para a construção de um novo futuro, também estão entre os vencedores.
Confira a lista completa:
Melhor Filme: Embaraço, de Mirtes Agda Santana
Menção Honrosa: Tetê, de Clara Lazarim
Melhor Curta: Peripatético, de Jessica Queiroz
Melhor Média: Estamos Todos Aqui, de Rafael Mellim E Chico Santos
Melhor Documentário: Tia Ciata, de Mariana Campos e Raquel Beatriz
Melhor Filme CONNE: Simbiose, de Julia Amorim
Melhor Filme FAMES: Divina Luz, de Ricardo Sá
Melhor Filme RJ/SP: Demônia – Melodrama em Três Atos, de Fernanda Chicolet e Cainan Baladez
Melhor Filme Universitário: A Gente Nasce Só de Mãe, de Caru Roelis
Prêmio Aquisição Elo Company: Embaraço, de Mirtes Agda Santana
Melhor Atriz: Ana Flavia Cavalcanti, por Rainha
Melhor Direção: Carla Saavedra Brychcy, por O Espírito do Bosque
O encerramento do VI Tudo Sobre Mulheres contou ainda com a apresentação de As Boa Maneiras, como parte da homenagem à produtora Sara Silveira. O longa, de Juliana Rojas e Marco Dutra, encontra no terror fantástico sua metáfora para a maternidade e várias outras questões sociais.
Foram dias de muitos encontros e trocas de experiências. Entre filmes e falas, as várias atividades encontraram o reconhecimento, a identificação, o incentivo e a noção de o quanto a união é importante para que se ocupe espaços e neles se permaneça. Após sua pausa, que o Tudo Sobre Mulheres volte de vez e se fortaleça mais e mais a cada ano. É um festival fundamental!