Drama
Direção: Abbas Fahdel
Elenco: Michelle Wehbe, Elias Freifer, Mary Alkady, Elias Alkady, Charbel Alkady
Roteiro: Abbas Fahdel
Duração: 101 min.
Nota: 7
Yara, novo filme de Abbas Fahdel, traz uma história congelada no tempo. Entre os paredões do belíssimo Vale do Kadisha, a jovem protagonista vive isolada com sua avó. Conversas e trabalhos cotidianos só são interrompidos por visitas esporádicas do homem que entrega mantimentos e de um outro que vem para ajudar em manutenções esporádicas. A única coisa que quebra o marasmo dessa existência é a aparição de Elias.
Em seu conto de amor, Fahdel faz questão de marcar essa noção de presente. Tudo é construído de forma a não ser possível precisar o passado da personagem principal. Quando ela chegou? Há quanto tempo está ali? Alguns detalhes sugerem que há pouco, com a primeira conversa com a avó ou o jeito como ela se veste. Do mesmo modo, não se pode ter ideia de qual será seu futuro. Haverá um futuro? Yara está presa entre as montanhas rochosas do Líbano.
O bucólico domina o filme, a câmera do diretor, que também assina a fotografia, roteiro e montagem, se atém à observação da natureza, dos animais. Cada novo detalhe tem tempo para se mostrar e transmite a quem assiste ao filme o definir da vida daquelas pessoas. O sentir-se naquele lugar pode ser belo e maçante, tranquilo e enervantemente invariável.
Para mudar isso, entra o retrato do amor juvenil: a agitação do se encontrar no outro, do se descobrir diferente e motivado para os novos dias, para uma nova descoberta de um lugar minuciosamente conhecido. É interessante descobrir o amor como uma espécie de ilha no meio desta cidade fantasma, assim como a vida no Vale do Kadish é uma espécie de ilha no meio da realidade do Líbano.
É muito bonito o modo como essa história é construída num local onde casas estão abandonadas pela morte ou fuga de seus antigos moradores, onde a escola e a igreja do local não têm mais qualquer função social. Ora a presença do casal é engrandecida na constatação das ausências, ora é o vazio que ganha destaque frente aos dois.
O passado de abandono e ausência, do local e também das personagens, se encontra na revelação final de Elias e nas repetições conhecidas que a sucedem. Há uma consciência do que foi, principalmente na saudade, e da efemeridade. “Agora é como se nunca tivesse existido”, fala a avó sobre o pai de Yara, antes de falar que escondeu todas as fotografias do passado. O descobrir Yara no vale, a conversa e o desfecho reafirmam que não há como se encontrar algo em qualquer outro tempo que não seja o agora. Não pela ausência de um futuro, mas pela imutabilidade do que existe.
Um Grande Momento:
A conversa sobre o pai.
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